“Os investidores subestimaram a força do crescimento na Europa”, defende o gestor do BlueBay Investment Grade Euro Aggregate Bond Fund.
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A situação macroeconómica dos diferentes países que compõem a União Europeia evoluiu muito desde a grande crise de dívida de 2012, mas, na opinião de Kaspar Hense, partner e portfolio manager da RBC BlueBay AM, as obrigações de governo ainda não refletem essa mudança. “As obrigações de governo ibéricas devem negociar mais perto das de países como França”, defende o gestor da equipa do BlueBay Investment Grade Euro Aggregate Bond Fund.
No fundo, com Rating FundsPeople em 2024, estão sobreponderados em dívida de países como Espanha e Grécia, enquanto têm uma subponderação noutros como França, que, na semana passada, registou uma descida de rating. “A política de controlo dos preços da energia em Espanha tem dado os seus frutos, visto que a inflação não foi tão elevada como em países vizinhos”, aponta o gestor. “Embora haja algumas tensões políticas, estas são muito menores em comparação com outras regiões. Contudo, a tendência do crescimento e a dívida nominal da Península Ibérica são mais favoráveis”.
Por fundamentais, para a equipa gestora, as obrigações de governo portuguesas são atrativas do ponto de vista fundamental, mas acreditam que já negociam a um preço justo. Pelo contrário, preocupa-lhes o impacto geopolítico da vitória de Trump nos países da Europa do Leste. Venderam a sua exposição a esta região porque preveem uma maior pressão para que a Ucrânia chegue a um acordo com a Rússia caso se realizem as previsões da equipa gestora para as eleições americanas.
Um ciclo de cortes de taxas menos agressivo
Um ciclo de endurecimento monetário histórico pode ser seguido de um ciclo de cortes de taxas igualmente atípico. Na opinião de Kaspar, o BCE não poderá baixar tanto as taxas como o mercado desconta atualmente. O motivo: na verdade, a economia europeia não está tão débil como o mercado acredita. “Os investidores subestimaram a força do crescimento na Europa”, defende.
Da mesma forma, Kaspar Hense defendia em fevereiro que o BCE poderia não baixar as taxas até, pelo menos, junho, quando o consenso apontava para maio, e agora continua a defender que os cortes previstos são demasiados. O gestor prevê apenas duas descidas de taxas para este ano - uma delas já se materializou - e outras duas em 2025. “Na verdade, a Europa tem o luxo de ter uma margem de conforto para poder baixar as taxas, mas certamente não de forma tão fluida como em ciclos anteriores”, insiste.
Uma Europa mais forte: crescimento e inflação
O gestor cita duas razões. Em primeiro lugar, o gestor acredita que a economia europeia vai surpreender pela positiva este ano. “Acreditamos que o PIB da Europa vai situar-se acima da sua tendência, superior a 1% em 2024”, afirma. E são dois os seus argumentos: os números de rendimentos disponíveis na Europa voltaram ao terreno positivo, e após as eleições europeias, a despesa fiscal vai voltar a ser um impulso.
Em segundo lugar, a inflação vai ser mais estrutural do que no ciclo anterior. As perspetivas da equipa da BlueBay AM é que a inflação na União Europeia vai estar próxima dos 2,5%, tanto neste ano como no seguinte. “Está muito ligada com a solidez da economia europeia. Se o desemprego diminuir como temos previsto, tal poderá gerar alguma pressão salarial, embora não de forma descontrolada”, explica.
Análise das eleições europeias
Os preços têm dominado o discurso macroeconómico e geopolítico há quase quatro anos, e a previsão de Kaspar Hense é que ainda vai continuar fazê-lo durante algum tempo. De facto, a inflação está a ser um foco-chave nas preocupações da população europeia. Temas como a segurança e os preços são dois elementos-chave para a satisfação dos eleitores”, analisa o gestor.
Das sondagens que têm sido divulgadas antes das eleições europeias, Hense faz duas leituras. Em primeiro lugar, o panorama político está mais fragmentado. “E os dados dizem-nos que, contrariamente ao que possa parecer, o bipartidarismo é um sinal de uma população mais satisfeita. Quando há descontentamento social, surgem os partidos mais independentes”, explica. Em segundo lugar, o viés dos partidos mais extremistas mudou. “Observamo-lo em perfis como os de Le Pen e Meloni. Os seus líderes são menos pró-Putin e mais pró-Europa, o que, no fundo, é algo positivo”, explica.