Leilão de dívida pública de curto prazo com redução de taxas: spread da periferia poderá continuar a descer?

Assembleia Portugal República
Flickr

Num novo leilão de dívida de curto prazo esta quarta-feira, Portugal emitiu 1.750 milhões de euros em dívida de curto prazo, 500 milhões de euros em bilhetes do tesouro a 6 meses e 1.250 milhões de euros a 12 meses, a taxas que desceram face ao último leilão comparável. Nos 6 meses, dos -0,411% para os -0,467% e nos 12 meses, dos -0,351% para os -0,452%.

Para Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, "o mercado de dívida tem estado suportado pelas sucessivas intervenções que os bancos centrais têm feito, e as medidas que têm vindo a ser sucessivamente anunciadas, quer fiscais, quer monetárias, vêm no sentido de apoiar a economia e permitir dar tempo às empresas e países para retomarem a atividade e evitar uma severa recessão". Segundo o especialista, "isto tem levado a uma procura por taxa em todas as maturidades", com um efeito "visível no spread que Portugal tem versus a Alemanha, que depois de atingir o pico em março, de 171,36 pontos base, baixou para os atuais 85,67. Esta redução de risco tem permitido emitir dívida de curto prazo com taxas negativas e que acaba por ser benéfico para o país”, comenta.

Sobre a classe de ativos de dívida pública

Sobre a dívida pública como classe de ativos, e especificamente a dívida de países periféricos europeus, João Lampreia, Chief Investment Strategist no BiG comentava recentemente que "as yields não deverão subir de forma muito agressiva, mesmo perante o volume recorde de emissões face à intervenção decisiva dos Bancos Centrais. Nos EUA, já se materializou um repricing significativo das expectativas de inflação e com o FED a afastar qualquer possibilidade de subir taxas de juro, pelo menos até 2022, a curva já inclinou de forma significativa em particular nas maturidades 5Y-30Y (110 p.b.), sendo que a curva alemã poderá seguir “um pouco” esta trajetória. Já na periferia europeia subsiste espaço de compressão de spreads face às Bunds (sobretudo em Itália), ainda para mais com o precedente criado com a emissão de dívida comum subjacente ao Plano de Recuperação Europeu."

Francisco Falcão, diretor-geral da HawkClaw Capital mostra-se de acordo, realçando num artigo de opinião publicado na FundsPeople que "o suporte dos bancos centrais através de inúmeros programas de apoio deverá manter os spreads de crédito e as yields governamentais em baixa, continuando a beneficiar os investidores da classe obrigacionista".