Leilão desta quarta-feira: dias contados para o período de bonança?

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Créditos: Rohit Tandon (Unsplash)

“Ainda é positivo para o rollover da dívida nacional conseguirmos emitir com taxas negativas, no entanto este período de bonança parece começar a ter os seus dias contados.” Quem o diz é Filipe Silva, diretor de Investimentos no Banco Carregosa, no seguimento do leilão de bilhetes do Tesouro desta quarta-feira. Foram colocados 1.750 milhões de euros, dos quais 500 milhões de euros em dívida a seis meses e 1.250 milhões de euros a 12 meses. 

Como o comentário do profissional indica, as condições foram ainda favoráveis, apesar de refletirem o tom relativamente hawkish de Cristine Lagarde na conferência de imprensa depois da mais recente reunião do Banco Central Europeu. “O mercado de dívida ajustou-se, sendo que o movimento acabou por ser mais sentido na dívida de longo prazo, no entanto as taxas de curto prazo também acabam por ter um movimento semelhante, mas com dimensões diferentes”, diz. No leilão desta quarta-feira, as taxas subiram ligeiramente face ao mais recente leilão comparável, cifrando-se nos -0,571 no prazo mais curto e -0,467 no prazo mais longo (em comparação com os -0,596% e -0,574% anteriores, respetivamente). 

Wolfgang Bauer, gestor da equipa de obrigações da M&G Investments comentava recentemente, acerca do papel do BCE, que “tentar estabilizar os mercados e ao mesmo tempo conter a inflação, representa um conflito de objetivos”, mas ao qual, “no fim das contas, temos de ceder”. Na sua opinião, se o BCE avançar com a aceleração da redução das compras de ativos, “os investidores poderão em breve encontrar-se num novo ambiente de mercado em que os bancos centrais deixem de proporcionar uma rede de segurança”.

Abrandamento económico

O tom de Christine Lagarde pareceu para muitos especialistas demasiado hawkish perante as expetativas do impacto da guerra no leste da Europa no crescimento económico. “Não esperamos ver uma recessão, mas o risco de isso ocorrer na Europa está a aumentar devido à crescente pressão inflacionista numa altura em que o BCE planeia reduzir o seu quantitative easing”, afirmava Vincent Mortier, diretor de Investimentos da Amundi“Se os preços da energia continuarem tão altos, poderão causar um abrandamento significativo do crescimento, especialmente na Europa”, comentam também da J.P.Morgan AM.

Neste sentido, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não ajuda. Stéphane Déo, responsável de Estratégias de Mercados da Ostrum AM, filial da Natixis Investment Managers, acredita que “a crise ucraniana é um grande choque para o crescimento”. Na sua opinião, dado o risco crescente que o conflito ucraniano representa para o crescimento, é urgente esperar.