Com vista a um merecido descanso nestes meses, pedimos às gestoras internacionais algumas propostas de livros. Em seguida, e sem nenhuma ordem em particular, mostramos os livros não relacionados com finanças, economia ou mercados que nos recomendam os profissionais da indústria de fundos. Também nos deram boas ideias de leituras económicas, que poderá encontrar neste breve artigo.
Leituras para o verão 2022 (II): livros não económicos recomendados pelas gestoras
Nem tudo na vida são mercados. Sabe-o bem Javier Ruiz Villabre, responsável da Flossbach von Storch para Portugal e Espanha. "Qualquer pessoa que esteja relacionada, de forma próxima ou não, com os mercados financeiros nestes últimos meses tem estado submersa num redemoinho de informação sobre as mais variadas crises, simultâneas ou encadeadas. É por isso é que o meu conselho é afastar-se disso", insiste. E tem três ferramentas para o fazer:
- Um clássico que creio ter recomendado em crises passadas. “La prémière gorgé de bierre”, de Philippe Delerm, pode ajudar. El primer trago de cerveza não é mais do que uma coleção de textos sobre os pequenos prazeres da vida.
- Outra alternativa é o El don de la siesta de Miguel Angel Hérnandez. Um livro pequeno inteiramente dedicado... à sesta.
- Finalmente, sempre nos podemos escapar a Corfu com Gerard Durrell e a sua família e submergirmos no A Minha família e outros animais ou Bichos e restantes parentes.
E outro conselho grátis: "Desfrutem do verão e voltem com vontade, pois este contexto continuará".
1/8Tendo em conta os debates atuais, com a escassez de energia e os seus elevados preços como consequências do conflito Rússia-Ucrânia como pano de fundo, a Bruno Patain, responsável para Portugal e Espanha da Eurizon, veio-lhe à mente um livro de ficção científica que relata o final de uma civilização muito avançada e robotizada no ano de 2052 em França: Destruição (Ravage em francês), de René Barjavel.
De forma repentina e sem aparente explicação, desaparece a eletricidade deixando a sociedade assolada e inutilizada. É neste momento que reina o caos, e o ser humano, que tinha perdido o contacto com o mundo real e a natureza, tem que redescobrir as formas mais básicas de vida, adaptando-se a esta nova circunstância que o obriga a levar uma vida mais simples e a trabalhar a terra com as mãos.
"Com uma pitada significativa de humor e antecipando-se à possível hipótese de averiguar até que ponto podemos tornar-nos totalmente dependentes da modernidade e das facilidades que esta nos oferece, o autor convida-nos a refletir sobre a relevância que implica não perder o contacto com a natureza e tentar manter um conhecimento mínimo sobre os ecossistemas, agricultura, etc.", conta Patain.
Na linha da literatura francesa e da reflexão sobre o funcionamento da sociedade está o livro que nos traz Sébastien Senegas, responsável para a Península Ibérica e América Latina da Edmond de Rothschild AM. Destaca A anomalia de Hervé Le Tellier. A obra recebeu o Prémio Goncourt 2020.
Dizem que temos quase 50% de probabilidade de viver num mundo virtual, que teria sido criado por uma civilização muito avançada... esta novela conta história de centenas de passageiros de um avião Paris-Nova Iorque que vivem algo verdadeiramente inexplicável e que vai desatar uma crise política, mediática e científica. "Adorei! É diferente e extraordinariamente divertido!", assegura Senegas.
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Um leitor acérrimo como é Mario González, co-diretor de desenvolvimento de negócio da Capital Group para a Península Ibérica, sempre nos oferece alguma perspetiva sobre leitura espanhola. Este ano recomenda Sobre nosotras. Sobre nada. Uma novela escrita a quatro mãos pelas jornalistas e também amigas, Rosa Belmonte e Emilia Landaluce. "Cheia de histórias tão tradicionais quanto hilariantes que vos vão por com um sorriso na cara. Uma boa opção para este verão", assegura.
Falando de colaboradores clássicos, Jim Leaviss, diretor de Investimentos de Obrigações Públicas da M&G, também costuma dar-nos a conhecer uma personagem fascinante a cada ano. Este verão destaca From Manchester With Love: The Life and Opinions of Tony Wilson, de Paul Morley. "Tony Wilson é um dos meus heróis: mudou a música pop para sempre com grupos como Joy Division, New Order e Happy Mondays".
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A leitura também nos pode servir de guia para um pouco de introspeção. Nessa linha está o livro que nos comenta Gonzalo Alonso, diretor de Vendas para a Península Ibérica da MFS Invesment Management: Atomic habits, de James Clear. Se sabemos que as coisas estão mal porque as continuamos a fazer? E porque não fazemos as coisas que sabemos que estão bem? A resposta é simples: temos hábitos errados. "Este livro mostra que as mudanças significativas que queremos fazer na nossa vida dependem mais da criação de pequenos hábitos do que de estabelecer objetivos inalcançáveis. Não é um acumulado de ideias, mas sim um guia claro que aumentará a sua produtividade e melhorará a vida quotidiana", afirma Gonzalo Alonso.
Nessa mesma linha, Antonio Losada, executive director na Goldman Sachs AM, fala-nos de The beginning of infinity, de David Deutsch. "Um livro que trata sobre a capacidade do ser humano de encontrar explicações sobre o mundo físico e sobre a experiência da realidade, e como aproveitá-las para fomentar o progresso", conta.
Na linha de exprimir o potencial das pessoas está a proposta de André Themudo, responsável de negócio e distribuição e gestoras de fundos na BlackRock para a Península Ibérica: Turn a ship around!, de L. David Marquet (antigo capitão de submarinos nucleares). Esta novela conta a história de como o capitão David Marquet foi capaz de transformar o submarino nuclear USS Santa Fé, que era o de pior rendimento de toda a frota, numa nave estrela para a armada norte-americana. "O relato apresenta um enfoque diferente - e interessante - da liderança exercida por Marquet nesse processo de transformação que bem poderia extrapolar-se a qualquer organização que queira aproveitar ao máximo o potencial das pessoas que a compõem", conta Themudo.
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Uma proposta mais atípica mas igualmente interessante. Gabriela Luzzi, marketing manager para a Península Ibérica/Latam e US offshore da abrdn, tem uma proposta tanto para quem está a pensar em ampliar a família, como para quem quer perceber mais de bebés. Kiss me, de Carlos González, é um livro que sem pretender ser um decálogo de normas nem uma recompilação exaustiva de estudos, explica num estilo pedagógico, mas com base científica, porque é que os bebés se comportam de uma determinada maneira, com o fim de ajudar sobretudo os pais de primeira viagem. "Sem ter de concordar com necessariamente tudo o que diz, nele é possível encontrar pautas e ideias sobre como criar os filhos com amor", assegura Luzzi.
Outra opção para ter conversas interessantes com os filhos é El cambio climatico explicado a mi hja, de Jean Marc Jancovici. Fala-nos deste livro Coline Pavot, responsável de investigação de Investimento Responsável da La Financiére de l'Echiquier. "Um livro que permite entender de forma muito simples e didática as mudanças climáticas e o seu funcionamento. Ensina a entrar neste problema complexo, que deve ser tomado por todos, especialmente pelos adolescentes", explica.
5/8Para os mais jovens, Pavot também recomenda El sari rojo, de Javier Moro. O livro revela o incrível destino de Sonia Gandhi: como um amor estudantil nos reconduz à maior democracia do mundo e a converte na única herdeira da dinastia Gandhi. "É um livro apaixonante que abarca mais de 50 anos de história social, cultural e política da Índia. É absolutamente cativante, aprende-se muito sobre este país e sobre os problemas que enfrenta. É o meu livro favorito", afirma.
Na mesma linha de mulheres inspiradoras, Almudena Mendaza, responsável de vendas para a Península Ibérica, leva-nos a descobrir A trança, de Laetitia Colombani. Este livro relata a história entrelaçada de três mulheres que vivem a sua própria história em realidades totalmente distintas, mas, de alguma maneira, as suas vidas vão entrelaçando-se. "Especialmente dura pareceu-me a vida de Smita, na Índia, e a sua particular luta por escapar, juntamente com a sua filha, de uma realidade, por vezes, inexplicável. O bonito destas três histórias é a felicidade que as une por superar os problemas que enfrentam; uma leitura muito esperançosa para ler na época estival", diz Almudena Mendaza.
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Almudena Mendaza também recomenda uma triologia de Domingo Villar, escritor gallego recentemente falecido. "Tinha na minha lista de pendentes a dita triologia antes que falecesse o autor e, a verdade, é que estou a começar o segundo livro e cada vez estou mais presa às histórias do inspetor Leo Caldás e o seu inseparável companheiro Rafa Estévez, a quem custa entender a forma particular de ser dos galegos e, sobretudo, o seu sentido de humor", assegura Mendaza. A obra compõe-se de três livros: Ojos de Agua, La playa de los ahorcados e El último barco. Os três desenrolam-se na Galiza e relatam histórias criminais que se dão na zona, com uma descrição incrível da paisagem e dos costumes e, sobretudo, das personagens. "São livros com muito entretenimento e recomendáveis", assegura.
Falando de policiais, embora um pouco mais longe e complexo, Gonzalo Rengifo, diretor geral da Pictet AM para a Península Ibérica e América Latina, gostou de The Power of dog, de Don Wislow. Um frenético e realista thriller sobre o narcotráfico no México na década de 70: o governo dos EUA empreende uma luta sem cartel.
Uns quantos séculos mais atrás também podem ser apaixonantes. Por exemplo, com Africanus, el hijo del Consul, de Santiago Posteguillo. Para Rengifo é uma obra histórica muito divertida de ritmo narrativo cinematográfico sobre a infância e a juventude de Africanus, uma das personagens mais influentes do Ocidente.
Antonio Royo-Villanova, especialista de produto de Passive Investments da DWS, acrescenta outro livro de suspense: A verdade sobre o caso de Harry Quebert", de Joël Dicker. "Se no verão quer desconectar-se, este livro de suspense com assassinato e investigação entretém os leitores e as páginas passam sem dar-se conta", assegura. O assassinato decorre em New Hampshire há 25 anos, e ao encontrar-se o cadáver volta a abrir-se a investigação.
7/8Para os amantes de um bom thriller, Neil Robson, diretor de Ações Globais da Columbia Threadneedle Investments, resgata Still Life, de Louise Penny. Publicou-se pela primeira vez em 2005, pelo que não é uma recomendação nova, mas a boa notícia para alguém que gosta de crime é que há 18 livros na série, todos protagonizados pelo inspetor chefe Gamache de la Sureté du Quebec, um detetive mais empático e considerado. Este apresenta um elenco de personagens interessantes nas zonas rurais do Canadá na localidade de Three Pines. "Para os que não gostam de ler, a série está a ser produzida para a Amazon Prime Video com Alfred Molina no papel de Gamache", incentiva.
Mais atual é The Premonition, de Michael Lewis, criador do mítico Flash Boys. "Nunca escreveu um mau livro", defende Neil Robson. Este reúne uma série de personagens da vida real e examina a preparação norte-americana para a pandemia de covid, e as maquinações políticas que se interpõem no caminho de proteger vidas.
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