Leituras para o verão (II): livros não económicos recomendados pelas gestoras

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Por ocasião das férias de verão, perguntámos às gestoras internacionais pelas suas recomendações de leitura. Em seguida uma extensa lista de propostas, sem nenhuma ordem em particular, onde pode encontrar a seleção de títulos mais afastados do mundo da economia. Aqui poderá encontrar as propostas relacionadas com economia das entidades.

Processar a experiência vivida

Estes eventos que vivemos com a COVID-19 e o confinamento, submeteram-nos a situações muitas vezes críticas. Tal como os protagonistas destas obras cujos perfis psicológicos, ações e reações estão presentes nas três sugestões de Bruno Patain, responsável da Eurizon para Portugal e Espanha:

  1. Vida, de Benvenuto Cellini

Vida, e que vida! Um verdadeiro remoinho, como Cellini o descreve na sua autobiografia. Cellini, um dos maiores artistas do Renascimento, escultor, ourives e escritor, com um temperamento de fogo e um talento dificilmente imaginável. Em Vida fala-nos sobre esta época de titãs em que lhe calhou viver e de ter sido um discípulo de Miguel Ângelo; cruzando-se no seu caminho com Papas soberbos e famílias lendárias como os Medici; defendendo Roma das tropas de Carlos I de Espanha; encarcerado durante muito tempo pelas calúnias dos seus rivais; e criando obras para a posteridade, como o Crucifixo em mármore branco de Carrara agora no Mosteiro do Escorial. “É um relato apaixonante para os que amam a história, a arte e as vidas de todas as grandes personagens da cultura universal”, assegura Patain.

  • Death Note, Tsugumi Ohba

Uma série de manga japonês, mas com apresentações enfoques filosóficos e éticos raramente vistos na literatura e, além disso, envolto numa história de intriga e suspense que agarra o leitor do princípio ao fim. Aborda conceitos como a verdadeira justiça, e como atuar se pudéssemos ter o poder da vida ou da morte, sem implicar diretamente com a tranquilidade, à distância.  Lutaria contra o crime e a injustiça? Ou apenas se centraria no seu próprio benefício? Ao fim e ao cabo trata-se de uma viagem ao interior da alma de cada um, que põe o leitor à prova, sobre cair na tentação, o abuso de poder; ou, pelo contrário, sobre a força do espírito e o sangue-frio que é preciso ter para manter o poder nas nossas mãos.

  • The Shining, de Stephen King

Depois do confinamento que vivemos no ano passado, podemos perguntar-nos – enquanto lê este romance de terror – se a personagem principal, magnificamente interpretada por Jack Nicholson na versão cinematográfica de Stanley Kubrick, perdeu a razão devido aos espíritos que habitavam no hotel Overlook, onde estava confinado; ou pelo facto de estar isolado sem quase nenhum contacto humano, dedicando o seu dia a dia apenas a escrever o seu livro à frente da máquina de escrever. A sua família, que o acompanhava no seu isolamento, começa a ser afetada por esta repentina mudança de carácter e o filho começa a ter visões que profetizam o arrepiante e emocionante final.

Mistérios sob o sol

E continuando no mundo da ficção, Sébastien Senegas, responsável da Edmond de Rothschild AM para Espanha e Itália, recomenda A Anomalia, de Hervé Le Tellier.

Muita turbulência num avião, e de repente o sol. Aconteceu algo, este avião parece que existe duas vezes. Um romance com salpicos de ficção científica: todo o mundo que conhecemos é real ou será uma espécie de simulação? Passageiros de um avião que literalmente duplicaram… O que significa? Para Senegas é um livro apaixonante sobre o quão relativas são as nossas vidas e a pequena que é a nossa existência, comparemos com o que comparemos….

Porque com uma boa novela de mistério a desconexão está assegurada. É o que garante Nabil El-Asmar Delgado, responsável da Vontobel AM para a Península Ibérica, com dois romances de John Verdon. “Sai um por verão”, reconhece. Falam sobre David Gurney, um detetive reformado de Nova Iorque que enfrenta misteriosos casos. O primeiro romance que lhe chegou às mãos por casualidade foi o Pensa num número, mas confirma que todas as outras são também espetaculares. “Para fazer uma boa desconexão, li todos em formato físico e têm areia entre as suas páginas. Puro entretenimento sem pretensões de tirar conclusões aplicáveis à gestão de ativos”, defende.

Clássicos que valem a pena resgatar

Na Capital Group sabem que os clássicos merecem ser lidos e redescobertos. Mario González, codiretor de Desenvolvimento de Negócio da Capital Group para a Península Ibérica recorda-nos de Leviathan, de Paul Auster. Como nos conta, os génios não nos são indiferentes nem são para todos os gostos. Auster, um dos melhores contadores de histórias americanos contemporâneos, não é exceção, na sua opinião. “Se odeia Auster, Leviathan será o livro que mudará a sua perceção do autor e se já gosta dele, estará perante um dos seus melhores trabalhos”, afirma. Em 1992, Auster publicou Leviathan, o seu sétimo romance: dinâmico, intrigante e o mais acessível do autor. A história começa com um homem morto quando uma bomba explodiu nas suas mãos em Wisconsin. O resto é um emaranhado fascinante que Auster nos conta de uma forma elegante e emocionante. “Aproveite”.

Álvaro Fernández, codiretor de Desenvolvimento de Negócio da Capital Group para a Península Ibérica, aproveita para dar uma segunda oportunidade ao livro A verdade sobre o caso Harry Quebert, de Joël Dicker, que agora tem uma versão televisiva. Para Fernández, é um dos livros de verão, que nos prendem facilmente e quando nos damos conta estamos ansiosos para voltar a pegar-lhe para continuar a ler. “Resgatei-o da estante ao ver a anunciada série sobre o ele, e não defrauda”, conta. Intriga, reviravoltas inesperadas, diferentes idas e vindas no tempo e com personagens sobre as quais mudamos de perceção várias vezes ao longo do livro. Recomendável para quem quiser reler a história e, sobretudo, para quem a deixou escapar no verão em que saiu.

Em linha com os romances policiais, Begoña Gómez, senior relatioship manager da Invesco, fala-nos de The Fourth Monkey, de J.D. Barker. É o primeiro título da série protagonizada pelo assassino na série Fourth Monkey. Às 06:15 da manhã, Sam Porter, detetive da polícia de Chicago, é acordado pelo seu colega após o atropelamento acidental de uma pessoa por um autocarro. Quando Sam descobre que o homem atropelado levava uma caixa branca com uma orelha lá dentro, treme ao adivinhar que se trata do Fourth Monkey, um assassino em série que há muito tempo não atacava. Será mesmo ele? A vítima provavelmente continua viva, abandonada, sem água e sem comida. Definitivamente uma corrida contra o tempo para averiguar onde está num mundo em que nem todos dizem a verdade.

Corpo e mente

Antonio Losada, da equipa de Vendas de Goldman Sachs AM recomenda Siddhartha, de Hermann Hesse. Para todos os que quiserem aproximar-se da filosofia e da espiritualidade oriental. Este romance de ficção filosófica centra atenção na experiência consciente do ser humano como caminho para uma vida mais plena através de métodos puramente intelectuais e formalistas.

Na mesma linha, Álvaro Cabeza, responsável da UBS AM Iberia, resgata o bem-sucedido 1Q84, de Haruki Murakami. “Não se trata de uma errata. Em japonês, a letra q e o número 9 são homófonos”, explica. Desde o título, Murakami oferece-nos dois universos paralelos que vão convergindo progressivamente, sem que o leitor se dê conta. “Ficará encantado ou vai parecer-lhe totalmente sobrevalorizado, mas não o deixará indiferente. Não é isso que procuramos quando abrimos a primeira página de um livro”, pergunta Cabeza.

Para Martina Álvarez, diretora de vendas para a Península Ibérica da Janus Henderson, a leitura pode ser una atividade familiar. Para ela Invisible, de Eloy Moreno, é uma grande plataforma para conectar com meninas e meninos (pré)adolescentes sobre o bullying. Na sua casa todos o leram. “Além das lágrimas derramadas, permitiu-nos partilhar emoções, vivências e diferentes pontos de vista, por isso, estarei eternamente agradecida a Eloy Moreno por facilitar essas discussões com os meus três filhos”, conta.

A história com outra abordagem

Outra opção de Álvarez, mais ligeira é Pretérito Imperfeito, de Nieves Concostrina. A história do mundo contada através de divertidas anedotas. “Quem me conhece sabe que a minha nota de História de seletividade foi desastrosa. Nunca entendi a necessidade de memorizar datas, nomes e siglas. No entanto, vejo claramente a necessidade de compreender de onde viemos para não cometer os mesmos erros do passado. Esta história de Nieves Concostrina faz exatamente isso e de uma forma divertida também. É o que em Vendas chamamos de bom storytelling”, garante.

Dar uma segunda reviravolta à história. Momentos Estelares da Humanidade, de Stephan Zweig, é a recomendação de Mariano Guerenstein, responsável de Clientes Institucionais para a Península Ibérica, da J. Safra Sarasin Fund Management. Um clássico de 1927 para se desconectar dos mercados no verão. São 14 histórias, 14 momentos em que uma decisão espontânea mudou o curso da história. “A pergunta-chave que podemos fazer no final de cada capítulo é: o que teria acontecido se...? Podemos aplicar o mesmo a cada um de nós com as decisões espontâneas que tomamos e que vamos tomar”, afirma.