Lucía Catalán (Goldman Sachs AM): “A indústria de gestão de ativos vive um momento de transformação muito estimulante”

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Lucía Catalán. Créditos: Cedida (GSAM).

O negócio de Asset Management e Wealth ganhou uma grande relevância para a Goldman Sachs. A nova estratégia desenhada pelo banco passa por situar tanto a sua gestora como a sua banca privada entre as três maiores do mundo em termos de património gerido, tal como a entidade já se encontra nesse ranking com o seu negócio de banca de investimento e operações de trading. Essa é a sua ambição. No que diz respeito à gestão de ativos, a empresa norte-americana tem uma visão muito clara dos passos a seguir para alcançar esse objetivo. E tudo passa por aproveitar as grandes tendências de crescimento que estão a impulsionar o setor a nível global.

“A indústria de gestão de ativos vive um momento de transformação muito estimulante, sobretudo na Europa”, assegura Lucía Catalán numa entrevista à FundsPeople. Existem atualmente três fatores que estão a impulsionar o setor. E, em todos eles, a diretora-geral da Goldman Sachs Asset Management para a Península Ibérica considera que a empresa americana tem uma posição consolidada. “O primeiro é a descolagem dos mercados privados. O segundo, o uso da inteligência artificial no mundo dos investimentos. E o terceiro, a sustentabilidade. Os três vão ser grandes motores de crescimento para a indústria”, prevê.

Sustentabilidade

Começando pelo último, a gestora fechou recentemente a compra da NN IP, entidade que - tal como explica - permitiu à Goldman Sachs duplicar o seu tamanho na Europa e posicionar-se globalmente como uma das cinco gestoras ativas com maior volume patrimonial. “A NN IP é uma entidade com uma longa experiência em investimento sustentável, algo que complementa muito bem a nossa oferta de produto. 90% dos seus ativos são geridos com critérios ESG. Para nós está na vanguarda, permitindo-nos diversificar a nossa gama e situar o investimento sustentável no centro da nossa oferta”.

Na sua opinião, num mundo cada vez mais complexo, uma gestora deve oferecer soluções para todo o tipo de investimentos em todo o tipo de contextos de mercado. “Isto para mim é essencial. O objetivo é ajudar o cliente, não promover produtos. Neste sentido, contar com uma equipa grande (Ana Gasca e Álvaro de Liniers juntaram-se à equipa como vendas e Irma Albella integrou o departamento de Marketing) e com uma oferta completa permite falar com o cliente com o único objetivo de o ouvir, para saber quais são as suas necessidades e como o podemos ajudar. Quanto mais ampla for a gama, mais oportunidades os investidores têm para diversificarem as suas carteiras e gerar melhores retornos ajustados ao risco”.

Mercados privados

A importância de ter uma carteira bem diversificada é uma das mensagens mais importantes que Lucía Catalán sublinha aos seus clientes. É uma ideia que está relacionada com o segundo grande pilar de crescimento da indústria, o dos mercados privados, onde a Goldman Sachs AM é um ator muito importante e onde os clientes estão subinvestidos. “Somos a quinta maior gestora do mundo em ativos privados. Gerimos 425.000 milhões de dólares e contamos com um track record de mais de 30 anos. Abrangemos várias subcategorias de ativos: private equity, private debt, infraestruturas, sustentabilidade e real estate. Estes negócio que estavam distribuídos por várias áreas do banco, foram agrupados numa única plataforma dentro da gestora, de modo que já fazem parte da oferta de produto que oferecemos aos nossos clientes”.

O plano de crescimento em mercados privados passa por transformar estas estratégias, geridas pelo banco há mais de três décadas, num formato adaptado às exigências dos clientes europeus de wealth management. “Em alguns casos, iremos fazê-lo através de fundos europeus. Noutros, através de acordos com determinados clientes que já têm a sua própria estrutura e queiram completar alguma área concreta”. Segundo Lucía Catalán, é uma classe de ativos onde é necessário fazer muito trabalho educativo, uma vez que não está presente na maioria das carteiras de clientes de retalho. “Temos muito conteúdo para explicar aos distribuidores as suas vantagens, riscos, estrutura, liquidez… Satisfaz-me poder contribuir para que exista um maior entendimento de todos estes aspetos”.

Na sua opinião, o crescimento dos mercados privados vai continuar. “Não é uma tendência que se explique por ser um segmento que gerou uns retornos superiores ao dos seus equivalentes em mercados cotados, o que também é o caso. Há argumentos tanto de retornos como de diversificação. Na prática, significa ter acesso a ativos e empresas que não negoceiam nos mercados públicos. É um bom complemento para as carteiras”, sublinha.

Dá como exemplos ter exposição a áreas que são, em grande medida, provenientes da mão do privado. Para dar um exemplo concreto, a última operação realizada pela Goldman Sachs AM em Espanha foi o lançamento da Verdalia Bioenergy, um novo negócio centrado no desenvolvimento, aquisição, construção e operação de plantas de biometano na Europa. O objetivo é contribuir para a descarbonização e segurança energética do velho continente.

Tecnologia

O terceiro pilar de crescimento para as indústrias de gestão de ativos é a tecnologia, que a gestora tem implementado nos seus processos desde os anos 90. “Faz parte do nosso ADN. Utilizamos a inteligência artificial desde 2013. Embora agora exista um grande consenso no mercado sobre a sua utilidade, antes tinha de ser explicada. Há coisas que, mesmo sendo o melhor gestor do mundo, o olho humano é incapaz de ver. Existem uma série de conexões que acontecem entre empresas que, a menos que se recorra à tecnologia, são impossíveis de calibrar. Dá uma visão transversal global dos setores”. 

De acordo com a diretora-geral da Goldman Sachs para a Península Ibérica, a prova mais evidente disso é o seu fundo GS Global Small Cap CORE, de ações globais de pequenas empresas, um dos segmentos onde as ineficiências do mercado são maiores. “É um produto cinco estrelas Morningstar. Isso já fala por si. A passagem do tempo provou que a teoria da equipa quantitativa da Goldman Sachs AM estava certa. O uso da tecnologia é um excelente complemento da gestão. Hoje em dia os dados são ouro. E nós, através do banco, temos acesso a fontes de dados que não teríamos se não fossemos uma gestora independente”, conclui.