A diretora de Estratégias da J.P. Morgan AM, apesar dos desafios atuais, acredita que o contexto continua a favorecer determinados ativos de risco. Não obstante, salientou que é necessário adotar uma abordagem prudente e diversificada nas carteiras.
Como em cada trimestre, Lucía Gutiérrez-Mellado apresentou a visão estratégica da J.P. Morgan AM para os próximos três e seis meses, destacando as oportunidades em ativos de risco. “Estamos sobreponderados em ações e crédito num contexto de crescimento económico modesto, mas positivo, e uma política monetária em fase de flexibilização”, afirmou. No entanto, também alertou que, apesar das subidas significativas que o mercado de ações registou este ano, as expetativas de rentabilidade futura são mais moderadas.
Recessão e aterragem suave
Quanto às previsões económicas dos EUA, a estratega indicou que, embora não se espere uma recessão a curto prazo, esta poderá apresentar-se no futuro. “O ciclo económico tem sido um dos mais difíceis de prever devido às medidas fiscais extraordinárias implementadas durante a pandemia”, explicou Lucía Gutiérrez-Mellado. A curto prazo, a J.P. Morgan AM antecipa uma desaceleração do crescimento norte-americano para 2%, o que considera um nível sustentável.
Por outro lado, o panorama europeu apresenta-se mais complexo. Apesar das expetativas de reativação impulsionadas pela descida das taxas de juro, a Europa tem mostrado um crescimento mais débil em comparação com os EUA. “Encontramo-nos num contexto mais complicado na Europa, especialmente devido à dependência de setores-chave como o industrial e das exportações para a China”, afirmou.
A evolução da inflação
A inflação foi outro dos temas centrais abordados por Lucía Gutiérrez-Mellado. Embora tenha reconhecido que a tendência desinflacionária está em andamento tanto nos EUA, como na Europa, também alertou que a inflação de serviços continua a ser um desafio. “Não podemos perder de vista a inflação, devemos continuar a vigiá-la de perto”, salientou, acrescentando que se espera que a queda da pressão salarial se comece a refletir nos dados de inflação para 2025.
Quanto à política monetária, comentou que esperam dois cortes de taxas tanto para os EUA, como para a Europa até ao final de 2024 e mais dois cortes para a Fed e três para o BCE em 2025.
Um dos pontos mais preocupantes na sua análise foi o endividamento governamental, que atingiu níveis historicamente elevados após as políticas expansivas aplicadas durante a pandemia. Alertou que este aumento da dívida governamental poderá traduzir-se num aumento das taxas de juro a longo prazo, o que encarecerá o serviço da dívida e poderá provocar um ajuste na despesa pública. Este é um fator-chave que, segundo a estratega, os investidores devem seguir atentamente, visto que “impactará diretamente o comportamento das obrigações soberanas a longo prazo, tanto nos EUA, como na Europa”, acrescentou a especialista.
Neutralizar a duração nas carteiras
Em resposta a este complexo contexto económico, a J.P. Morgan AM realizou ajustes nas suas carteiras, passando a sua posição subponderada para neutra em duração. “As obrigações voltam a desempenhar o seu papel tradicional, oferecendo yields atrativas e agindo como um contrapeso face às ações em momentos de volatilidade”, afirmou Lucía Gutíerrez-Mellado. Salientou que as obrigações superam a liquidez, apoiadas por um cupão atrativo. Além disso, falou sobre o crescimento de lucros, que serve de apoio às ações.
A especialista também comentou que os clientes estão a procurar ETF de gestão ativa, em que a J.P. Morgan AM tem sido muito ativa, bem como fundos de obrigações de governos, embora, como já disse, considerem que há oportunidades em fundos de obrigações com duração. Os clientes também pedem ações globais e alternativos.
As eleições nos EUA e as ações
As eleições presidenciais nos EUA foram outro tema importante abordado durante a sua intervenção. Lucía Gutíerrez-Mellado destacou que, embora estes eventos costumem gerar volatilidade a curto prazo nos mercados financeiros, os investidores devem manter o seu foco a médio e longo prazo. “Historicamente, tanto sob governos democratas, como republicanos, o mercado de ações tem retornos positivos”, assinalou, reafirmando a importância de se manter a calma perante as flutuações políticas.
A especialista concluiu afirmando que “os mercados mantêm o seu crescimento quando as empresas são rentáveis, independentemente do partido político no poder”, transmitindo uma mensagem de confiança aos investidores para que optem por uma estratégia bem planificada.