Luz ao fundo túnel: vale a pena seguir a dos mercados emergentes?

00tunel
Edurecio, Flickr, Creative Commons

Alocar uma determinada fatia de um portefólio a mercados emergentes pode parecer arriscado, mas são muitos os investidores nacionais que acreditam que é importante correr esse risco: vale mais estar investido neste tipo de países do que não estar de todo, dizem muitos deles. No entanto, comparativamente com outros momentos de mercado, este parece ser mais atrativo para determinar e executar essa “manobra”.

Da Aberdeen estiveram recentemente em Portugal para demonstrar precisamente que há uma “luz ao fundo do túnel” nos mercados emergentes (ME), e esta é a altura certa para a seguir. Numa metáfora com uma viagem de comboio, Edwin Gutierrez, head of Emerging Market Sovereign Debt, explorou as várias “paragens” que  podem ter influência no desenvolvimento dos mercados emergentes. Começando pela atuação dos Bancos Centrais, o profissional lembrou que “o Quantitative Easing tem sido, nos últimos tempos, um dos pilares mais críticos tanto para as ações como para as obrigações”. Tentar encontrar yields, neste contexto, tornou-se uma missão inglória, relembra o especialista, que abriu a discussão aos restantes profissionais da Aberdeen presentes: “Que impacto é que este tipo de manobras dos Bancos Centrais teve nas várias classes de ativos dos ME?”.

Nick Robinson, senior investment manager de ações de mercados emergentes da Aberdeen acredita que apesar dos outflows “as empresas e os países dos mercados emergentes se prepararam para este contexto de mercado, e os gestores dessas empresas estão prontos para navegar neste ambiente”. Lembrando que também na parte de fixed income de ME existiu um enorme volume de resgates nos últimos 3 anos, Siddharth Dahiy, head of Emerging Markets Corporate Debt, sublinhou que esses outflows “foram guiados pelos investidores de retalho que entraram na classe de ativos entre 2011 e 2012”. De alguma forma, estas saídas de dinheiro protagonizadas pela classe de ativos conferem-lhe uma certa atratividade, porque é possível “assumir posições mais light”, ou seja, reconstruir as posições moderadamente. Consequência do QE, diz também ter sido uma diminuição do crescimento das emissões de dívida nos mercados emergentes, o que configura “boas notícias ao nível dos fundamentais técnicos do mercado”. Adicionou ainda mais um factor a favor da classe de ativos: “a duração desta dívida corporativa é muito baixa, ou seja, a sensibilidade em relação à subida das taxas de juro não é assim tão elevada”.

Não desperdiçar oportunidades na China

A próxima paragem: a China. Que oportunidades e desafios se podem vislumbrar neste contexto em que o país muda de paradigma? Nick Robinson acredita que a melhor forma de mudar a abordagem de investimento no país passa por “investir num fundo Ásia que se foque na China”, o que permite beneficiar do expertise de gestores locais ou especializados e “reduzirá o risco de estar exposto a situações como a que sucedeu no verão passado no mercado de ações chinês”. Do lado das obrigações corporativas Siddharth Dahiy alerta que embora seja muito importante estar atento ao tema da transparência destas empresas, há vantagens no segmento. No sector das commodities, por exemplo, assinala que a CNPC (China National Petroleum Corporation) é uma oportunidade comparativamente com a multinacional britânica BP. “A BP produz 1.2 milhões de barris de petróleo por dia, enquanto a CNPC produz quase 1.5 milhões; A BP tem reservas de 17 mil milhões de barris de petróleo, ao passo que CNPC tem cerca de 21 mil milhões”, exemplifica.

Da corrupção ao Brasil: “um pulinho”

Seguiram-se, ainda, considerações sobre as commodities, a corrupção e o consumo nos ME.  Sobre a segunda temática, não foi esquecido o “problema brasileiro”.  Testemunhando a sua experiência no mercado brasileiro, Nick Robinson assegurou que apesar dos grandes escândalos no país, “existem empresas mais pequenas que são bem geridas” e, por isso, o que importa é estar bem ciente quanto ao processo de gestão de cada um desses negócios. Da Aberdeen, que se tem vindo a tornar um dos mais importantes investidores em algumas empresas brasileiras, dá conta de um grande esforço para “melhorar a estrutura acionista dessas mesmas companhias”. Recorda que têm tentado que “as empresas instalem conselhos fiscais, comités, etc”. Siddharth Dahiy, por seu turno, revela que tentam mitigar o risco de potencial corrupção “estabelecendo um compromisso com os acionistas, e com os gestores das empresas”. “Tentamos refletir no preço a liquidez, o risco país, o risco de default, mas de facto não é suficiente para refletir no preço o risco de corporate governance”, admitiu.