Ter começado a sua carreira assistindo a quedas de 20% em plena crise do Tequila deixou uma lição muito marcada em Rajiv Jain: a importância de proteger o capital. Caso contrário, o risco é ter de andar a correr atrás da rentabilidade passada após uma grande queda.
Esse princípio influenciou o estilo de gestão de Jain e da boutique que cofundou em 2016, a GQG Partners. Tão importante como saber quando e o que comprar, é saber quando vender. Jain e a sua equipa de gestão são muito rigorosos na sua política de desfazer posições. Se algo muda na tese de investimento, não hesitam em realizar lucros. “Todos cometemos erros. Não vemos necessidade de perder tempo mantendo-os em carteira. Assumimo-los e seguimos em frente”, explica Jonathan Miller, client portfolio manager da GQG Partners, numa recente visita a Madrid.
A equipa de gestão da GQG Partners construiu a sua reputação no mercado com um estilo de gestão muito ativo, que não teme uma elevada rotação da carteira, nem desviar-se dos índices se assim o indicar a sua convicção. “Partimos do princípio de que nada é permanente no mundo do investimento nem nenhum ativo é obrigatório. Olhamos apenas o necessário para as métricas passadas, não somos fiéis nem ao value nem ao growth, e não sentimos pressão para investir nas ações da moda”, sublinha Miller.
O que Rajiv Jain e a sua equipa estão a fazer nestas semanas de volatilidade
A volatilidade de 2025 é o exemplo perfeito do estilo GQG Forward-Looking Quality na prática. Embora não gostem de reagir de forma imediata a notícias macroeconómicas, Miller reconhece que foram ágeis no posicionamento ao longo deste ano. Em janeiro, após as eleições presidenciais nos EUA, a equipa gestora sentia um certo “espírito animal” no ar. Com a previsão de que isso reativaria o mercado de M&A nos EUA, posicionaram-se em bancos norte-americanos. Mas em março mudaram de rumo.
“Há dois meses começámos a perceber que a ameaça das tarifas alfandegárias era real, que era mais do que uma tática de negociação. Sentimos que o ambiente para as empresas ia piorar”, conta Miller. Assim, desde o início de março, começaram a ajustar as carteiras para uma postura mais defensiva, especialmente na carteira de ações dos EUA e no GQG Partners Global Equity Fund.
Mais defensivos e mais value
Neste contexto, a equipa de gestão da GQG está a priorizar ações defensivas (empresas com visibilidade de lucros) e value (avaliações abaixo da média do mercado). “Porque o que estamos a ver é que as partes mais caras do mercado, o growth, são as que mais estão a sofrer”, argumenta o especialista.
“O mercado habituou-se a ver o growth dominar, mas pensamos que as regras do jogo estão a mudar. Podemos estar no início de um novo regime. A Casa Branca reiterou que vai usar as tarifas como forma de pressão sobre os parceiros comerciais”, insiste Miller.
Também realizaram lucros no setor tecnológico. Já estavam preocupados com as avaliações, mas fatores como o surgimento da Deepseek levaram-nos a tomar uma decisão mais firme. “O que estamos a ver é que o maior potencial da IA está na melhoria da produtividade das empresas em geral, não necessariamente na rentabilidade direta dos produtos de IA. Com a Deepseek, vemos a possibilidade de uma queda nos preços. Se isso acontecer, o que vai acontecer aos lucros das empresas exclusivamente focadas em IA?”, questiona o especialista.
Esse tipo de perceção precoce resulta do forte investimento da GQG em análise própria. Não são apenas três gestores à frente das estratégias, mas também analistas dedicados, especialistas quantitativos e até ex-jornalistas de investigação cuja função é encontrar ângulos e visões diferentes das que são já refletidas no mercado ou nas fontes tradicionais.
E na carteira do GQG Partners Emerging Markets Equity Fund
Por contraste, houve menos movimentações na carteira do GQG Partners Emerging Markets Equity Fund. “Não estava demasiado exposta ao risco de tarifas antes de todos os anúncios”, explica Miller.
A carteira mantém, em linhas gerais, a mesma estrutura desde o início do ano. A Índia continua a ser a geografia com maior peso, enquanto mantêm uma subponderação na China. Isso penalizou o fundo em relação ao índice nos últimos meses, já que o mercado de ações indiano entrou em território de correção técnica.
Também encontram valor na bolsa brasileira, devido às avaliações atrativas, e têm uma exposição de 10% a ações da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. “Acreditamos que esta região tem o potencial de ser o novo Singapura. O seu mercado de IPO está muito ativo e participámos em algumas operações. Vemos avaliações atrativas em empresas com governança de primeira linha”, conclui Miller.