Mário Vigário (Atrium Investimentos): “A principal característica é a capacidade de investir em temas fora do consensus e o foco na preservação de capital e gestão de risco”

Mário Vigário Atrium Investimentos
Mário Vigário. Créditos: Cedida (Atrium Investimentos)

Domiciliado no Luxemburgo e gerido pela Atrium Investimentos, o Atrium Portfolio Sicav - Sextant foi o fundo multiativos flexível nacional mais rentável de 2022, apresentando um retorno de 0,09%. Mário Vigário, CIO da entidade, explicou à FundsPeople as características do fundo e as decisões ativas que contribuíram para este resultado.

O Sextant é um fundo multiativos que investe maioritariamente nas duas principais classes de ativos, as ações e as obrigações. “No entanto, pode investir noutras classes/estratégias como matérias-primas, alternativos e exposição cambial, sempre dentro dos ativos considerados elegíveis pelos regulamentos UCITS V, que oferecem o maior nível de proteção aos investidores a nível mundial”, afirma Mário Vigário.

“A principal característica distintiva é a capacidade de investir em temas fora do consensus num determinado momento e o foco na preservação de capital e gestão de risco”, diz o CIO. A equipa de investimentos considera que para investir a longo prazo com sucesso é crucial evitar as grandes perdas que ocorrem regularmente nos ciclos económicos e isso normalmente consegue-se com uma abordagem de pendor value nas classes acionista e de obrigações. “Com catalisadores e abordagens diferentes, esta estratégia de investimento tem conseguido fazer isso ao longo dos nossos 23 anos de existência, nomeadamente em 2000, 2008 e 2022”, acrescenta.

A estratégia utiliza também instrumentos derivados, quer futuros, quer opções, para cobrir riscos ou aumentar exposição oportunisticamente. “As decisões são maioritariamente tomadas ao nível do comité de investimento que define o cenário macroeconómico central e riscos potenciais, decidindo de forma dinâmica a melhor alocação de ativos”, afirma.

Decisões de investimento e alocação ao longo do ano

Ao longo do ano, a equipa de investimentos do fundo foi tomando algumas decisões que contribuíram para o resultado positivo que apresentou no fim de 2022. Entre elas, Mário Vigário destaca a exposição acionista longa, “concentrada em oil majors, banca europeia e green utility majors europeias”; spread longo S&P e curto Nasdaq100; exposição a commodities, “que foi reduzida no ano”; e, por último, exposição curta em taxa de juro, “dinâmica ao longo ano”.

Quanto à alocação da carteira, Mário Vigário afirma que “a rotação das posições em taxa de juro foi bastante positiva”. Desta forma, começaram por uma posição com um enviesamento curto em treasuries nos EUA e Reino Unido, rodando depois para a Europa, à medida que detetavam potenciais focos de instabilidade a surgirem na zona, como Itália. “A Europa parecia estar com um período de três a seis meses de atraso face aos EUA”, acrescenta.

Além disso, “as posições longas em ações registaram alguma estabilidade, apenas com movimentos táticos de cobertura de risco pontual (opções e VIX) ao longo do ano. Paradoxalmente, conseguiram reduzir a volatilidade, mas apresentaram um contributo líquido negativo”, afirma o CIO da entidade.

Por sua vez, em relação às considerações ESG, Mário Vigário afirma que “a estratégia não é ativamente condicionada por fatores ESG, nem tenta ser um líder”. Assim, não investem em empresas baseadas apenas em rankings ESG. “No entanto, boas práticas ESG são fundamentais, especialmente no que toca à tentativa de alterar para melhor as práticas das empresas”, acrescenta. Por este motivo, parte da exposição que têm em mercados emergentes em ações é através de um fundo de investimento, gerido por Mark Mobius, que, segundo o diretor de Investimentos, integra as melhores práticas ESG no seu processo de investimento.

Mário Vigário afirma ainda que “faz sentido investir em empresas que estão a tentar melhorar as suas políticas ESG, já que poderá haver um repricing dos seus múltiplos. Neste momento continuamos a gostar de empresas no setor de utilities e mesmo no setor de petróleo que estão a fazer essa transição”.

Expetativas para 2023

No que diz respeito à posição do fundo e às expetativas que refletem para 2023, fecharam a exposição curta a taxa de juro optando por aumentar a duração. “As taxas de juro oferecem o binómio risco/retorno mais interessante da última década”, afirma o CIO. Acrescenta ainda que alguns pockets de risco encontram-se a transacionar num nível muito interessante, como dívida subordinada de banca, high yield e corporate de mercados emergentes. “No entanto, o número de defaults e reestruturações deverão aumentar em high yield e mercados emergentes, especialmente se houver recessão”.

Por último, nas ações, continuam, pelo menos para já, com um posicionamento semelhante ao do ano passado, com uma elevada exposição ao setor financeiro europeu, que acredita que continua menos bem percecionado pelo mercado. “Ao contrário do que ocorreu nas crises de imobiliário nos EUA em 2008 e na crise da dívida soberana europeia em 2010/2012, os bancos estão bastante melhor posicionados para navegar períodos de maior stress”, conclui.