Se em Dezembro referi que 2016 iria ser um ano mais complicado que 2015, não estava à espera que logo no início do ano houvesse esta turbulência. Os investidores fizeram um compasso de espera no final do ano e quando o calendário mudou e sem que se tivessem alterado as condições macroeconómicas e outros fatores de risco, resolveram vender impulsionados por algumas análises muito negativas / alarmistas, produzidas por alguns intermediários financeiros internacionais.
É lógico que temos de ter preocupação com as consequências do abrandamento económico da China e especialmente com o nível de confiança das suas estatísticas. Temos também o impacto da redução do preço do petróleo em algumas economias emergentes, que deixam ou compram menos produtos às economias desenvolvidas (automóveis, bens correntes e bens de luxo). A revisão em baixa do crescimento económico global e o risco geopolítico são também factos preocupantes.
Mas este cenário de enquadramento não é novo, já existe desde o final do Verão passado. Porque só agora surgem estas análises quando os pressupostos de base já existem há meses? É por este razão que uma equipa de gestão de ativos necessita de ter colaboradores que filtrem os dados, os acontecimentos e as análises produzidas por terceiros. Deve-se perceber o melhor possível a evolução económica para minimizar os efeitos destas enxurradas, como a que se está a viver neste início de ano.
O índice S&P fechou 2015 nos 2.043,94 pontos e atingiu em Janeiro (até 22/1) um mínimo de 1804,25 pontos, ou seja, caiu neste pequeno período cerca de 11,7%. Por sua vez, o índice Stoxx 600 caiu dos 365,81 pontos no final de 2015 até aos 320,46 (o mínimo registado até ao dia 22/1), isto é, chegou a estar a cair cerca de 12,4%.
Independentemente do que se vier a passar nos próximos dias e de vermos análises dizendo que os mercados estão oversold, que os PER’s voltaram a oferecer potencial de valorização, que os resultados das empresas até surpreenderam pela positiva, que os indicadores de análise técnica já estão a dar sinal de compra… um gestor de ativos deve concentrar-se sobretudo na envolvente macroeconómica para tomar as suas decisões.
Se os mercados não estão tão baratos como há 2 ou 3 anos, se as economias estão com níveis de crescimento reduzidos, se os indicadores de confiança na Ásia e nos EUA têm descido nos últimos meses, se há economias importantes que estão em recessão (Brasil e Rússia por exemplo), se a economia chinesa vai continuar a dar mostras de desaceleração, se estamos mais perto da deflação do que da inflação, não podemos descartar novos períodos de forte volatilidade que minam a confiança dos investidores.
Acresce a isto o facto de hoje cerca de 70% do negócio bolsista nas principais bolsas mundiais ser ditado por máquinas, o que contribui decisivamente para movimentos bruscos e com grande volatilidade.
A liquidez ganha importância nestes períodos, não só em termos de refúgio mas também em termos de oportunidade.
(imagem: damian_white, Flickr, Creative Commons)