Segundo Sergio Trigo Paz, diretor de Investimentos na UBP, os investidores estão interessados em diversificar-se fora do HY europeu e americano.
“Destes cisnes, alguns proporcionaram lucros significativos e criaram grandes oportunidades de alfa nos mercados emergentes”, afirmou Sergio Trigo Paz, diretor de Investimentos e responsável de Obrigações de Mercados Emergentes da UBP.
O primeiro cisne negro foram as tarifas impostas pelos EUA à China, dando início aos processos de desglobalização e do neoshoring, e que, segundo aponta o especialista, conduziram a um forte impulso dos investimentos estrangeiros diretos (IED) no México, na América Latina, na Europa do Leste, na Turquia e na Índia em detrimento da China.
Sergio Trigo Paz menciona a COVID como o segundo cisne negro, que desencadeou o boom inflacionário e, posteriormente, pôs fim à década de flexibilização quantitativa com taxas mais baixas durante mais tempo. O aumento do custo do financiamento e o encerramento do mercado reduziram o acesso ao crédito, empurrando os países mais débeis para o recurso ao FMI ou a entrar em default, pelo que só os mais sólidos conseguiram sobreviver. “Atualmente, existe uma forte dispersão creditícia que expôs oportunidades alfa na dívida dos mercados emergentes”, acrescenta.
E, por último, o diretor fala da invasão russa da Ucrânia como o terceiro cisne negro, que causou o congelamento de 300 mil milhões de reservas russas e desencadeou uma estratégia de diversificação de reservas da China e de países do Médio Oriente. Segundo o especialista, “nos próximos anos, os mercados de divisas dos países emergentes vão beneficiar da redução das reservas chinesas de dólares e euros”.
Quanto ao cisne verde, faz referência à queima da floresta da Amazónia, levando a uma maior consciência sobre o aquecimento global e, consequentemente, o boom ESG. “A estratégia plurianual de transição e diversificação energética adotada por muitos países está a trazer benefícios para África, a América Latina e o Médio Oriente”, acrescenta.
Riscos e oportunidades
Na UBP, veem três riscos principais nos mercados globais: o geopolítico no Médio Oriente; a persistência da inflação, especialmente nos EUA, que poderá prolongar o período de taxas mais altas durante mais tempo e ter impacto nos custos de financiamento, que continuarão a ser altos; e a ascensão do populismo da direita na Europa e nos EUA, especialmente em caso de uma vitória de Donald Trump. “As forças em jogo na Europa e nos EUA terão consequências no acesso da Ucrânia ao financiamento da guerra e nas relações com a Rússia”, comenta.
Segundo o especialista, se estes riscos não se materializarem, podem persistir fortes tendências, como o neoshoring ou a diversificação de reservas, que permitam aceder ao leque de oportunidades dos mercados emergentes de alfa elevado.
O high yield emergente como agente diversificador
Sergio Trigo Paz afirma ver com bons olhos o high yield nos mercados emergentes por duas razões: a primeira é o facto de o período de taxas mais altas durante mais tempo ter permitido identificar e valorizar a maioria das debilidades creditícias dos países, que até agora permaneciam ocultas; a segunda é que excluir a Rússia e fazer neoshoring vai melhorar o panorama macro e, consequentemente, os fundamentais para os exportadores e produtores de matérias-primas pertencentes ao universo high yield, beneficiando a África, Turquia, o Egito e toda a América Latina durante os próximos dez anos.
Conclui assinalando que os investidores estão interessados em diversificar-se fora da high yield europeia e americana.