Michael Temple (Pioneer Investments): “Trump e a direita polarizada não vão desaparecer”

bandeiraEUA
srqpix, Flickr, Creative Commons

Os Estados Unidos da América caminham a passos largos para o momento que vai decidir quem será o 45º presidente daquela que é ainda a maior economia do mundo. A poucos dias desse evento, Michael Temple, diretor de research de crédito na Pioneer Investments, mas acima de tudo, um norte-americano, não exclui os diversos possíveis resultados. “Se me tivessem perguntado há umas semanas diria que a Hillary iria certamente ganhar as eleições, mas as mais recentes revelações, vieram fazer com que essa elevada probabilidade se tornasse menos marcada”, referiu. A forma como o sistema eleitoral está estruturado nos EUA faz com que a verdadeira decisão  esteja dependente dos resultados meia-dúzia de estados, “e em metade desses estados Hillary ainda tem o momentum a seu favor, mas vai ser uma presidência bastante contestada”, destaca o profissional.

Michael Temple refere: “vemos que, claramente, a grande parte da população não beneficiou da recuperação económica dos últimos sete anos e os rendimentos estão polarizados como nunca estiveram”, o que alimenta a insatisfação e a subida da representatividade de partidos extremistas e populistas. “No meu entender, os mercados de ações subiram após o Brexit porque os investidores sentiram que os políticos iriam tirar daí boas ilações, que tinham recebido um ‘warning shot’ e ficariam alerta para a necessidade de serem mais ativos em termos fiscais. Repentinamente a palavra austeridade deixou de ser tão comum e é cada vez menor a resistência dos políticos à ideia de que precisamos de mais estímulos fiscais”, explicou o diretor da Pioneer Investments. Para o especialista, “se Clinton ganhar, vai ser uma vitória muito contestada, Trump e a direita polarizada não irão desaparecer nos EUA e a incerteza política vai continuar a pesar, nomeadamente nos próximos ciclos eleitorais de 2018 e 2020”.

O norte-americano fez questão de deixar claro que não tem “uma bola de cristal”, mas esquematizou os possíveis resultados desta ‘batalha’ eleitoral:

-           Donald Trump ganha: “os mercados não aceitam bem o resultado e veremos, provavelmente, uma queda de 10-15% nesse cenário”.

-           Hillary Clinton ganha: “Esperaria que os mercados subissem 2 ou 3%, numa lógica de ‘relief rally’, mas não muito forte. Este cenário aplica-se perante uma vitória de Clinton, mas um senado e uma casa de representantes divididos”.

-           Hillary ganha e de algum modo consegue o domínio do Congresso (Senado e Casa de Representantes): “seria um resultado negativo, porque a candidata democrata o veria como um mandato para subir impostos e redistribuir rendimentos”.

“O que o mercado deseja é uma vitória de Clinton e uma contínua divisão do Congresso, com os republicanos a equilibrarem os pesos na balança”, resume o profissional. Num lado mais extremo dos potenciais resultados, perante a remota possibilidade de o candidato perdedor não aceitar os resultados das eleições, alegando fraude no processo de voto, Michael Temple é peremptório ao dizer que “isso sim, multiplicaria exponencialmente os problemas para os mercados”.