MiFID II vs UCITS?

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Os UCITS fizeram 30 anos. A normativa europeia sobre o passaporte dos fundos de investimento inicia a sua quarta década com quase 10 biliões de euros sob gestão, após ter transformado a Europa no centro mundial da distribuição transnacional.

O aniversário cruzou-se com a chegada da MiFID II, e perante esta coincidência, o relatório da consultora Broadridge, “From big bang to a galaxy of stars: An assessment of Ucits after 30 years of evolution”, questiona-se acerca dos efeitos que a nova normativa poderá ter em vários segmentos da indústria europeia de gestão de ativos. Perante o impacto previsível da MiFID II na cadeia de valor, a pressão sobre as margens e a necessidade de ter de cumprir com requisitos legais e de reporting muito mais exaustivos, a consultora antecipa algumas possíveis reações.

1. Pressão nos preços e maior enfoque na gestão passiva.

Os ventos favoráveis à gestão passiva de baixo custo sopram com força há muitos anos, sobretudo desde a crise de 2008, mas a MiFID II parece ter-lhes dado um novo impulso. De acordo com o relatório da Broadridge, a exposição da Europa à gestão passiva representa cerca de 15,8% do total dos ativos a longo prazo, muito abaixo dos 38% dos EUA. No entanto, se se olhar para o seu peso na distribuição de terceiros, da qual a distribuição transnacional de UCITS depende essencialmente, a percentagem sobe para cerca de 22%, e em países como a Holanda, pioneiros da proibição das comissões de distribuição, já alcança cerca de 40%. O valor é inferior noutros mercados, mas espera-se que aumente.

2. Redução do número de fornecedores.

As pressões regulatórias em tudo o que diz respeito ao reporting podem fazer com que algumas unidades de seleção reduzam o número de grupos com o qual trabalham. Segundo o relatório da Broadridge, se em 2014, o número médio de fornecedores se situava em 42, em 2017 reduziu para 38, embora também tenham havido várias fusões que possam ter tido efeito neste valor.

Esta tendência pode variar, como aponta a consultora americana, segundo o canal de distribuição, uma vez que enquanto os bancos de retalho preferem ter listas pequenas, entre as seguradoras, o número de fornecedores subiu.

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3. Novos modelos de distribuição

Entre estes novos modelos, a Broadridge cita o facto de os distribuidores lançarem fundos com as suas próprias marcas, algo relativamente comum na Europa continental, mas que até há pouco tempo não teria acontecido com os IFA do Reino Unido.

E também estão os roboadvisors. Graças à tecnologia, determinadas plataformas de execução poderão evoluir para a obtenção de perfis e a venda de produtos empacotados, ou outras entidades poderão experimentar esta solução em determinados segmentos da sua clientela.

De acordo com o último estudo da Techfluence, na Europa há 98 advisors, enquanto em abril de 2017 havia cerca de 37. O seu património teria aumentado para os 2.500 milhões de euros, uma quantidade ainda simbólica mas que pode crescer mais se conseguir atrair um tipo de público desencantado com os modelos mais tradicionais. O Nutmeg no Reino Unido é o maior com ativos de 1.000 milhões de euros, seguido pela Scalable Capital na Alemanha (€600m) e Moneyfarm na Itália (€375m).

Por último, a opção pela gestão discricionária pode ser outra das tendências na distribuição.

4. Concentração

Com o aumento da pressão sobre as margens e os preços, muitos esperam uma consolidação na indústria europeia de fundos.

Apesar de haver precedentes entre diversas gestoras europeias, (Aberdeen e Standard Life no Reino Unido, Amundi e Pioneer de França e Itália), segundo o estudo da Broadridge, os selecionadores europeus esperam que o grosso dos processos de fusão aconteçam entre gestoras de média capitalização que ganharão em eficiência e quota de mercado ao se unirem.

5. Novos produtos?

A questão é pensar que tipo de produtos podem aguentar melhor a pressão da gestão passiva. Os multiativos tiveram muita procura e em 2017 uma terça parte dos novos lançamentos foram deste tipo de produtos.

Os alternativos baseados em modelos quantitativos relativamente baratos, seja através de UCITS ou AIMFD também poderão aguentar relativamente bem o choque da gestão passiva.

Em suma, mais gestão passiva, listas mais reduzidas, menos fornecedores e mais empacotamento…