Miguel Luzárraga (J.P. Morgan AM): “Num bull market é normal que os investidores achem mais simples obter valor através do investimento no índice”

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Miguel Luzárraga, responsável de vendas da J.P.Morgan Asset Management para Portugal, tem estado, naturalmente, atento à evolução recente do mercado português. Sublinha, positivamente, que a partir dos dados da APFIPP se pode inferir que “as carteiras dos fundos nacionais cresceram de forma saudável durante um período, recentemente, tendo agora estabilizado”. Prosseguindo refere que em Portugal continua a existir uma “preocupação por causa dos custos fiscais, tanto no investimento em obrigações e ações, como nos próprios fundos de investimento locais e estrangeiros”. Uma tendência que o leva a crer que “algum dinheiro se tem vindo a encaminhar para unit linkeds e seguros de capitalização, ou seja, produtos mais de longo prazo”.

O crescimento do mercado é apelidado pelo profissional como algo “diferente” comparativamente com outras épocas. Nota que no mindset dos clientes já existe uma menor aversão ao risco, pois estão mais cientes de que “mais risco é vantajoso para as carteiras”. Especificamente no âmbito das plataformas nacionais que distribuem fundos estrangeiros, Miguel Luzárraga entende que é importante estarem presentes “com todas as soluções possíveis”, embora saibam que no mercado de retalho “é difícil conquistarem quota de mercado”.

Da vasta oferta da entidade, destaca o grande interesse em determinados produtos. “O JPM Global Income configura-se como o produto da casa mais vendido nas plataformas nacionais e nos principais distribuidores”, diz Miguel Luzárraga. Num escalão acima, o profissional aponta que o JPM US Aggregate Bond é “outro dos fundos mais vendidos. Em termos de tendências também têm assistido a um maior peso “em ações europeias, através do seu fundo JPM Europe Equity em resultado do rally das ações norte-americanas”.

A mais valia de um gestor ativo

Na tão atual conversa sobre a gestão ativa vs passiva, o profissional da entidade lembra que é normal que “num bull market, os investidores achem mais simples obter valor através do investimento no índice”. No entanto, o profissional enfatiza que “há algumas pessoas que, erradamente, acreditam que a gestão passiva tem um bom comportamento em todos os tipos de mercado. Não é bem assim. Um gestor ativo vai mostrar a sua capacidade de gerar alfa nos bear markets e sempre que a volatilidade aparece. Na J.P. Morgan AM, temos essa visão global de que vamos ter inevitavelmente mais volatilidade no futuro. Por isso, não é favorável que um investidor – como acontece através de um índice – esteja exposto a todo o tipo de sectores. Um gestor ativo consegue fazer essa filtragem e é capaz de procurar as oportunidades; algo que um ETF não é capaz de fazer”.

As tecnologias não tão disruptivas assim

Confrontado com notícias como a do primeiro fundo de investimento totalmente gerido por um robo, ou incursões como a da BlackRock, na substituição de gestores de ações por sistemas de inteligência artificial, Miguel Luzárraga faz um exercício de memória. “Algumas destas notícias não introduzem grande novidade. Recordemos por exemplo que em 2004 a J.P. Morgan AM comprou a Highbridge (uma gestora de investimentos alternativos globais). Os fundos JPM Highbridge US STEEP e o JPM Highbridge Europe STEEP são precisamente estratégias de arbitragem estatística executadas por uma máquina. Nós não estamos a falar de algo que aconteceu em 2016, mas sim que já tem oito anos de histórico. Hoje em dia o que acontece é que se empregam termos diferentes às coisas”, enfatiza.

Na opinião do especialista, o investimento que a J.P. Morgan AM faz em tecnologia é bastante valioso e útil, mas o investimento prioritário “continua a ser aquele que é aplicado na efetiva gestão de risco das estratégias”. Acredita que as tecnologias mais disruptivas respondem a necessidades “de uma parte do mercado”, mas é importante olhar para o mercado como um todo: “É importante perceber se essa tecnologia está a ser investida da forma eficiente, e que esta não represente um custo muito elevado para a entidade gestora”, sublinha.