Miguel Seabra (Credit Suisse): "Os investidores estão cada vez mais a recorrer a investimentos alternativos para ajudar a impulsionar quer o retorno, quer a diversificação"

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O diretor executivo da sucursal portuguesa do Credit Suisse, Miguel Seabra, em entrevista à FundsPeople, comenta o impacto que um longo período de retornos baixos no universo obrigacionistas teve nas carteiras, bem como a crescente importância do investimento com critérios ESG entre os seus clientes.

Como vê o atual contexto de taxas de juro e de mercado impactar o potencial de diversificação dos portefólios tradicionais e o apelo por fontes alternativas de rendimento?

Durante décadas, muitos investidores seguiram uma regra simples de diversificação de carteiras, composta por duas classes principais de ativos: ações e rendimento fixo. Mas a "clássica" carteira de investimentos 60/40 (60% ações, 40% obrigações) está a enfrentar grandes desafios. Espera-se que a inflação elevada e uma política monetária mais restritiva diminuam as perspetivas para as obrigações. Mas o facto de as perspetivas de retorno para as obrigações serem mais fracas não significa que não seja boa forma de diversificação. As ações e os ativos reais tendem a ter um bom desempenho durante períodos de inflação elevada. No entanto, as obrigações têm um bom desempenho quando a inflação está a diminuir. Assim, se a economia mundial enfrentar uma súbita queda da inflação, as obrigações devem ter um bom desempenho e ajudar a diversificar o risco que provém das ações e dos ativos reais. Neste contexto, provavelmente não é tanto o potencial de diversificação que afasta os investidores das obrigações. É o seu potencial de retorno mais baixo.

O que estamos a observar é que os investidores estão cada vez mais a recorrer a investimentos alternativos para ajudar a impulsionar quer o retorno, quer a diversificação, dadas as perspetivas de retorno no mercado obrigacionista. Como resultado, as carteiras tendem atualmente a incluir mais classes de ativos e são geralmente mais complexas do que eram há alguns anos.

Que classes de ativos surgem como alternativa de diversificação?

Existem diferentes abordagens. Os investidores podem preferir uma alocação maior às ações dentro das suas carteiras do que a clássica carteira 60/40. Podem também optar por diversificar para novas geografias, sectores, temas e domínios de crédito, bem como investimentos alternativos. Em termos das carteiras que gerimos, temos afetações tanto a ações temáticas a longo prazo como a investimentos alternativos, tais como estratégias de hedging, como parte da nossa estratégia de diversificação.

Globalmente, é importante que os investidores compreendam que, se adicionarem novas (e possivelmente menos líquidas) classes de ativos, estarão provavelmente a acrescentar mais risco e complexidade às suas carteiras. Os investidores devem rever quaisquer alterações à sua estratégia de investimento ou alocação estratégica de ativos com um profissional para se certificarem de que esta reflete o seu nível de risco, bem como os retornos esperados.

Como vê evoluir o tema da sustentabilidade e investimento com critérios ESG no vosso trabalho?

Estamos a ver cada vez mais investidores a expressarem interesse em alinhar o propósito com a rendibilidade, uma tendência que a pandemia da COVID-19 só tem reforçado. Há benefícios claros ao fazê-lo: carteiras que têm em conta fatores ambientais, sociais e de governance (ESG) podem reduzir a exposição a riscos relacionados (por exemplo, governance ou incidentes ambientais), ao mesmo tempo que identificam novas oportunidades a longo prazo.

De um modo geral, acreditamos que temos um papel importante a desempenhar à medida que os nossos clientes fazem a transição das suas carteiras de investimento para se alinharem com um futuro mais sustentável e com o seu próprio objetivo. Neste sentido, a sustentabilidade está no centro da estratégia do banco e é uma parte fundamental do nosso quotidiano empresarial.