“É algo que está na mente de todas as gestoras, como será o novo modelo de negócio da gestão de ativos na próxima geração e que medidas devo tomar para lidar com isso”, afirma a CEO da décima maior gestora de França.
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BNP Paribas AM e AXA IM, BlackRock e Global Infrastructure Partners e Preqin, UniCredit e Banco BPM, Ark e Rize ETF, Generali e Natixis IM… mais as operações que ainda estão em fase de rumores ou de pré-acordo, a realidade é que a indústria está a viver uma nova onda de consolidação a nível global. Para Mirela Agache Durand, CEO da Groupama AM, estes movimentos de M&A respondem a uma necessidade clara na indústria: preparar-se para a nova Era na gestão de ativos. “É algo que está na mente de todas as gestoras, como será o novo modelo de negócio da gestão de ativos na próxima geração e que medidas devo tomar para lidar com isso”, afirma.
Nesta conversa sobre o futuro do setor como negócio, a questão da escala está inevitavelmente no centro. Não só onde quer crescer uma gestora, mas também aquilo a que deve renunciar. “É uma questão que nos colocamos em cada decisão de negócio: quais são as nossas probabilidades de sucesso?”, explica. Por exemplo, em ativos privados, neste momento não planeiam explorar o private equity, mas decidiram há dois anos abrir o seu negócio à dívida privada como uma transição natural das suas capacidades em obrigações tradicionais. E é por isso que também estão a considerar entrar no negócio de ETF de gestão ativa, uma vez que não veem escalabilidade em fazê-lo em ETF de gestão passiva.
Investir na empresa para gerar um bom retorno
“Estamos a investir naquilo que temos de fazer para conseguir um bom retorno para os nossos clientes”, explica. Nessa alocação de recursos, Mirela Agache Durand não tem dúvidas de que a inteligência artificial será um importante motor para o futuro da Groupama AM. “Estamos a preparar o nosso negócio para a chegada da IA. Porque chegará à indústria, não há dúvidas disso”
Se não for algo que nasce internamente de uma gestora, a CEO não descarta que seja o próprio cliente a exigi-lo. “É incrível a quantidade de cidadãos comuns, para não falar de grandes empresas, que não só utilizam o ChatGPT, como estão dispostos a pagar 20 euros por mês pela versão premium. Se uma empresa não prepara a sua equipa de Vendas para falar com o seu cliente, que utiliza IA diariamente, será o próprio cliente a exigi-lo”. Para a Groupama AM, a IA é uma forma de melhorar a produtividade das suas equipas. “Uma gestora deve aceitar e adaptar-se a esta nova tecnologia”, insiste.
De entidade mutualista de agricultores a concorrente global
Para Mirela Agache Durand está claro que o objetivo da Groupama AM não é competir em termos de dimensão, mas sim de valor acrescentado. “Só queremos estar nas partes do mercado em que somos capazes de oferecer retorno, serviço e elevada qualidade nas capacidades de investimento”, afirma. Esta é a razão pela qual, acredita a CEO, a gestora conseguiu ultrapassar estes últimos anos complicados em termos de fluxos para as gestoras internacionais.
Na nova Era dos ETF e da gestão indexada, a gestora francesa não só viu interesse pelos monetários, um dos seus fortes, como também por todas as suas regiões e classes de ativos, incluindo as ações. Como? “Porque a performance está lá. Haverá sempre lugar na indústria para os players que ofereçam mais do que indexados, haverá sempre clientes que procuram valor acrescentado e, quando o fazem, procuram os melhores. É essa a nossa aspiração”, afirma.
Mas como é que se mantém essa mentalidade de boutique enquanto se cresce como negócio? Não é uma equação fácil, reconhece Mirela Agache Durand. “Mas volto à essência do que é a Groupama AM. A gestora nasceu como uma entidade mutualista de agricultores de França. A maioria dos seus acionistas são os próprios agricultores, e o que é um agricultor se não um empreendedor? Esse é o verdadeiro ADN da Groupama, que fala a mesma língua dos seus primeiros clientes, o espírito empreendedor”, conta a CEO.
É por isso que todas as divisões da gestora tendem a operar como pequenas boutiques, cada uma com bastante independência. Isto aplica-se tanto a escritórios locais, como ao da Península Ibérica, liderado por Juan Rodríguez-Fraille, e como às equipas de gestão de fundos. Na opinião de Mirela Agache Durand, esta é a chave para criar equipas de gestão reconhecidas em tantas classes de ativos diferentes: convertíveis, crédito financeiro, ações…
França, a última grande produtora de gestoras locais da Europa
Mirela Agache Durand fala-nos também como vice-presidente da AFG (l'Association Française de la Gestion). A França é um caso excecional na indústria de gestão de ativos na Europa. Enquanto regiões vizinhas, como a Itália ou a Península Ibérica, viveram o seu particular momento de consolidação de players locais, ainda existem 700 gestoras francesas a operar em França. “A França é a última grande produtora de gestoras locais da Europa”, afirma.
E para a CEO isto é motivo de orgulho. “Porque significa que o ecossistema está vivo, está a crescer. Temos fusões, claro, mas também estão a ser criadas novas casas, novos tipos de gestoras emergentes em capital privado, dívida privada, ativos privados, na gestão de ativos tradicionais, bem como em criptomoedas ou novas áreas de investimento”, afirma. “A França continua a ser um lugar onde a gestão de ativos como ecossistema é saudável, forte e está pronta para amadurecer em alguns segmentos, inovar noutros, crescer e concentrar-se, e ser capaz de competir com os intervenientes mundiais”, afirma.