MMLF: o programa da Fed para garantir a liquidez dos fundos monetários nos EUA

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A Fed pôs em marcha nos últimos dias um novo QE, um “QE infinito” como o batiza Anna Stupnytska, responsável global de macroeconomia da Fidelity International, no qual se compromete a comprar durante 2020 praticamente de tudo, desde dívida pública a dívida privada e até ETF, algo que até agora não tinha feito nem sequer nos piores momentos da crise financeira que se aconteceu após o rebentar da bolha das hipotecas subprime.

Este arsenal soma-se à bateria de medidas que foi anunciada pela Reserva Federal nas últimas semanas e que incluem desde a descida de taxas para 0% até à ação coordenada com os maiores bancos centrais do mundo para potenciar a provisão de liquidez via linhas de swaps em dólar americano… Uma lista em que também há uma medida específica destinada a dotar os fundos de investimento de maiores garantias, em concreto aos chamados fundos monetários prime.

Há uma semana, no passado dia 18 de março, a Reserva Federal anunciou um novo programa, Money Market Mutual Fund Liquidity Facility (MMLF) no qual se compromete a realizar empréstimos a instituições financeiras que comprem participações em fundos monetários prime. “Os fundos monetários são ferramentas de investimento comuns para famílias, negócios e uma variedade de empresas. O MMLF ajudará os fundos do mercado monetário a satisfazer as procuras de reembolsos das famílias e outros investidores, melhorando o  funcionamento geral do mercado e a concessão de créditos à economia em geral”, afirma a Fed num comunicado publicado na sua página web.

É preciso ter em conta que, ao contrário dos fundos monetários tradicionais, os chamados prime, que só se vendem nos EUA, contam com uma característica muito singular: ter como objetivo manter o seu valor liquidativo sempre acima de 1 dólar por participação. Um compromisso que sempre se manteve à exceção do que aconteceu com o fundo Reserve Primary Fund, da Lehman Brothers, que se viu obrigado a ser liquidado após a queda das suas participações abaixo deste dólar mínimo, o que se conhece como “break the buck”.

Poucas horas depois de ser concedida a medida da Fed para apoiar fundos monetários houve nos Estados Unidos algumas instituições financeiras que optaram por tirar proveito da capa da Reserva Federal para fornecer mais liquidez a alguns dos principais fundos monetários. Uma delas foi a Goldman Sachs que comunicou uma dotação de liquidez adicional a dois dos seus fundos ao comprar 722,4 milhões de dólares em ativos.

Apesar do facto dos níveis de liquidez de ambos os produtos já estarem bem acima dos 30% da carteira em ativos liquidáveis nos cinco dias que a Fed exige deste tipo de fundos (no caso do primeiro, esse nível estava em acima de 40% e no segundo, 34%, apesar dos reembolsos ocorridos nos dois produtos). "Essas ações reforçam o nosso compromisso com os fundos da GSAM para fornecer liquidez a clientes focados nas implicações de curto prazo do contexto atual do mercado”, disse David Fishman, responsável da equipa de gestão da carteira de soluções de liquidez da Goldman Sachs Asset Management.

“A expansão deste programa, lançado esta semana, é um alívio bem-vindo para os fundos monetários a nível mundial, pois está dirigido especificamente para os monetários prime e reduz as tensões no mercado. Como o MMLF vai atuar como uma entrada de liquidez para fundos principais no mercado monetário dos EUA, acreditamos que é uma ferramenta importante para ajudar a garantir que todos os fundos principais possam manter liquidez suficiente”, afirmou numa nota para os clientes.

Outra instituição financeira que recorreu ao MMLF foi a BNY Mellon, que na semana passada comprou 1.200 milhões de dólares em ações do seu fundo prime para fortalecer a sua liquidez após os resgates sofridos nos dias anteriores.