A representatividade feminina em cargos de gestão e de liderança em Portugal é ainda baixa, diminuindo ainda mais à medida que a responsabilidade dos cargos aumenta. No setor da gestão de ativos, apenas 9% do total de gestores de fundos do mercado nacional são mulheres.
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Na música The Man, Taylor Swift descreve como, caso fosse um homem, seria definitivamente mais fácil para ela estar no auge da sua carreira: “I'm so sick of running as fast as I can, wondering if I'd get there quicker if I was a man”. De facto, num inquérito realizado pela Responsible Investors, intitulado Women in Finance survey 2024, 44% dos inquiridos – a grande maioria mulheres – afirma que acredita que o género é um obstáculo à progressão na carreira.
Com efeito, olhando para a presença de mulheres em cargos de gestão e de liderança, vemos que apenas 30% dos cargos de gestão das empresas em Portugal são ocupados por mulheres, uma percentagem que desce para os 27% quando considerados os cargos de liderança. Além destes dados, referentes a 2023, a 14ª edição do estudo da Informa D&B, intitulado Presença Feminina nas Empresas em Portugal, dá ainda conta que a presença feminina nas empresas diminui à medida que a responsabilidade dos cargos aumenta: “Nos cargos de topo, a presença feminina é muito inferior à masculina. Nas funções de direção-geral, 17% são exercidas por mulheres e apenas 16,4% dos lugares nos conselhos de administração é ocupado por mulheres”.
As mulheres no mundo da gestão de ativos
No mundo da gestão de ativos em Portugal, e em específico na gestão de fundos UCITS, a realidade não é muito diferente. Segundo dados da Morningstar, existem apenas cinco mulheres gestoras de fundos – o que representa 9% do total de gestores do mercado nacional – em contraste com 48 homens gestores. Os fundos geridos por homens ultrapassam uma centena, enquanto os fundos geridos por mulheres são apenas 14.
Mulheres gestoras de fundos nacionais
N.º | % do total de gestores do mercado nacional | |
Mulheres gestoras | 5 | 9% |
Mulheres co-gestoras | 2 | 2% |
Homens gestores | 48 | 89% |
Os fundos nacionais geridos por mulheres
Fundos | Entidade | Gestora |
GNB Dinâmico | GNB Gestão de Ativos | Fátima Só |
GNB Mercados Emergentes | GNB Gestão de Ativos | Susana Vicente |
GNB Momentum Sustentável | GNB Gestão de Ativos | Fátima Só |
CA Monetário | IM Gestão de Ativos | Joana Felício |
IMGA Euro Taxa Variável | IM Gestão de Ativos | Joana Felício |
IMGA Financial Bonds 3,5Y | IM Gestão de Ativos | Ana Luísa Aguiar |
IMGA Financial Bonds 3Y 2,25% Serie I | IM Gestão de Ativos | Ana Luísa Aguiar |
IMGA Money Market | IM Gestão de Ativos | Joana Felício |
IMGA Obrigações Globais Taxa Indexada EUR 2026 Serie I | IM Gestão de Ativos | Ana Luísa Aguiar |
IMGA Rendimento Semestral | IM Gestão de Ativos | Joana Felício |
Montepio Multi Gestão Dinâmica | Montepio Gestão de Activos | Ana Onofre |
Montepio Multi Gestão Equilibrada | Montepio Gestão de Activos | Ana Onofre |
Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes | Montepio Gestão de Activos | Ana Onofre |
Montepio Multi Gestão Prudente | Montepio Gestão de Activos | Ana Onofre |
O que pode explicar a menor presença de mulheres na gestão de fundos em comparação com os homens? Na opinião de Ana Luísa Aguiar, do departamento de Taxa de Juro da IMGA e gestora de três fundos da entidade, esta menor preponderância nas salas de investimento poderá justificar-se pela “menor procura por este tipo de funções, quer por falta de interesse, ou por acreditarem que não terão o perfil necessário ao desempenho das mesmas”.
A profissional acrescenta também que as “generalizações grosseiras associam a mulher a um perfil mais cauteloso, mais avesso ao risco, menos aventureiro”, e, por isso, menos habilitado a tomar decisões em tempo real ou quando os movimentos de mercado têm pouco fundamento ou racional. “No entanto”, considera Ana Luísa Aguiar, “uma pessoa objetiva, interessada, com capacidade para manter a frieza, possui as ferramentas certas para agir, seja homem ou mulher”.
Por sua vez, Ana Onofre, gestora de quatro fundos da Montepio Gestão de Activos, considera que a menor presença de mulheres nesta área poderá ser explicada, em grande parte, “pelo grau de exigência e dedicação que a gestão de fundos requer, o que torna difícil a conciliação da vida familiar com a profissional”. A gestora destaca ainda que a desigualdade de oportunidades no acesso a cargos de gestão pode também explicar esta menor presença. Além disso, a existência, embora cada vez menor, de estereótipos sobre que carreiras são mais adequadas para as mulheres, explica Ana Onofre, “tende a direcionar as mulheres para áreas sociais, por exemplo, e menos para as áreas financeiras”.
O que pode ser feito para atrair mais mulheres para este tipo de cargos?
A gestora da Montepio GA é da opinião de que a “flexibilização dos horários de trabalho e a possibilidade do teletrabalho podem atrair mais mulheres para este tipo de cargos”, permitindo uma maior coordenação da vida familiar e profissional. “A maior promoção de incentivos às mulheres”, acrescenta, “salariais e outros, para seguirem carreiras profissionais ativas e de liderança seriam igualmente medidas de incentivo relevantes”.
Por outro lado, Ana Luísa Aguiar acredita que a existência de cada vez mais mulheres a ocupar lugares de gestão são “um exemplo a quem ambiciona trabalhar nesta área”. A gestora acrescenta que “desmistificar a ideia de que este é um mundo de homens é fundamental”.
Em conclusão, a situação descrita pela cantora norte-americana em The Man reflete uma realidade que se mantém em muitos setores, onde as mulheres enfrentam (ainda) diversos desafios para alcançar o topo das suas carreiras. Apesar dos vários progressos alcançados, é como diz Taylor Swift:
I'd be a fearless leader
I'd be an alpha type
When everyone believes ya
What's that like?