Não houve semana de agosto em que não tivessem ocorrido acontecimentos de mercado que não levassem os investidores a repensar a composição das suas carteiras. Resumimos os mais importantes.
Há já muitos anos que os meses de agosto deixaram de ser períodos tranquilos para os investidores e este ano não foi uma exceção. O oitavo mês do ano começou com otimismo após a Fed de Jerome Powell confirmar que o período de normalização monetária que tinha imperado nos EUA chegou ao fim. A prova foi o anúncio de descida das taxas de juro por parte da Reserva Federal, o primeiro desde 2008, que tem como claro objetivo impulsionar a economia americana que começa a desatinar com a recessão. Aqui contámos as primeiras reações e aqui fizemos uma análise mais extensa.
Mas essa alegria, que em grande parte estava prevista pelos mercados, durou pouco. Foram quatro os grandes episódios que se encarregaram de transformar esse otimismo do investidor num pessimismo que ainda hoje continua vigente, após as quedas de até 6% que os grandes índices de ações acumularam no último mês.
O primeiro deles foi um velho conhecido. A tensão comercial entre a China e os Estados Unidos voltou a escalar e manteve-se em níveis altos desde então. O golpe foi tão forte que Wall Street viveu no início de agosto a sua pior sessão do ano. O que aconteceu? Trump anunciou que iria impor taxas de 10% a produtos chineses no valor de 300.000 milhões de dólares. A China respondeu e deixou que a sua moeda se debilitasse: o yuan caiu para níveis de 2008. Os Estados Unidos acusaram formalmente a China de manipular a moeda.
O segundo grande drama de agosto chegou de outro país emergente como é a Argentina. Surpreendeu o mercado a larga maioria que obteve o peronista Alberto Fernández nas primárias argentinas (ganhou com 47,7% dos votos, oito pontos a mais do que previam as sondagens). A possibilidade de que Fernández, o candidato de Cristina Fernández Kirchner, se torne no novo presidente do país após as eleições que se celebram em outubro não foi do agrado do mercado que teme que isto represente um passo atrás nas políticas mais market friendly anunciadas por Marci.
Mas se tivéssemos de nomear um só acontecimento que perturbasse os investidores este foi a inversão da curva que aconteceu em várias obrigações, entre elas as dos EUA. Em resposta ao duplo efeito dos bancos centrais acomodatícios e incerteza dos mercados, a curva do Tesouro americano inverteu-se. Este é um indicador adiantado que se costuma interpretar como um vaticínio de uma recessão. Assim, em agosto, falou-se muito de uma crise iminente com a sua consequente repercussão nos mercados de ações, obrigações e ouro. O que há de certo nesse debate? Isto é o que pensam as gestoras internacionais.
A nível regional, a Europa não sofreu apenas as consequências do que se passava do outro lado do Atlântico. Também protagonizou os seus próprios dramas a nível interno. Um deles foi a ameaça de recessão na Alemanha após ser publicado um dado negativo do PIB do segundo trimestre ou a telenovela vista na política italiana. Mas o acontecimento que ocupou mais títulos na semana passada foi o Brexit. O primeiro ministro britânico Boris Johnson comunicou à Rainha a sua intenção de fazer o seu Discurso à Rainha no dia 14 de outubro, o que implica suspender as atividades parlamentares até esse mesmo dia, dificultando assim a possibilidade de que proliferem as negociações da oposição para tentar travar a possibilidade de que aconteça um Brexit sem acordo (hard Brexit).
A reação do mercado, além dos abruptos movimentos que se viram na libra, não foi tão crítica quanto a resposta da população e da oposição britânica mas é outra prova que demonstra que o quarto trimestre que agora começa virá carregado de uma volatilidade que os especialistas terão de perceber se vem carregada de oportunidades de investimento ou é uma desculpa para reduzir as posições de risco das carteiras. De momento, a palavra que mais repetem é “prudência”.