Nuno Henriques (Santander AM): “Existe um grande compromisso de que a abordagem [ESG] faça parte do nosso ADN”

Nuno Henriques santander asset management
Nuno Henriques. Créditos: Vitor Duarte

CEO da Santander Asset Management em Portugal desde janeiro deste ano, Nuno Henriques tem nas suas mãos as rédeas de uma das maiores entidades gestoras do panorama nacional. Assume, como a grande missão da entidade gestora, “continuar a oferecer produtos que se adequem às necessidades das pessoas e das famílias”, num caminho que deverá passar por “enquadrar os fundos de investimento como um produto de poupança” e não como uma solução especulativa, como são frequentemente caracterizados. O CEO vê assim margem para o mercado continuar a crescer, com a Santander AM a absorver uma quota parte significativa desse crescimento de forma orgânica. “Somos neste momento a quarta maior entidade gestora de fundos mobiliários. Esperamos ser a terceira, dentro de um ano”, diz. 

Equipa Santander AM Portugal

Relativamente à evolução recente dos ativos geridos pela entidade e pelo mercado em geral, o profissional aponta duas razões que acredita que potenciaram o seu crescimento. “A primeira, o aumento da poupança das famílias, que tem vindo a crescer com a pandemia. A segunda, o enquadramento atual de taxas de juro extremamente baixas que leva os aforradores a deslocarem-se de produtos mais tradicionais, como os depósitos a prazo, para fundos de investimento, na expetativa de terem um retorno que, pelo menos, acompanhe a inflação”, enumera. 

Oferta em evolução

O panorama macroeconómico não só tem tido um impacto no ativos sob gestão da entidade, como também motivou uma evolução da oferta. “Ao longo do último ano alterámos 70% da nossa gama de produtos de investimento. Alterações que consistiram em fusões, adaptações das políticas de investimento e lançamento de novos fundos”, diz. Estas alterações, segundo Nuno Henriques, procuram dar resposta à necessidade de uma maior flexibilidade perante um contexto económico no qual há que procurar as oportunidades e a yield onde ela se encontra. “Temos agora produtos geograficamente mais abrangentes, com maior flexibilidades em termos de maturidades ou risco de crédito”, explica.

No que diz respeito aos novos produtos, Nuno Henriques realça o Future Wealth, um seguro financeiro que investe nas “empresas tecnológicas que serão o futuro da economia”, e o Santander Sustentável, um fundo mobiliário que cumpre os critérios de investimento ESG. Em três anos, este último, atingiu a marca dos 200 milhões de euros de ativos sob gestão. “São soluções de investimento que tendem a acompanhar as tendências de mercado”, diz.

O lançamento Santander Sustentável foi um primeiro passo no caminho que tem vindo a unir a sustentabilidade aos investimentos na entidade. “Nós acreditamos que, na avaliação de investimentos, se considerarmos critérios não financeiros a par dos critérios tradicionais, teremos não só mais retorno, como também um impacto positivo a médio e longo prazo”, contextualiza. Ao nível do grupo Santander, é atribuído um rating interno a cada um dos emitentes em que investem sem o recurso a fontes externas de dados. Já a entidade gestora, aderiu aos Principles for Responsible Investment (PRI) em 2020, bem como à iniciativa Net Zero Asset Management. “Existe um grande compromisso de que esta abordagem faça parte do nosso ADN”, exclama

Em 2022, Nuno Henriques almeja assim ver grande parte da gama de fundos de investimento da entidade - mais de 3,4 mil milhões de euros - gerida com base em critérios ESG e, portanto, classificada como artigo 8º da SFDR. “Estamos a avaliar com a CMVM a melhor maneira de o fazer sem impactar demasiado a comunicação aos investidores”. Aliás, o CEO realça que cerca de 30% da oferta já se enquadrava no passado, pelo que o único passo que falta dar é a adaptação do prospeto

Desafios no caminho

Resumidamente, Nuno Henriques vê três grandes desafios no caminho da entidade gestora que lidera. Primeiro, o já referido contexto de taxas de juro extremamente baixas. “O momento atual é marcado por uma força externa, os bancos centrais, que tiveram impacto na procura e oferta de dinheiro. Como gestores de ativos temos que responder com cuidado e flexibilidade”.

Em segundo lugar, a constante adaptação à crescente regulação que impacta a indústria. “Não é um desafio de agora, e temos conseguido dar resposta a todas as novas exigências. Ferramentas tecnológicas como o Aladdin da BlackRock têm tido um papel importante nessa adaptação”. 

Por fim, a falta de incentivos à poupança de longo prazo em fundos de investimento. A este nível, o CEO refere o bom exemplo da vizinha Espanha em que a tributação das mais valias de fundos de investimento só acontece se os ativos não forem reinvestidos. “Faria todo o sentido que assim fosse porque as necessidades dos investidores vão alterando ao longo do tempo, seja por questões de idade, necessidades ou reforma. Este tipo de fiscalidade acaba por incentivar este ciclo de vida do investimento que é importante na gestão das poupanças”. Considerando que em Portugal, este incentivo apenas existe no universo PPR, Nuno Henriques realça a importante aposta que a gestora e a seguradora do grupo têm feito nestas estruturas de investimento. “Grande parte do crescimento que vimos este ano, acabou por vir de fundos PPR”, conclui.