O caso de investimento das small caps emergentes, explicado por Mark Mobius

14058548308_a8e41982d7
Ian.Kate.Bruce's Wildlife, Flickr, Creative Commons

O Templeton Emerging Markets Smaller Companies é um dos fundos da Franklin Templeton Investments que ostenta a classificação de Consistente. O fundo, a cargo de Mark Mobius, apenas terminou com rentabilidade negativa no ano de 2009; em 2016 apresentava uma rentabilidade de 2,4% até 31 de julho (dados da Morningstar). Num mundo em que os investidores estão a ser obrigados a assumir mais risco para obter os retornos do passado, Mobius chama a atenção sobre a classe de ativos na qual o produto investe: “Acreditamos que as small caps emergentes oferecem um potencial de crescimento forte e continuado e valorizações atrativas. Também vemos a classe de ativos como uma das mais subvalorizadas pelos investidores, em parte devido a concepções erradas em relação à volatilidade, à liquidez, e à escala do nosso universo”.

Alguns erros de concepção

 O guru dos emergentes afirma que esta classe de ativos ostenta uma série de atributos estruturais e táticos que justificam “a inclusão da classe de ativos numa exposição a emergentes”. Na parte estrutural, indica em primeiro lugar que o universo é muito amplo, mas a presença de investidores estrangeiros é baixa e a cobertura das casas de análise é escassa: as small caps representam apenas 3% do MSCI Emerging Markets, embora forneçam 28% da capitalização do universo emergente, situação que se traduz numa subponderação estrutural nesta classe de ativos.

Na parte tática, o gestor indica que “a recente correção dos emergentes tem proporcionado uma oportunidade de valorização particularmente atrativa”. Também é importante ter em conta a baixa correlação entre small caps e big caps. Isto explica-se porque, por um lado, muitas grandes capitalizadas de países emergentes têm vindo a expandir o seu negócio além fronteiras, convertendo-se em multinacionais que obtêm uma porção significativa das suas receitas em mercados desenvolvidos. “Consequentemente, as cotações de muitas dessas ações já não estão guiadas primordialmente por factores locais”, comenta o gestor.

Este indica que se podem encontrar exemplos desta transformação em sectores como o electrónico, a indústria automobilística ou o consumo, onde em muitos casos os países desenvolvidos são a sua principal fonte de receitas. Por outro lado, as small caps emergentes apresentam um bias decididamente local, e o seu potencial de crescimento está marcado por uma procura doméstica, um perfil demográfico favorável e iniciativas reformistas, que lhes permite lançar produtos inovadores de nicho.

“As small caps emergentes estão longe de ser um nicho de investimento, apesar da percepção geral”, declara Mobius. Recorda que este universo é composto por mais de 23.000 empresas, com uma capitalização agregada próxima dos 5 biliões de dólares, e um volume próximo de 60.000 milhões, “constituindo proporções substanciais de toda a liquidez e capitalização do mercado emergente”.

A liquidez costuma ser o objeto de maior controvérsia entre investidores. “As small caps emergentes pertencem, tipicamente, de forma desproporcional a investidores retail locais que costumam negociar com mais frequência do que os institucionais estrangeiros, devido ao facto dos primeiros geralmente terem um horizonte de investimento muito mais curto, e consequentemente impulsionam a liquidez”, especifica Mobius.

Hora de repensar a exposição a emergentes?

“O MSCI Emerging Markets está desproporcionalmente dominado pela exposição ao sector financeiro, energia, tecnologia da informação, telecoms e utilities. Estes sectores são tipicamente mais impactados por tendências macro globais ou a nível país, seja por causa da dívida associada a um mercado imobiliário, o preço do petróleo ou as políticas governamentais”, diz Mobius. Ressalta desta forma a grande presença de empresas estatais no que toca aos maiores títulos: “Embora entendamos que muitas destas empresas estão bem geridas, os interesses dos seus proprietários nem sempre estão inteiramente alinhados com os dos investidores minoritários”.

Por outro lado, prossegue o especialista, uma exposição a small caps emergentes permite participar nos sectores de maior crescimento, como o de consumo discricionário ou o farmacêutico, onde as empresas – para além de apresentarem uma tendência local – costumam ter uma posição dominante nas indústrias de tamanho mais pequeno. “As empresas pequenas com mais êxito utilizarão essa força local para expandir-se internacionalmente, o que apoiará a sua transição para médias ou grandes capitalizadas, à medida que o tempo avança”, acrecenta Mobius.

Potencial de crescimento

“Os mercados emergentes representam um ponto positivo num panorama económico mundial incerto”, afirma o especialista. Face aos cortes constantes da previsão de crescimento do FMI – a última de abril deste ano, até aos 3,2% -, o gestor contrapõe a possibilidade de participar em algumas das economias de crescimento mais rápido via small caps, que também apresentam altas taxas de crescimento. “É importante reiterar que este crescimento é tipicamente orgânico, e gera-se a partir de dinâmicas de mercado locais, em vez de estar guiado por factores macro ou de engenharia financeira através da recompra de ações, como se aplicou de forma agressiva nos EUA, em particular, e nos mercados desenvolvidos em geral”, diz Mobius.

As outras razões à margem da macro que alimentam o atrativo dos pequenos títulos, na opinião do especialista, são o potencial de crescimento proveniente do facto de serem incluídos em índices, assim como o seu potencial para ser adquiridas por outras empresas maiores.

Mobius não evita falar sobre os desafios que esta classe de ativos apresenta: “Talvez o que é mais importante reconhecer é que existem numerosas small caps emergentes que continuarão a ser pequenas, devido a temas relacionados com o corporate governance, fraca qualidade da direção, falta de crescimento no mercado e outros factores. Os investidores devem determinar quais dessas empresas triunfarão no longo prazo”. No entanto, tendo em conta quão vasto é o universo e a alta ineficiência do mercado, o gestor conclui que “o caso de investimento em small caps emergentes parece convincente, dado o nosso enfoque bottom up sobre os fundamentais”.