O contrapeso da balança

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TooSour, Flickr, Creative Commons

Perante um primeiro trimestre agitado financeiramente, os profissionais nacionais tiveram naturalmente de fazer escolhas de investimento nas carteiras ou fundos que gerem. Diminuir o peso de alguns ativos, como é normal, também fez parte da tarefa dos gestores. Por isso, a pergunta que se impõe é: “qual o sector ou geografia que foram subponderados no fundo ou carteira que gerem ou aconselham?”

Ainda que numa lógica de carteira diversificada haja espaço para vários tipos de ativos, a crise nos mercados emergentes fez com que alguns profissionais recuassem nas posições que os ativos destes países ocupavam nas carteiras. A dar conta desta subponderação estiveram Ricardo Silva, da CA Gest, e Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos. “Estamos “underweight” em acções emergentes numa perspectiva puramente táctica”, diz o profissional da gestora do Crédito Agrícola, que lembra que “a remoção de estímulos monetários por parte da Reserva Federal norte-americana e a saída massiva de fluxos financeiros desde o início do ano, deixam antever um ano volátil para a classe”. No entanto, o gestor acrescenta que “ainda assim, numa perspectiva de mais longo prazo, as valorizações das acções emergentes encontram-se agora mais atractivas atendendo à “underperformance” do último ano”. Filipa Teixeira, por seu lado, indica que a subponderação nos emergentes aconteceu “em alguns single names”. “Na China houve uma alteração do foco macro para micro com os primeiros sinais de falências a criar nova volatilidade aos índices locais”, indica a profissional. Já no Brasil “a confirmação do downgrade esperado pela S&P, a inflação que permanece uma preocupação para o banco central e o BRL em máximos de Dez13 vs. USD sem fundamentais ainda possíveis que justifiquem uma manutenção desta apreciação”, refere.

Menos investimento no mercado norte-americano

Nos investimentos da Patris, é também sublinhado um underweight da Duration Core Europa, que nas palavras da especialista da entidade tem a ver com “um contexto de indicadores macroeconómicos reveladores de algum abrandamento”. Subponderado neste trimestre foi ainda o mercado norte-americano “dado o foco em dados de emprego com indícios de alguma fragilidade”. Filipa Teixeira conclui dizendo que “a valorização rápida de activos de risco desacompanha o actual cenário de crescimento macroeconómico e riscos geopolíticos acrescidos”.

A referir-se igualmente ao mercado norte-americano, Paulo Monteiro, da Invest Gestão de Activos refere que nos três primeiros meses do ano “as carteiras estiveram subponderadas em acções norte-americanas”, porque, na opinião da entidade, “as acções europeias transacionam em níveis mais interessantes, quando comparados os actuais múltiplos e métricas de mercado com as respectivas médias de longo prazo”.

Rendimentos negativos

No ActivoBank a cautela aconteceu ao nível das obrigações governamentais. Guilherme Cardoso, da entidade, explica precisamente que “o sector/geografia com o maior underweight durante este trimestre foram as obrigações governamentais de países com melhor classificação de risco que, em alguns casos, têm yields negativas, mas que na maioria dos casos se traduzem em rendimentos reais negativos, consequência da excessiva valorização nos últimos anos”.

Sair da Europa Core

Da Banif Gestão de Activos, a subponderação aconteceu não só ao nível dos governos, mas também das empresas, nas obrigações da Europa core, diz Jorge Guimarães. O profissional da entidade indica que estes ativos “foram o sector com menor representação nas carteiras multiclasse, devido ao potencial de subida das taxas de juro sem risco num cenário de recuperação económica”. Ao nível dos fundos de ações “as empresas mais subponderadas foram as grandes empresas defensivas com maior exposição aos mercados emergentes, nos sectores de alimentação e bebidas, de retalho e de telecomunicações”, indica.

Do lado da Millennium Gestão de Activos, o primeiro trimestre de 2014, também foi acompanhado pelo “receio” relativo aos emergentes. Carlos Pinto Ferreira, da entidade, indica que apesar de estarem positivos em relação às ações como um todo, “os níveis de valorização que foram sendo atingidos e os riscos ligados a alguns mercados emergentes ditaram a adoção de um posicionamento mais cauteloso, com a opção por reduzir o beta da exposição ao longo do trimestre”. Como justificativa está também a “inversão da política monetária nos EUA conjugada com a desaceleração do crescimento económico da China, a transitar para um padrão menos assente no investimento”, que na perspetiva do profissional “determinaram um posicionamento cauteloso face à dívida e ações dos mercados emergentes”. Para além disso, as “subidas de taxas de juro, as depreciações cambiais e  o maior rigor fiscal são algumas das medidas que se foram observando nestes mercados e que ditarão um arrefecimento da expansão económica e maiores dificuldades dos seus devedores em assegurar o serviço da dívida”, conclui.