O mercado de obrigações governamentais ESG manteve uma tendência de expansão durante o primeiro semestre de 2024. As obrigações verdes, em particular, ganharam terreno face a outros tipos de obrigações, tanto na zona euro, como a nível global. De facto, a tendência mundial reflete um aumento na emissão de obrigações verdes, que representam atualmente 58% de todas as obrigações ESG emitidas em 2024. Os especialistas preveem que o segmento da dívida pública ESG vai continuar a crescer moderadamente nos próximos anos, com a possibilidade de se tornar o maior emitente de obrigações verdes até ao final de 2025.
Neste contexto, a Europa continua a ser a região líder na emissão de obrigações ESG, representando 44% do total mundial. “A emissão de dívida pública dos países europeus manteve um ritmo constante em 2024, superando ligeiramente os níveis do ano anterior”, explica Florian Spaete, estratega sénior de Obrigações na Generali AM. “A importância das obrigações está a crescer em todo o mundo, e a evolução do mercado europeu coincide, em termos gerais, com a tendência mundial”, acrescenta o especialista.
Florian Spaete afirma que as obrigações soberanas registaram um aumento na sua emissão, enquanto os emitentes do setor SSA (supranacionais, subsoberanos e agências) registaram uma ligeira diminuição. No entanto, o especialista também assinala: “Espera-se que este setor recupere após as férias de verão”.
Mercado de obrigações ESG em expansão
Após um sólido início de 2024, os emitentes soberanos europeus mantiveram um ritmo constante, atingindo níveis significativos. O volume total de obrigações soberanas ESG emitidas até à data subiu para 48.000 milhões de euros, dos quais 21.000 milhões no primeiro trimestre e 22.000 milhões no segundo, representando um notável aumento em comparação com o período homólogo. Países como França, a Alemanha e Itália emitiram novas obrigações verdes, aumentando tanto o volume total, como a atenção a este tipo de instrumentos financeiros.
Segundo a Generali AM, a França emitiu uma obrigação com vencimento em 2049 no valor de 8.000 milhões de euros. A Alemanha, por sua vez, continuou a desenvolver a sua curva de referência verde, captando 4.000 milhões de euros com uma obrigação com vencimento em 2029. No caso de Itália, o governo emitiu uma obrigação com vencimento em 2027 por um volume de 9.000 milhões de euros. “Visto que não se recorreu a obrigações sociais ou de sustentabilidade, prevê-se que a atenção dos soberanos da zona euro para as obrigações verdes continue em 2024”, antecipa Florian Spaete.
Por outro lado, com mais de 35.000 milhões de euros, as obrigações a longo prazo continuam a representar o segmento de vencimento favorito dos soberanos da zona euro, tendo emitido mais de 5% de todas as novas obrigações como obrigações verdes.
Perspetivas de emissão para o resto do ano
Durante o ano de 2024, o mercado de obrigações ESG soberanas na UE atingiu o valor total de 273.000 milhões de euros, com França e a Alemanha como os principais emitentes. A Generali AM prevê que, embora dois terços do volume de emissão já tenham sido colocados no mercado, a atividade emitente vai diminuir nos restantes meses. No entanto, os especialistas esperam que o volume total de emissões deste ano ultrapasse os 70.000 milhões de euros, um aumento notável em comparação com os 58.000 milhões emitidos em 2023.
Por outro lado, embora se tenha registado um aumento da emissão por parte dos soberanos em comparação com o ano passado, os emitentes SSA têm mostrado uma atitude mais prudente. “Até à data, o montante total emitido subiu para 6.000 milhões de euros. Isto indica que a emissão total do setor público da zona euro, de 110.000 milhões de euros, é apenas ligeiramente superior à da do ano passado. No entanto, as obrigações verdes continuam a ganhar relevância entre os emitentes do SSA”, explica Florian Spaete.
O greenium nas obrigações soberanas
A maioria das obrigações ESG da zona euro continuam a apresentar um greenium, ou seja, um prémio de preço que o comprador de uma obrigação verde costuma pagar em comparação com outra obrigação da mesma empresa que não tenha caraterísticas sustentáveis.
Quanto ao alcance e à evolução do greenium, existe uma considerável diversidade entre os emitentes governamentais da zona euro. Enquanto alguns emitentes têm um greenium negativo, que se traduz num maior retorno das obrigações ESG do que das obrigações convencionais, a maioria das obrigações soberanas ESG têm um greenium positivo. “Discernir tendências claras é um grande desafio neste contexto”, admite Florian Spaete. “Existe uma instabilidade considerável nestes títulos, observando-se diferenças significativas tanto entre emitentes, como até entre obrigações colocadas pelo mesmo emitente”, continua.
“Foi possível comprovar que a maioria das obrigações registou uma ligeira descida do seu greenium ao longo do ano, mas desaconselhamos, por enquanto, fazer destes dados uma tendência. Para os investidores, os greeniums mais baixos oferecem oportunidades para investir em obrigações ESG com apenas pequenas desvantagens de retorno”, conclui o especialista.
A UE e a padronização das obrigações verdes
A UE desempenha um papel distintivo no setor governamental, impulsionando a padronização das obrigações verdes e procurando expandir-se do segmento SSA para o soberano. “A emissão de obrigações SURE permitiu à UE tornar-se um dos maiores emitentes de obrigações ESG do mundo. A UE já não emite obrigações sociais e, em vez disso, centra os seus esforços na emissão de obrigações verdes”, menciona Florian Spaete.
Com a intenção de emitir até 30% de todas as novas obrigações como obrigações verdes para 2027, a UE perfila-se para se tornar o maior emitente destes instrumentos a nível global. Este impulso, segundo destacam na Generali AM, deverá estabilizar o volume total de emissão de obrigações ESG do setor público da UE. Além disso, espera-se que o segmento da dívida pública ESG continue a crescer moderadamente nos próximos anos, impulsionado pela implementação do European Green Bond Standard (EGBS) em dezembro.