O fim de um gestor estrela

Bill_Gross
johngoff3, Flickr, Creative Commons

Houve uma altura em que Bill Gross era conhecido como o rei das obrigações. Isso acontecia quando o gestor estava na PIMCO, a comandar o PIMCO Total Return, fundo que conseguiu tornar-se o maior produto de obrigações com um património que chegou a superar os 250000 milhões de dólares. A fama e a popularidade deste gestor não tinham fronteiras. A PIMCO até criou um ETF que replicava as melhores ideias da carteira do fundo de Bill Gross. Eram tempos abundantes para um gestor que tinha à sua responsabilidade a gestão do dinheiro de centenas de milhares de investidores de todo o mundo.

Em 2011, o gestor deu um passo em falso. Na verdade, foi uma ligeira chamada de atenção da parte dos investidores. O fundo tinha terminado o ano de 2010 a oferecer uma rentabilidade que o próprio gestor classificou como “não suficientemente boa para os participantes” e pediu-lhes desculpa, admitindo que tinha errado na estratégia, ao ter posicionado a carteira de forma a fazer frente a um cenário de subida de taxas. Enganou-se e no ano seguinte o fundo acabou com reembolsos líquidos. Tendo em conta o tamanho do produto, não foram muito significativos (apenas 5000 milhões), mas implicaram as primeiras saídas de dinheiro na história do fundo num ano natural. Foi o limite de Bill Gross. Nunca mais voltaria a gerir um património tão elevado.

Internamente, as águas começaram a ficar cada vez mais agitadas. A turbulências afetaram também a parceria que o gestor tinha com Mohamed El-Erian, cofundador da entidade e corresponsável em conjunto com Gross por algumas estratégias. As disputas entre ambos tornaram-se frequentes. A relação entre os dois terminou o que levou à saída do próprio El-Erian da gestora. Faz agora cinco anos que isto aconteceu. A partir de então, a gestora ficou sem ninguém que pudesse ser o contrapeso de Gross. E isso notou-se. As extravagâncias do gestor começaram a aparecer nos títulos de alguns meios de comunicação pelos quais Gross se passeava para responder aos que o classificavam, entre outras coisas, como temperamental, competitivo e obstinado.

O problema é que tudo isto acontecia ao mesmo tempo que o PIMCO Total Return continuava a perder ativos. A ferida não sarava, o que acabou por ter um peso decisivo na saída de Gross de uma entidade que ele tinha criado há 43 anos. A sua saída aconteceu em setembro de 2014, apenas sete meses depois da saída de El-Erian, e com um destino que já estava decidido: Janus Capital. Bill Gross não tinha intenção de se retirar. Continuaria a trabalhar a partir de Newport Beach (Califórnia) para esta entidade com sede em Denver (Colorado). A empresa deu-lhe o Janus Unconstrained Bond, um fundo de obrigações no qual o gestor podia implementar a sua visão sem restrições. O produto mudou de nome (para Janus Henderson Unconstrained Bond) com a integração da Janus na Henderson.

Era uma nova oportunidade para começar do zero após ter feito 70 anos. E as coisas começaram bem. Quando no fim de 2014 assumiu as responsabilidades de gestão, o fundo contava apenas com 500 milhões de dólares em ativos sob gestão. Não tinha acabado ainda o ano fiscal e o património já se tinha multiplicado por três, até aos 1500 milhões. Os três anos seguintes foram, em conjunto, positivos para a estratégia, que continuou a crescer em ativos, ainda que a um ritmo mais moderado, o que lhe permitiu chegar a superar os 2000 milhões. Mas um mau 2017 fez com que o fundo registasse perdas importantes (-% na classe A em dólares), segundo dados da Morningstar. Isto fez com que o património passasse de estar acima dos 2000 milhões para estar a abaixo dos 1000 milhões em 2018.

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É uma perda de ativos e de confiança por parte do cliente idêntica à que teve com o fundo da PIMCO, ainda que a uma escala muito menor e com menos excentricidades pelo meio. Agora só se fala de pura gestão. Quase a chegar aos 75 anos e quase com 50 anos de dedicação ao negócio da gestão de ativos, Gross está no fim da sua carreira, ainda que até agora o gestor ainda não tenha uma data para se retirar. O rei das obrigações continua no mercado… ainda que agora faça a gestão do  seu fundo unicamente com 950 milhões.