O gráfico que o mercado está a ignorar

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Antes das eleições de novembro de 2016, o cenário macro, com o qual os peritos da Amundi trabalhavam, previa que os Estados Unidos da América estavam a chegar ao fim do ciclo. Vários dados económicos apontavam nessa direção, com a proximidade do pleno emprego, avaliações altas nas ações ou até sinais de uso agressivo do capital (para financiar as operações de compra ou recompra) entre as empresas com grau de investimento qualificado. A situação precipitou-se desde o início de 2016: “Há 12 meses atrás, todos estavam preocupados no mercado, e este estava praticamente em depressão, uma vez que havia uma grande preocupação em torno do ciclo que terminava e da situação energética. Como resultado, as ações estavam mais baratas ou mais atrativas do que estão hoje”, disse Ken Monaghan, gestor de fixed income.

Mais uma vez, o resultado surpreendente das eleições norte-americanas alterou as regras do jogo, pelo menos de forma parcial. Agora, o cenário macro central com o qual a firma francesa trabalha prevê que o plano económico elaborado por Trump não vá resultar num impulso fenomenal no crescimento dos Estados-Unidos. “Pode aumentar modestamente, mas não chegará aos 4%, achamos isso altamente improvável”, disse o gestor. “Acreditamos, sim, que o ciclo será prolongado pelo plano económico de Trump”, destacou. As propostas do novo presidente nas áreas financeira e de infraestruturas são as razões para esta revisão, e isto está refletido no preço do mercado… talvez de forma excessiva. “Neste momento, as pessoas estão entusiasmadas. De alguma forma, o mercado parece ter excesso de confiança”, disse Monaghan.

Atentos aos sinais

O marco recente do Dow Jones, que superou a barreira dos 20.000 pontos, juntamente com as recentes correções dos títulos norte-americanos e do dólar, está a levar a que os participantes do mercado comecem a ter sérias dúvidas relativamente à continuidade do ciclo de subida da bolsa, com origem em 2009, bem como da duração do ciclo de subida nos mercados de obrigações, que se vive desde 1980.

Precisamente, Monaghan atua há 30 anos no mercado de fixed income. “A vantagem dos cabelos grisalhos é que, ao estar há tanto tempo no mercado, acabamos por reconhecer que, de uma forma ou de outra, tudo acaba por se alterar”, salientou.

Na opinião do gestor, um dos indicadores que está, neste momento, a emitir sinais claros de preocupação é o VIX, o índice que é, geralmente, utilizado para medir a volatilidade. “Se olharmos para a tendência a longo prazo do VIX, e a compararmos com o índice Global de Incerteza Económica, podemos observar que estão muitas vezes correlacionados. Atualmente, isto não acontece. O VIX diz-nos que não existe qualquer risco. Mas o índice de incerteza está a alertar-nos que algo se está a passar, e não estamos seguros de que nos vá agradar".

Esta correlação pode ser vista no gráfico em anexo, que mostra a evolução de ambos os indicadores nos últimos 20 anos. “Um dos dois está errado. Acreditamos que o mais provável é que o VIX seja aquele que está errado”, avisa Monaghan.

G1