O mercado ameaça a sobrevivência dos fundos de ações russas e da Europa emergente

Russia
Créditos: Serge Kutuzov (Unsplash)

A guerra declarada pela Rússia à Ucrânia está a destabilizar completamente o mercado russo. O rublo afundou 30% face ao dólar e ao euro. É o retrocesso mais severo sofrido pela divisa russa nos últimos 30 anos. A Bolsa de Moscovo nem abriu perante o colapso. Este ano, o RSTI sofreu uma queda de 41%, enquanto o MOEX acumula uma queda de 35%. Se analisarmos o comportamento registado nos últimos 15 anos pelas ações russas face a mercados como o americano pode-se observar a divergência na tendência.

“O ETF de ações russas ($RSX) nasceu em abril de 2007. Desde então foi duas vezes mais volátil do que o S&P 500. Este maior risco recompensou os investidores? Não exatamente. O ETF da Rússia ($RSX) perdeu 38% desde a sua criação face aos lucros de 295% registadas pelo S&P 500 ($SPY ETF)”, destaca Charlie Bilello, fundador e CEO da Compound Capital Advisors.

MSCI Emerging Markets Europe versus MSCI Emerging Markets

Se analisarmos o comportamento registado pelo MSCI Emerging Markets Europe Index até pouco antes do Kremlin tomar a decisão de invadir a Ucrânia pode-se observar que o retorno anualizado líquido a 10 anos foi de 2,2%, com uma volatilidade de 23%. São números que contrastam com a rentabilidade de 5,5% e a volatilidade de 16,4% oferecidas pelo MSCI Emerging Markets Index na última década. Isto resulta num rácio de Sharpe da Europa emergente neste período que se fixa nos 0,18, ou seja, metade da categoria global (0,36).

Agora o dinheiro foge a toda a velocidade da Rússia. O desinteresse dos investidores internacionais em investir na Rússia, as perdas constantes durante os últimos 15 anos e as maiores dificuldades que as gestoras podem encontrar para operar devido às sanções, põem em causa o futuro dos fundos que investem diretamente no país (Rússia) ou na região (Europa emergente), onde a Rússia tem um peso de 70% do índice.

Invesco liquida o seu fundo de ações europeias emergentes

Algumas gestoras já tinham decidido passar à ação, anunciando a liquidação de alguns produtos incluídos dentro destas categorias. Também o fizeram entidades que tinham estratégias posicionadas dentro do ranking das melhores por rentabilidade-risco. O caso mais recente foi o da Invesco com o Invesco Emerging European UK Fund. Apesar de ser um dos 10 produtos com melhor rácio de Sharpe a 10 anos, a empresa anunciou a liquidação do fundo. O motivo: desde 2018 a estratégia não fez outra coisa senão perder património, quase todo atribuível a reembolsos.

Há quatro anos, o Invesco Emerging European UK Fund geria 55 milhões de euros. No fecho de 2021, os seus ativos tinham caído para metade e com as quedas deste ano deixaram o seu volume abaixo dos 10 milhões. Apesar da boa gestão realizada, a gestora considera que não vale a pena manter o produto dentro da sua gama e no próximo dia 11 de março a estratégia vai desaparecer.

É um dado que reflete muito bem o desinteresse atual a nível internacional em investir numa região que não inspira confiança. Não nos podemos esquecer também, dos problemas operacionais que algumas entidades podem encontrar a partir de agora, para investir na região, devido às sanções que o Ocidente está a aplicar à Rússia.

J.P. Morgan AM suspende os seus fundos

É muito possível que as gestoras com uma oferta de produto deste tipo, para proteger os interesses dos seus acionistas, tenham de atuar o quanto antes. A J.P. Morgan AM acaba de o fazer. A empresa americana teve de tomar medidas face aos seus dois fundos: JPMorgan Funds Russia Equity Fund (SICAV) e JPMorgan Funds Emerging Europe Equity Fund (SICAV). Ambos os produtos foram suspensos, com efeito imediato.

“Estamos a monitorizar de perto os riscos e vamos manter-nos focados no melhor interesse dos nossos clientes e acionistas por todo o momento, como parte do nosso dever fiduciário. A suspensão será revista de forma contínua”, explicam.

A UBS AM, a Franklin Templeton e a Liontrust também suspenderam temporariamente os seus fundos de ações russas e da Europa emergente por ser impossível calcular o valor da unidade de participação.