Após o bom desempenho registado pela bolsa europeia no ano passado, os investidores estão a começar a mudar o seu ponto de vista relativamente a um mercado que, diz Nigel Bolton, chefe da equipa de acções europeias da BlackRock , ainda mantêm uma baixa exposição. "O investidor voltará para a Europa pelo facto de ser um mercado significativamente mais barato do que o dos EUA e com valorizações que, apesar do 'rally' vivido desde 2012, ainda são muito atractivas", disse o gestor. No entanto, o investimento nesta classe de activos deve ser feito de uma forma muito disciplinada. "A selecção de acções terá um papel crucial".
Numa entrevista à Funds People, o reconhecido gestor gerente diz-se convencido de que em 2013 o principal factor que impulsionará as acções europeias serão os lucros das empresas. "Na ausência de novas crises políticas, os investidores vão olhar para os fundamentais". Bolton acredita que aqui está o segredo deste investimento. "O ano passado foi muito negativo em termos de resultados empresariais. Esperamos que as medidas implementadas pelas autoridades monetárias tenham efeito especialmente na segunda metade do ano e, assim, tenham um impacto positivo sobre os exportadores europeus ", diz.
Nesse sentido, o Bolton acredita que 2012 foi o ano em que os políticos europeus tomaram verdadeira consciência da crise da Zona Euro, escolhendo, por isso, o caminho certo a seguir. "O simples aviso de Draghi de que faria tudo o que fosse necessário para assegurar a sobrevivência do euro foi suficiente para, por exemplo, a contracção do prémio de risco em Espanha. A diferença desta vez é que o mercado acreditou", referiu. Na sua opinião, os periféricos têm feito um grande esforço nos últimos anos para melhorar a competitividade das suas economias. Tanto em Espanha como em Itália, Bolton encontra oportunidades de investimento, apesar de que assume fazê-lo de forma muito selectiva.
"O sentimento em relação à Europa como um todo está a mudar." Isso levou o gestor de a sobreponderar esta classe de activos nas carteiras. Três razões justificam, na opinião deste profissional, este renovado interesse: valorizações atractivas, o posicionamento dos investidores e o ambiente macroeconómico que tende a melhorar. "Vale a pena recordar que o mercado de acções é um indicador que antecipa um cenário a doze meses melhor que o actual. Atravessámos uma crise empresarial massiva, que levou a que as empresas arrecadassem grandes volumes de liquidez que não investiram devido às incertezas sobre o futuro da zona Euro".
Estratégia da equipa e posicionamento
No processo de selecção, a equipa usa filtros quantitativos e qualitativos. "Baseamo-nos nos fundamentais de cada empresa, a sua avaliação, fluxos de caixa... Se vemos que é interessante, os analistas desenvolvem o modelo, em que se aloca a cada valor um preço-alvo. Se a acção o atinge, reavaliamos a empresa, estudamos as mudanças que ocorreram e, acima de tudo, a evolução do negócio. Isso permite-nos saber se é hora de vender ou não", explica. Este processo é complementado por reuniões com as direcções/administrações das empresas. "Visitamos anualmente cerca de 1.000 empresas. Aproveitamos esta oportunidade para entender o seu negócio e conhecer a sua estratégia".
O dividendo é um factor a considerar, mas não tudo. "Podemos encontrar empresas que não pagam um dividendo elevado porque os lucros são reinvestidos no negócio, que, se bem feito, poderá fazer crescer o valor." O dividendo, na sua opinião, deve ser sustentável. Recorda o caso de operadoras de telecomunicações, um sector que viu o seu negócio entrar numa espiral decrescente, obrigando os gestores a cortar os dividendos. geral, Bolton reconhece estar a adicionar valores cíclicos às suas carteiras, sobreponderando além dos sectores indústrias e matérias primas, empresas relacionadas com o consumo de bens, especialmente de luxo. Em posição contrária, está neutro relativamente ao sector financeiro.
No ano passado, a estratégia seguida pela equipa deu um bom resultado. No caso do BGF European Equity Income, o fundo ofereceu, no último ano, um retorno de 20,7%, 2,6 pontos acima do MSCI Europe. Por outro lado, a diferença que alcançou o BGF European Focus relativamente ao 'benchmark' foi ainda maior (5,4 pontos), com uma rendibilidade de 23,5% enquanto que o índice obteve 18,1% de retorno. Para 2013, Bolton prevê uma subida de 15% do mercado europeu, mas espera uma correção no curto prazo, estimada em cerca de 5%, o que a seu ver, não é grave.