O //Mí5sil…

A ideia de conduzir um carro com mais de 500 cavalos de potência, equipado com um 5.0 litros V10 derivado da Formula 1, faz com que acorde 10 minutos antes do despertador tocar, sinta borboletas na barriga e esteja pronto para sair de casa 15mins antes do que seria necessário!

Quando se ‘respira’ automóveis, é isto que acontece…

Estou-vos a falar da anterior geração do BMW M5, também conhecido pelo ‘E60’, que equipa com um dos motores mais loucos e rotativos de que há memória na indústria automóvel!

Sobretudo quando move uma ‘limousine’ com mais de 1.800kg de peso, quase 5 metros de comprimento e capaz de transportar, com generosa dose de conforto, 4 adultos e suas bagagens!

A cor negra acentua-lhe o fator ‘stealth’ e, estacionado, é um série 5 como tantos outros, até que… olhamos mais em detalhe e vislumbramos 4 generosas ponteiras de escape, grelhas de arrefecimento nos guarda-lamas dianteiros e enormes jantes de 19 polegadas que albergam não menos impressionantes discos de travão perfurados.

O mundo pára quando pressionamos o botão de start/stop! O V10 acorda para a vida com um estardalhaço de afugentar pombos e fazer disparar alarmes nas garagens, para depois acalmar num ralenti que parece…. Um diesel!

Bancos elétricos regulados ao milímetro garantem-nos uma posição soberba de condução. Em termos de apoio, absolutamente nada a apontar, tanto mais que podemos ‘encher’ e ‘esvaziar’ as laterais para garantir que não nos vamos mexer do sítio… afinal de contas, este míssil balístico, consegue mais de 1g em curva!

Caixa em ‘D’ e saímos de mansinho para deixar os fluídos ganhar alguma temperatura. A caixa SMG III é, desculpem-me os puristas… horrível!

Tentar conduzir com um ‘cheirinho’ de acelerador e no modo mais ‘soft’ da caixa é um arraial de sacudidelas de pescoço, hesitações e lentidão exasperante na resposta do carro… o motor é capaz de fazer 8.200rpm, mas em baixas, sofre de uma gritante falta de binário.

Chega de passeio!

Tomo as minhas pílulas da coragem, desligo as ajudas eletrónicas, coloco a caixa no setup mais agressivo, suspensão e diferencial em modo ‘sport’ e… pressiono o botão ‘M’ que faz disparar a potência de uns ‘discretos’ 400cv para o ‘full power’ de 507cv!!

Esmago o aceleradooooooooooooooor e ….Cristo!!!!

O som! O som! O som!

O 5.0 V10 invade todo o habitáculo e grita até às 8.200rpm, em 2ª, 3ª… meto 4ª! Meu Deus, vou quase a 200km/h… e sobram 3 mudanças!

Travo forte para a primeira curva, dois toques na patilha da esquerda e a SMG nem hesita em trazer-me para mudança pretendida!

Repito este processo vezes sem conta e acabo por me esquecer da caixa que, agora, de lenta não tem nada e até nos brinda com uns valentes ‘esticões’ a cada subida de relação!

As velocidades de passagem em curva são estonteantes e rapidamente esquecemos que conduzimos um carro com estas dimensões. Arrisco mesmo a dizer que a envolvência da condução é de tal ordem que é como se fizesse pequeno à nossa volta, constituindo uma extensão dos inputs do nosso cérebro!

A travagem é muito potente, mas ao final de alguns quilómetros de condução mais empenhada apercebo-me de alguma fadiga e de um certo alongar no curso do pedal… Convirá referir que o carro em questão já apresenta 9 anos de uso e mais de 90.000km percorridos.

De todas as formas, a fadiga na travagem está longe de ser o ‘calcanhar de Aquiles’ deste fabuloso automóvel. O real ‘problema’ está no apetite voraz com que este V10 seca o relativamente pequeno depósito de 70 litros… É que se por um lado já é difícil gastar menos de 20l/100, por outro é fácil superar os 30l/100 – e desculpa para os registar não falta – o que nos deixa com uma berlina familiar detentora de uma autonomia ridícula de pouco mais de 200km!

Sabem que mais?

Que todos os 200km ao volante de um carro fossem possíveis de ser assim!
Haja dinheiro para a ‘gasosa’!

Veja aqui o vídeo