O papel de Portugal na cena europeia da gestão de fundos imobiliários

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LusoFox, Flickr, Creative Commons

O sector imobiliário em Portugal tem sofrido alterações no que diz respeito à sua regulação e fiscalidade. O posicionamento do nosso país no que concerne à gestão de fundos imobiliários é, portanto, um assunto que divide opiniões. Como se posiciona Portugal no panorama da gestão imobiliária europeia? Seremos merecedores do título de “especialistas” comparando com outros mercados, ou a antiguidade não é suficiente para tal designação?

As opiniões dos especialistas da gestão de fundos imobiliários portugueses são diversas, mas têm na sua base uma crítica inerente à regulação. Para Rui Alpalhão, da Fundbox, apesar dos fundos imobiliários terem um papel de destaque no processo de “asset allocation” dos investidores institucionais, “em Portugal há bem menos institucionais do que na Europa”, fazendo com que a indústria de gestão de ativos se ressinta no segmento dos fundos fechados. Nessa mesma perspetiva de que as alterações fiscais têm sido prejudiciais, José António de Mello, da Selecta, indica que o “aforro dirigido ao investimento supervisionado” tem saído a perder, o que coloca “um grande entrave ao crescimento das estruturas base de gestão imobiliária”, refere.

Acompanhar evolução da restruturação

Mais positivo, Jorge Carvalho, da Banif Gestão de Activos, acredita que o país tem um historial interessante no que diz respeito ao desempenho na área. “A partir de 2001 Portugal tornou-se um dos principais especialistas na gestão de fundos imobiliários na Europa, sobretudo nos fundos abertos”, diz, não esquecendo que “Portugal teve capacidade de atrair investidores que saíram do mercado de capitais tradicional, beneficiando à semelhança de outros países na Europa, de vantagens fiscais  significativas, que serviram para impulsionar esta indústria”. O especialista deixa no entanto um aviso: “em face da conjuntura atual e da reestruturação que se tem verificado no sector, a gestão de fundos imobiliários e as entidades de supervisão deverão efetuar um esforço para acompanhar essa evolução”.

Profissionais bem preparados

Ainda que os fundos imobiliários tenham tido os mesmos problemas e virtudes que os restantes sectores da economia, Pedro Coelho, da Square Asset Management relembra que “os volumes sob gestão têm-se mantido estáveis sendo de prever que assim continuem”. Para o profissional, Portugal pode mesmo ter o título de “especialista” na gestão de fundos, quando comparado com outros países europeus, “não só porque a indústria já existe há mais de 25 anos, e também porque o volume sob gestão, em percentagem do PIB, é dos mais elevados da Europa”. Também com a mesma perspetiva, mas menos positivo, José Salgado, da ESAF, considera que tendo em conta o peso relativo da indústria no PIB nacional, o nosso país tem capacidade para ser especialista no sector. No entanto, para o profissional, “a rigidez normativa e fiscal da indústria” e a “total falta de internacionalização do asset allocation dos fundos nacionais”, são alguns dos factores que “obrigam a um esforço relativamente mais elevado dos gestores em Portugal, comparativamente com os congéneres europeus”.

Explorar oportunidades de negócio

Manuel Puerta da Costa, do BPI Gestão de Activos, olha atualmente para o sector com alguma cautela. No caso dos fundos fechados, o especialista acredita mesmo que “existe algum caminho interessante a percorrer nos próximos anos”. Também recordando o passado, Manuel Puerta da Costa indica que Portugal teve um dos maiores crescimentos da indústria de toda a Europa até há 3 anos atrás”, e deposita esperanças nos profissionais. “Estão muito bem preparados para lidar com os desafios que se colocam nos próximos anos”. José Pedro Belmar, do Popular Gestão de Activos, corrobora da mesma opinião. “Portugal tem profissionais com muito boas capacidades de gestão de fundos imobiliários”, indica  o profissional, para quem “o sector resistiu”, apesar da crise de 2008, “tentando explorar oportunidades de negócio dentro do mesmo: mercado arrendamento habitacional e de reabilitação urbana”, refere.

Para António Serralha Ferreira, da Silvip, a má performance do sector acontece não só no campo doméstico, mas também no resto da Europa. “Os resultados obtidos ficam dos FII’s aquém do desejável pelos seus gestores, apesar de manterem uma competitividade interessante”.

 

(Leia o artigo principal sobre as gestoras de fundos imobiliários na revista Funds People Portugal do 1º Trimestre de 2014, distribuída recentemente e em exclusivo aos profissionais do sector)

ERRATA: Por lapso, na revista distribuída aos profissionais, a opinião de Pedro Coelho, da Square Asset Management, foi erradamente atribuída a Luís Henriques, da mesma entidade. Neste mesmo artigo procedemos a esse reparo, com a atribuição correta.