O perfil do investidor no mercado primário de dívida pública desde 2020

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Créditos: Vitor Pinto (Unsplash)

Em 2021, já demos conta que Portugal emitiu dívida sindicada por duas vezes. A primeira do ano, realizada em fevereiro, registou um recorde de procura e a sua maturidade era de 30 anos. A segunda do ano, cuja maturidade era de 10 anos, foi realizada em abril e definiu um novo benchmark para a dívida nacional. Por sua vez, em 2020, Portugal emitiu divida sindicada a 7, 10 e 15 anos. Nestas emissões, o IGCP divulga um par de gráficos com o perfil e nacionalidade do investidor que absorveu a emissão.

Neste sentido, seria interessante observar se se verifica alguma tendência quer por tipo de investidor, quer por geografia, nestas emissões de dívida nacional. Mostramos, abaixo,  as emissões de dívida sindicada dos últimos dois anos, ordenadas cronologicamente, bem como o perfil de investidor e os países que mais absorveram dívida sindicada, no sentido de perceber se existe alguma tendência. 

As emissões de 2020

Na primeira emissão de 2020, realizada a 8 de janeiro, foram colocados no mercado 4 mil milhões de euros de dívida, com um cupão de 0,475%. Esta emissão, com maturidade a 10 anos, foi principalmente distribuída a fundos de investimento (40,3%) e instituições bancárias (30,8%) – representando estes dois investidores mais de 71% desta emissão. Seguiram-se as seguradoras com participação de 19,5%. Já no que toca à distribuição geográfica, o maior interesse veio por parte dos países europeus, nomeadamente, França, Itália e Espanha – que ficaram com 24,6% do montante emitido. O Reino Unido vem logo atrás deste conjunto de países com 20,6% de participação.

Por sua vez, ainda em 2020, a segunda emissão de dívida sindicada realizada pelo estado português foi feita a 1 de abril. Depois dos 4 mil milhões de euros emitidos em janeiro, o estado português colocava agora 5 mil milhões de euros de dívida no mercado à taxa de 0,475%. Com maturidade até 2027, ou seja, com maturidade de sete anos, esta emissão de dívida contava com menos participação de fundos de investimento (38,9%) e de seguradoras (8,5%), mas com mais representação de bancos (38,6%) face à emissão de janeiro. Geograficamente, os países da Europa como França, Itália e Espanha aumentaram a sua participação (28,8%), mas foi a região do Reino Unido (29,1%) que ficou com a maior parte da participação desta emissão

Chegámos a terceira emissão de 2020, realizada à data de 1 de julho. O estado português voltava a emitir 4 mil milhões de euros de dívida a 0,90%, desta vez com maturidade a 15 anos. Neste contexto, os fundos de investimento aumentaram significativamente a sua participação, fixando a sua participação em 48,4% - quase metade do valor total. Também as instituições seguradoras aumentavam a sua participação (15,7%), por outro lado, os bancos absorviam menos dívida face à emissão anterior. A nível regional, a distribuição dos dois principais investidores não se alterou, mas a América do Norte captou 13,6% desta emissão. Comparativamente à emissão anterior, esta região apenas captou 3,4%. 

E em 2021?

Passamos para o ano 2021, onde ocorreram duas emissões – as duas muito bem sucedidas. A primeira, que teve lugar no dia 3 de fevereiro, emitia 3 mil milhões de euros de dívida, com um cupão de 1%. A sua maturidade foi a mais longa das observadas até agora, nomeadamente, 30 anos. Os fundos de investimento (40,7%), as instituições bancárias (32,1%) e as seguradoras (14,2%) foram os principais investidores e, geograficamente, o conjunto de países França, Itália e Espanha foi o que voltou a ter mais participação nesta emissão (37,1%). Nota para o facto de a Alemanha, Áustria e Suíça aproximarem marginalmente a sua participação (14,9%) da do Reino Unido (17,6%).

Por fim, chegámos à última emissão de dívida sindicada destes 16 meses. Esta, realizada no dia 7 de abril de 2021 e com maturidade até 2031, correspondeu a uma emissão por parte do estado português de 4 mil milhões de euros de dívida no mercado à taxa de 0,3%. Os fundos de investimento e os bancos voltaram a registar a maioria da participação nesta emissão, totalizando estes dois investidores mais de 80% de participação do total emitido. Já geograficamente, observamos que Portugal aumentou significativamente a sua participação (16%), face aos 7,8% participados na emissão anterior. França, Itália e Espanha continuam a ser os países que compram mais divida portuguesa, seguido do Reino Unido. 

Em suma, pudemos constatar que a nível geográfico, o conjunto de países França, Itália e Espanha é o que absorve a maior parte da dívida emitida pelo estado português, qualquer que seja a maturidade, cupão ou volume da emissão. E, logo atrás desse conjunto, vem o Reino Unido. A participação de Portugal nestas emissões parece depender das características da mesma. Portugal não entra no pódio dos países que mais capta dívida sindicada em duas emissões e é precisamente quando as maturidades são as mais longas. Ou seja, quando é emitida dívida a 7 ou 10 anos, Portugal entra como o terceiro país que mais capta. Quando a maturidade é superior, Portugal regista muito menos participação. 

Já por tipo de investidor, os fundos de investimento - a par das instituições bancárias - são os que mais participação registam, qualquer que seja a característica da emissão. Contudo, na emissão mais curta (7 anos), os fundos de investimento participaram menos face às outras emissões. Relativamente às seguradoras e aos fundos de pensões, apesar de estas instituições serem sempre o terceiro investidor mais participativo nestas emissões, o peso destas entidades variou entre 8,5 e 19,5%. Sendo que, quando registou o peso mais elevado foi na emissão com maturidade mais curta e a maior participação foi na primeira emissão de dívida de 2020, com maturidade a 10 anos. De relembrar que, em 2020, nas carteiras de seguros e fundos de pensões, os instrumentos de dívida eram os ativos predominantes