O prolongamento do final do ciclo e a bolha nas ações dos EUA

Eric_Mijot
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“Estamos atualmente num contexto de uma gentil reflação, de uma recuperação nominal, com a inflação a evoluir positivamente e a par com o crescimento”, contextualiza Eric Mijot, head of strategy research na Amundi, numa conversa em que se propõe a explicar porque considera que os mercados de ações nos Estados Unidos estão a formar uma bolha. O profissional justifica o cenário descrito com o choque positivo da recuperação dos preços do petróleo, mas também com a chegada de Donald Trump à presidência da maior economia do mundo o que faz com que “todos os indicadores estejam a dar sinais positivos nos EUA”.

“Na Amundi achamos que o risco de uma recessão nos EUA não estará em cima da mesa durante os próximos dois anos, enquanto vemos um rebalanceamento da política monetária para a política fiscal, mantendo-se a primeira muito acomodatícia. Esta combinação de estímulos é muito positiva para os ativos de risco, mas ao mesmo tempo acreditamos que as valuations nos EUA estão muito elevadas”, refere Mijot. “Estamos a aproveitar o valor do prolongamento do final do ciclo”.

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Fonte: Amundi Crossroads 2017

O economista da Amundi ilustra esta posição com um mapa onde se pode observar a relação do crescimento do PIB (abaixo ou acima da tendência de longo prazo) com as políticas do banco central. Um crescimento acima da tendência é inflacionário. A vermelho estão representados períodos de contração de política monetária e a verde o oposto. “Movemo-nos da primeira fase para a segunda em maio de 2013, quando Bernanke falou pela primeira vez do ‘tapering’. E passámos da fase dois para a fase três no final desse tapering. Nesta fase é comum observarmos uma correção das matérias-primas, embora normalmente não aconteça na magnitude que verificámos. O próximo passo será uma fase de correção ou abrandamento significativo da economia, mas a questão mais importante é que quase todas as bolhas na história se formaram na terceira fase do ciclo”, elucida Eric Mijot.

No entanto, o profissional é peremptório ao afirmar que “as ações têm subido por muito boas razões. Há uma relação muito próxima das ações com os lucros e estes têm estado a subir, não só nos EUA, mas também na Europa e no Japão. Como disse, uma recessão não é a história que vai guiar os mercados nos próximos tempo, não há sobre-investimento nem sobreaquecimento. A economia está bem e vemos esse prolongamento do ciclo, mas o mercado está caro e daí é que advém o grande risco.”

Como se define uma bolha?

Nas últimas três recessões nos EUA a relação de preço e resultados (PER) nos mercados de ações do país ultrapassaram a chamada “regra dos 20” – 20 menos a inflação – e considerando um objetivo de inflação da Reserva Federal de 2%, um PER de 18X é o ponto fronteira, como demonstra o head of strategy research da Amundi. “No entanto, as últimas três bolhas duraram 12, 14 e 18 meses, respetivamente, o que nos dá margem para uma boa performance em 2017”, salvaguarda.

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A relação entre o nível de inflação no país e o PER mostra-nos que em períodos em que a inflação se situa entre 0% e 3% - uma inflação ligeira e positiva – o mercado está disposto a pagar o preço mais elevado pelas ações. Quando a inflação é superior paga menos e o mesmo, quando observamos deflação. A linha azul mostra exatamente a regra dos 20 e esta encaixa muito bem nas observações”, destaca.

Vivemos portanto, segundo o profissional, numa situação semelhante à que aconteceu em 1987 ou 1996, quando Greenspan falou de uma ‘irrational exuberance’. “É dessa forma que eu defino uma bolha, um exagero em termos de valutions. A questão é: quanto tempo passaremos no processo de formação desta bolha”, conclui.