Foi um dos fundos de ações europeias mais na moda no mercado da Península Ibérica, mas dois anos difíceis relativamente a resultados dissiparam o interesse do investidor por um produto que voltou a recuperar as cinco estrelas Morningstar.
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O UBS (Lux) European Opportunity Unconstrained foi um fundo de ações europeias long/short que, até 2015, teve um grande sucesso no mercado da Península Ibérica. O seu bom comportamento situou-o como uma das estratégias de bolsa europeia mais na moda, o que fez com que o seu volume de ativos na Península Ibérica aumentasse. No entanto, dois anos difíceis para o fundo a nível de resultados dissiparam o interesse por uma estratégia que até perdeu as cinco estrelas Morningstar. Após essa dura travessia do deserto, o fundo voltou a recuperar as cinco estrelas Morningstar (na sua classe Q, a limpa).
Hoje, os seus gestores, Max Anderl e Jeremy Leung, explicam como viveram esses anos tão difíceis para a estratégia, anos que foram um borrão numa trajetória até então imaculada. O que lhes aconteceu naquele fatídico 2016? “Naquele ano vimos rentabilidades muito díspares em função do setor. Os mercados foram impulsionados pelo sentimento (Trump, Brexit, o programa de estímulos chineses) e uma preferência pela tomada de riscos. Uma das causas foram os fundos multi-ativos que investiram grandes quantidades de ativos como resultados da sua análise top-down. Este efeito foi benéfico para nós em 2015, mas em 2016 foi um grande detrator”.
Quase toda o underperformance concentrou-se no segundo semestre de 2016. As suas posições curtas em setores cíclicos, como matérias-primas e indústria, viram-se prejudicadas como consequência da enorme revalorização que registaram. Isto apesar de que muitas destas empresas registaram uma diminuição nos seus lucros durante 2016. “Estávamos subponderados em empresas mineiras que aparentemente eram baratas, mas que apresentavam balanços frágeis e que poderiam ter sofrido perante uma queda do preço das matérias-primas. Algumas melhoraram a sua situação rapidamente, graças a uma recuperação nos preços das matérias-primas e ao inesperado programa de estímulo chinês”, explicam. Também sofreram devido à sobponderação no setor bancários, que teve um bom comportamento, seguindo a estela dos bancos norte-americanos.
Como se isso não bastasse, várias das suas posições no setor da saúde, viram-se afetadas negativamente apesar dos seus bons resultados. “O mercado castigou em força a indústria farmacêutica devido ao medo de uma reforma no setor da saúde norte-americano. O mau comportamento dos bond proxies, como o consumo básico, afetou ainda mais a rentabilidade, uma vez que os investidores se centram apenas no potencial de um possível programa de incentivo ainda desconhecido depois das eleições norte-americanas. A maioria das empresas que tínhamos em carteira tiveram um bom comportamento desde um ponto de vista fundamental, embora lamentavelmente em muitos casos isto não se tenha refletido no preço das ações”.
Olhando para trás, os gestores acreditam que a maioria destas anomalias foram corrigidas parcial ou totalmente. “Os bancos voltaram a cair, as minas também sofreram correções, enquanto as empresas de consumo básico e saúde recuperaram”.
Os gestores reconhecem que cometeram um erro ao subestimar a disposição do mercado em refletir no preço uma recuperação cíclica do mercado durante 2016 e 2017. “Desde então, tornámo-nos mais cautelosos com as nossas apostas setoriais e equilibrámos as carteiras entre fatores cíclicos e defensivos. Queremos que continue assim. Ajudou a estabilizar a nossa rentabilidade, uma vez que a seleção de valores não foi o problema em 2016. Em segundo lugar, agora monitorizamos com mais detalhe os fluxos, de modo a sermos mais rápidos a identificar e a reagir a estas situações. Simultaneamente, mantivemos vivo o espírito flexível da carteira mantendo consistentemente um active share superior a 100%”, destacam.
Na sua opinião, a maioria dos gestores de fundos que obtiveram bons resultados em 2016/17 conseguiram-no apostando em nomes mais arriscados e de pior qualidade, que tiveram um bom comportamento apoiados por uma possível deflação na seleção de ações. Assim, procuraram empresas com uma boa relação rentabilidade-risco no nosso modelo de investimento baseado em fundamentais, fatores qualitativos e quantitativos. Ao fazê-lo, estávamos bem posicionados para uma recuperação da rentabilidade este ano, na altura em que os investidores mudaram o seu enfoque para os fundamentais”.
Anderl e Leung acreditam que, o facto de a gestão passiva estar a ganhar cota de mercado, cria oportunidades. “O alfa não foi gerado de forma recorrente mês após mês, mas sim de uma forma mais volátil. Por exemplo, no caso da existência de grandes fluxos de entrada em ações europeias, como a que tivemos no segundo semestre de 2016 e 2017, qualquer distorção de preços pode demorar a aparecer até que o fluxo diminua ou fique negativo como vimos no segundo e terceiro trimestres de 2018”.
No que diz respeito às suas previsões de mercado face ao futuro, os gestores veem hoje o panorama económico geral menos claro. “Vimos uma desaceleração em 2015, seguida de uma recuperação em 2016 e um crescimento sincronizado em 2017. Acreditamos que o crescimento desenvolver-se-á de forma menos sincronizada a partir de agora e alguns países irão registar até desacelerações significativas. Os grandes bancos centrais agora também estão em caminhos divergentes, com a Fed e alguns outros a endurecer a política monetária, enquanto o resto continua com uma política monetária relativamente flexível. Isto deverá tornar-se num contexto interessante para os stock pickers como nós que procuram uma boa rentabilidade-risco”, concluem os gestores da UBS AM.