Os depósitos bancários norte-americanos têm vindo a diminuir desde o pico da COVID e o colapso do Silicon Valley Bank e do Signature Bank tem alimentado as dúvidas dos clientes sobre as entidades regionais americanas.
Os depósitos bancários norte-americanos têm vindo a diminuir desde o pico da COVID. “Isto é o que normalmente acontece quando a Reserva Federal começa a subir as taxas. Os bancos norte-americanos pagarão mais por depósitos estáveis assegurados e a percentagem de depósitos remunerados (74% no quarto trimestre de 2022) irá aumentar, o que afetará a margem de lucro líquida”, afirma Filippo Alloatti, responsável de Crédito Financeiro na Federated Hermes. Mas como se pode parar a crise de confiança dos aforradores norte-americanos nos bancos regionais do país?
Segundo Jérémie Boudinet, responsável de Crédito de Investment Grade da La Française AM, a crise de liquidez dos bancos regionais norte-americanos não pode terminar sem assegurar que os bancos mais pequenos são devidamente geridos. “A excessiva desregulação e a insuficiente supervisão nos Estados Unidos levaram ao desaparecimento do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, o que evidenciou os problemas mais gerais dos bancos regionais e, por sua vez, provocou a atual ronda de tensões nos mercados financeiros”, explica.
Que nível de confiança pode ser colocado num sistema em que os bancos com menos de 250.000 milhões de dólares de ativos podem gerir o seu balanço com o que parece ser uma total falta de competência (Silicon Valley Bank apenas teve uma política de cobertura de taxas de juro em 2022 e passou a maioria do ano sem um diretor de riscos) sem que nenhum alerta regulamentar fosse acionado? O que é necessário para acalmar a atual crise de liquidez dos bancos regionais norte-americanos? O especialista considera que são necessárias cinco medidas.
As cinco medidas necessárias para travar a crise de confiança
- Mais regulação e controlo
“Todos os bancos com mais de 50.000 milhões de dólares em ativos devem estar sujeitos a rácios de liquidez, provas de robustez e normas TLAC (Capacidade Total de Absorção de Perdas)”, afirma.
“Quer através de aquisições privadas por parte de bancos maiores, quer através da administração judicial da FDIC”.
- Potencialmente mais capacidade de intervenção por parte da Reserva Federal e do Governo
Na sua opinião, uma garantia total de todos os depósitos por parte da FDIC parece difícil de conseguir de forma generalizada, mas pode ser uma boa solução.
- Grandes bancos norte-americanos ao resgate: mais apoio global do que a simples injeção de depósitos no First Republic Bank
“Os grandes bancos norte-americanos são os beneficiários da atual crise, uma vez que devem estar a ganhar depósitos graças a esta fuga para a qualidade dos fluxos monetários”.
- Rever o coeficiente de liquidez Basileia III
A mais longo prazo, Jérémie Boudinet acredita que também será preciso rever os coeficientes de liquidez dos Acordos de Basileia III, uma vez que - na sua opinião - o coeficiente de cobertura de liquidez não reflete a velocidade das saídas de depósitos. Também destaca que, entre as cerca de 5.000 entidades de crédito dos Estados Unidos, apenas 14 devem publicar um Coeficiente de Cobertura de Liquidez. “Pelo contrário, praticamente todos os bancos europeus devem cumprir esta norma de liquidez”, recorda.