O que está por detrás da compra da Eaton Vance por parte da Morgan Stanley

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Helloquence, Unsplash

Ano de fusões e aquisições na indústria de fundos. Mas o último grande movimento não foi a união de duas gestoras. Desta vez foi um banco, Morgan Stanley, que se focou no negócio da gestão de ativos. O que está por detrás da sua compra da Eaton Vance por 7.000 milhões de dólares? Analisamos as áreas estratégicas a que acede a entidade financeira.

Os números da operação

Comecemos pelo preço. A Morgan Stanley pagará um total de 60,75 dólares por ação da Eaton Vance: 56,50 dólares por ação e um dividendo único de 4,25 dólares pago com as reservas da Eaton Vance. 50% (28,35 dólares) será em dinheiro e outros 50% em ações da Morgan Stanley. Esses 56 dólares vão representar oferecer um prémio sumarento face aos 41 dólares a que negociava a Eaton Vance na última sessão antes de se saber da notícia.

Como é o preço? Para Greggoty Warren, analista da Morningstar, é quase 14 vezes o EBITDA anual médio durante os últimos cinco anos, o acordo paga-se com um pouco de prémio. “Está muito acima do múltiplo de transação do EBITDA da taxa de execução média, de 10 vezes, que vimos nas operações com gestoras de ativos durante a última década.

O porquê

Como comentávamos antes, o que esta operação corporativa tem de diferente face a exemplos recentes como Franklin Templeton-Legg Mason ou Jupiter-Merian é que é um banco a comprar uma gestora, quando a tendência geral entre a banca é desfazer-se das suas gestoras. Além disso, está a ser um ano ativo para a Morgan Stanley, que há apenas dias fechou formalmente a aquisição da plataforma de trading E*trade. Como recorda Warren e insistiu o próprio CEO da financeira na chamada com analistas, a Morgan Stanley há algum tempo que se quer reforçar o seu negócio de investment e wealth management. “O atrativo do negócio da gestão de ativos para um banco de investimento é que tem poucos ativos e tende a gerar um fluxo constante de comissões, ainda que esteja mais correlacionado com os rendimentos do mercado de valores e crédito”, explica Warren. E assim o confirmaram na apresentação. A Morgan Stanley procura posicionar o seu balanço em fontes de lucros mais duradouros e de menor risco.

Segundo se pode ver no gráfico da apresentação da operação, com os ativos da Eaton Vance quase duplicaram os seus ativos no negócio da gestão de ativos (investment management). Isto elevará os seus ativos sob gestão para 1,2 biliões de dólares (pouco mais de um bilião de euros). Para a Morgan Stanley Investment Management é um crescimento relevante, sim, mas não a catapulta entre as megaempresas como a BlackRock ou a Vanguard. Com número no fecho de 2019, situa-se próxima das 15 primeiras por tamanho a nível mundial, perto da Wellington e da T. Rowe Price.

As áreas estratégicas: ESG e indexação personalizada

Mas não devemos olhar apenas para meros números. A Eaton Vance é mais do que os seus fundos de investimento. As verdadeiras joias da compra são os negócios da Parametric e Calvert. Isto é, abrir a porta a duas áreas estratégicas: a indexação personalizada e a ESG. Para a Morgan Stanley, são os dois nichos posicionados para o crescimento.

Um dos pontos nos quais insistem é que existe pouca sobreposição nas capacidades de ambas. Vejamos se é assim:

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É certo que a Eaton Vance lhes abre a porta para soluções retail personalizadas e fecha várias brechas no espaço de fixed income em obrigações municipais (onde fornece 57.000 milhões de dólares em ativos) e obrigações flutuantes. Também reforça o nicho de empréstimos financeiros e high yield. Mas isso não faz com que deixe de haver áreas mais tradicionais, onde ambas são fortes.

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Na área de distribuição parecem completar-se mais. O forte da Morgan Stanley IM é o plano internacional, com uma capacidade de distribuição global, de onde procede 65% das suas vendas brutas. Pelo contrário, a Eaton Vance é um jogador puro nos EUA.