O que está por detrás da correção no setor das energias limpas

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Créditos: Sam Knight (Unsplash)

O ESG continua imparável também em 2021. A categoria Morningstar com maiores fluxos líquidos no primeiro trimestre é a de Equity Ecology. Nos três primeiros meses do ano entraram 13.689 milhões de euros. É uma entrada de dinheiro para um nicho específico, mas apesar disso superou em captações categorias mais amplas como as ações Global Blend Large Cap. Superou em fluxos líquidos até os setoriais de tecnologia.

É um movimento de dinheiro que se pode entender olhando para as sumarentas rentabilidades do ano passado. Em 2020 o fundo de ações de uma gestora internacional mais rentável do ano foi precisamente de Equity Ecology. Falamos do BNP Paribas Funds Energy Transition, que se valorizou 164,57% (em euros). Mas foi um bom ano para a temática da transição energética. Fundos como o Schroder ISF Gobal Energy Transition rentabilizaram cerca de 90%.

Podemos observá-lo mais claramente no gráfico seguinte, que reflete os fluxos líquidos mensais para Equity Ecology. Como vemos, o movimento de dinheiro não despertou verdadeiramente até à segunda metade de 2020. Nessa altura, o setor já se estava a destacar no mercado. E ainda assim a onda importante chegou em janeiro de 2021, em sintonia com os rebalanceamentos de carteiras no início do ano. Nos meses seguintes a tendência acalmou, mas os fluxos continuam a ser relevantes e em positivo.

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E não é um fluxo que se tenha concentrado numa ou duas estratégias concretas. Algo que às vezes distorce a análise das tendências em fundos na Europa. No cômputo do primeiro quadrimestre, quatro estratégias de Ecology captaram mais de 1.000 milhões de euros. São o ACS Climate Transition World Equity T0, da BlackRock, o Pictet – Global Environmental Opportunities da Pictet AM, o BNP Paribas Energy Transition da BNP Paribas AM e o Nordea 1 – Global Climate & Environment de Nordea AM. Mas o Schroder ISF Global Climate Change da Schroders também se aproxima desta quota.

Tal foi a procura que dois desses fundos tiveram de anunciar um soft close para gerir a onda de fluxos. O Nordea 1 – Global Climate & Environment e o BNP Paribas Energy Transition (já reaberto).

O que está por detrás das correções em energias limpas?

Mas este apetite dos investidores coincidiu com um momento complicado no mercado como se pode observar no gráfico da BNP Paribas AM. Ilustrado com o iShares Global Clean Energy, o principal índice de energias limpas viu uma queda de 28% desde os máximos de 8 de janeiro de 2021. Mas, claro, é uma correção após um rally especular em 2020.

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Para a BNP Paribas AM, os fundamentais continuam a ser sólidos. As novas tecnologias estão a ganhar escala, como o hidrogénio e o armazenamento de baterias, os preços nos mercados de carbono quase duplicaram de 20 a 40 euros a toneladas, os veículos elétricos estão a alcançar a paridade com os motores de combustão interna e a procura de equipas e serviços de soluções ambientais nunca foi tão forte. “Temos estado ao telefone com os responsáveis de uma empresa de hidrogénio que nunca teve uma carteira maior de pedidos e parecia muito confiante face às suas perspetivas”, contam. “Tem um potencial de subida de 75% face ao preço objetivo que temos para as suas ações”.

O que explica então essas vendas? Por um lado, temos um fator técnico importante. O ETF anteriormente citado anunciou uma recomposição do índice a partir de 2 de abril de 2021. Isso provocou um fluxo de reponderação substancial numa mão-cheia de nomes da Europa e Estados Unidos. “Isto gerou uma venda mais ampla em certas empresas que por sua vez proporcionou uma venda mais generalizada por parte dos investidores passivos e de retalho”, explicam na gestora.

Além disso, o setor da ecologia não esteve isento de rotação. “A energia eólica e solar chegaram a sofrer a reversão do sentimento, assim como saídas de estratégias ambientais passivas”, conta Luciano Diana, gestor do Pictet Global Environment Opportunities. Por outro lado, a maioria das ações de aplicações informáticas de engenharia consolidaram lucros anteriores, tal como as empresas relacionadas com o controlo da poluição. Por sua vez, as empresas relacionadas com recursos naturais não beneficiaram da rotação do mercado para cíclicas. Também o percebeu Xavier Chollet, gestor de Pictet Clean Energy.  Em energias limpas houve uma realização de mais-valias a curto prazo, conta. Ainda assim destaca que os fundamentais a longo prazo são cada vez mais favoráveis. “A transição energética para solar e eólica vai acontecer, até num contexto de crescimento económico baixo”, sentencia.