Os estímulos governamentais, as novas políticas de apoio aos acionistas e a melhoria económica atraem investidores locais e estrangeiros.
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Os últimos dados de atividade económica e industrial da China, bem como algumas medidas do governo, continuam a ser um incentivo para os investidores. A atividade industrial da China expandiu-se ao ritmo mais rápido em quase dois anos em maio. Além disso, sabemos que o PIB do primeiro trimestre foi sólido, e tudo aponta para que o objetivo de crescimento do governo de 5% para este ano seja alcançável, tanto que o próprio FMI reviu em alta as suas estimativas de crescimento do PIB tanto para 2024 como para 2025. Já no início de maio comentávamos sobre a favorável evolução das ações chinesas, mas agora fazemos uma recapitulação.
Alterações importantes que justificam a evolução positiva
- Medidas para estabilizar o setor imobiliário que abordam tanto a procura como a oferta, inclusive a redução do pagamento inicial ao nível mais baixo da história e a eliminação do limite mínimo das taxas hipotecárias para atrair compradores para o mercado. Também é promovida a compra de apartamentos acabados e não vendidos por parte de empresas estatais, transformando-os em habitações sociais. Além disso, foi introduzido um serviço de empréstimo de até 500.000 milhões de yuans em financiamento de bancos comerciais (equivalente a 0,4% do PIB).
- O governo chinês tem sido mais transparente nas suas compras de ações para estabilizar o mercado. Entidades como a Central Huijin Investments aumentaram as suas participações em ETF e ações bancárias.
- Novas políticas de apoio aos acionistas, como as publicadas pelo Conselho de Estado a 12 de abril, controlando a oferta de OPV, encorajando as empresas a pagar dividendos e melhorando o governo corporativo. Além disso, são promovidos produtos bancários e fiduciários para se alocar mais a ações.
- O regresso dos investidores locais e globais (ver abaixo)
- Melhoria económica: o PIB cresceu 5,3% no primeiro trimestre, superando as expetativas. A produção e o consumo também recuperaram, especialmente em serviços como viagens e restaurantes.
- O crescimento interanual dos lucros do MSCI China entrou em território positivo pela primeira vez desde o início de 2021, ajudado pelo aumento das recompras e dos pagamentos de dividendos por parte das empresas de internet.
- Os títulos chineses entram na Era dos dividendos: o regulador chinês mudou o indicador do retorno das empresas estatais, passando dos lucros líquidos para o ROE, fazendo com que empresas com excesso de liquidez possam pagar mais dividendos e, assim, aumentar a rentabilidade do capital.
Títulos chineses entram na Era dos dividendos
Além da medida mencionada, na Fidelity International comentam que o regulador de títulos proibiu os acionistas maioritários de vender ações se a empresa tiver pago poucos ou nenhuns dividendos nos últimos três anos, afirmando ainda que isso vai pressionar as empresas a pagarem dividendos várias vezes ao ano.
Em 2023, o pagamento de dividendos dos membros do Índice Composto de Shanghai aumentou 13% em relação a 2022. E em março deste ano, o Ping An Bank propôs o pagamento de 13.900 milhões de yuans (1.900 milhões de dólares) em dividendos, elevando o seu rácio de pagamento para 30% face a uma média de 12% nos cinco anos anteriores.
A mensagem é clara: os reguladores chineses estão a intensificar os seus esforços para obrigar as empresas locais a pagar dividendos mais elevados ou a recomprar mais ações numa tentativa de torná-las mais atrativas para os investidores.
Desempenho das ações chinesas em 2024
Após o colapso em janeiro, induzido pelos derivados que fizeram cair as ações chinesas nas bolsas de Shanghai, Shenzhen e Hong Kong, alargando-se para os ADR cotados nos EUA, a recuperação foi significativa. Algumas ações subiram graças a estímulos governamentais e valorizações atrativas. A NetEase, JD.com e VipShop são exemplos de empresas com potencial de crescimento, segundo comentou Ronald Chan à FundsPeople, fundador e diretor de Investimentos da Charwell Capital Limited.
De 2 de fevereiro até ao final de maio, o índice composto de Shanghai ganhou 14,22% e o índice Hang Seng 16,39% face aos 6,43% do S&P 500 e aos 5,10% do Nasqad 100. Apesar da recolha de lucros em maio, os índices continuam num nível positivo. “Até agora este ano (desde 19 de janeiro), a China situa-se no topo dos mercados emergentes”, assinala Stephen Kam, responsável de Gestão de Ações Ásia ex-Japão da Schroders. No entanto, ainda se situa abaixo do MSCI EM e do MSCI ACWI.

Neste sentido, Shadia Fayad, responsável de Negócio Wholesale para a Península Ibérica da HSBC AM, destaca o bom comportamento interanual de algumas empresas públicas de elevada qualidade nos setores da energia, bancos, telecomunicações e materiais, com uma elevada rentabilidade por dividendo e claras perspetivas de crescimento.
Não esquecendo o setor de energias renováveis e veículos elétricos, empresas como a BYD ou Contemporary Amperex Technology alcançaram rentabilidades superiores a 20% e 30%, respetivamente. Paul Doyle, responsável de Ações de Elevada Capitalização Europeia na Columbia Threadneedle Investments, comenta que “os veículos elétricos inundam a China, que agora é o maior exportador de automóveis”.
Os fluxos voltam a acelerar
A nível local, os fluxos do Southbound Stock Connect (o programa de acesso mútuo ao mercado que permite aos investidores da China continental investir em títulos cotados em Hong Kong) mostram que os investidores chineses já começaram a regressar.

Na Europa, apesar de os fluxos de saída registados em abril nos fundos de investimento e ETF europeus, tanto da categoria Greater China Equity como dos que têm maior peso de ações chinesas, a equipa de análise da FundsPeople comenta que "em abril assistimos a uma alteração da segunda derivada da curva de alocação média dos fundos de investimento europeus de ações globais e asiáticas. Este aumento da alocação média pode ser uma indicação de que os gestores de fundos profissionais, em média, estão a mudar a sua visão sobre as ações chinesas. Isto acontece quando o índice MSCI China ainda se encontra num nível mínimo (em USD)”.
