O que fazer para ultrapassar a incerteza nos mercados?

AndreasWosol_Amundi
Cedida

Depois de um ano de 2017 relativamente calmo, os investidores deparam-se, desde janeiro passado, com um contexto de mercado bem mais desafiante do que até então tinha sido. O investimento value não escapa a este momento, embora para Andreas Wosol, gestor da Amundi, existam agora pontos bastante atrativos de entrada nos mercados. Assim, apesar dos níveis de volatilidade mais elevados, o gestor não vê a volatilidade como um inimigo: “Vemos sempre a volatilidade como uma oportunidade, uma vez que esta é necessária para que possamos encontrar oportunidades de investimento a longo prazo”, avança.

De facto, a estratégia liderada por Andreas Wosol, o fundo classificado com o selo Blockbuster Funds People Amundi Funds II – European Equity Value, que assenta num processo de investimento disciplinado de análise fundamental, procura aproveitar a recente desvalorização das ações em certos sectores registada nos últimos meses. “Ainda que a dinâmica de crescimento subjacente se mantenha, os preços das ações têm vindo a cair e isso oferece oportunidades de investimento. Regra geral, temos vindo a verificar essas oportunidades na parte mais pró-cíclica dos mercados, áreas onde verificamos uma alocação e perceção incorretas por parte do mercado”, explica o gestor.

Bens de investimento, retalho e consumo discricionário são algumas das áreas onde veem oportunidades, estas que têm vindo a ser impactadas pela alteração das perspetivas de mercado, em particular face a um possível abrandamento da economia europeia. O sector automóvel tem também vindo a surgir como uma área atrativa, “que atualmente transaciona a um desconto em comparação com aquilo que consideraríamos adequado numa situação de normalização”, refere o gestor. Para além destas, áreas como matérias-primas ou químicos têm vindo a ser acompanhadas com maior atenção.

Diferentes interpretações de valor

O sector financeiro, por outro lado, é uma área onde Andreas Wosol considera que é necessário ter cuidado, sendo a razão pela qual muitos investidores consideram que o investimento value na Europa não tem vindo a obter resultados satisfatórios. “O value não tem alcançado resultados positivos nos últimos anos, em particular na Europa, devido a problemas estruturais ao nível dos índices”, começa por dizer, acrescentando que cerca de 20% do índice europeu corresponde a bancos. De facto, “não existe qualquer outra região que apresente um peso tão preponderante do sector financeiro como o mercado europeu, e, como tal, sob a perspetiva do índice, o value apresenta um comportamento menos favorável”, explica o gestor.

É por isso que Andreas Wosol considera que é necessário um foco para além deste sector, algo que, sendo aplicado, apresenta uma face do investimento value completamente diferente: “O value é um estilo de investimento muito mais abrangente e que, para nós, assenta em dois critérios-chave. São eles o valor intrínseco e a margem de segurança, dois critérios que evitam uma sobrecarga do sector bancário e, assim, proporcionam dinâmicas e performance bastante diferentes”, revela.

Para perceberem o valor intrínseco de uma empresa recorrem a um modelo de ‘normalized earnings power discounted cash flow’. “Para nós, o importante é analisar o earnings power normalizado de uma empresa. Procuramos, com a utilização desse indicador, ter a certeza que não pagamos em excesso por um ativo”, adianta o gestor. Realizada esta etapa, alocam a margem de segurança, que é uma expressão do risco que poderão enfrentar no futuro: “Temos várias margens de segurança, dependentes da qualidade de um ativo. Todas as ações são alocadas a duas categorias, às quais chamamos ‘basic value’ e ‘consistent earner’, sendo que estas definem a qualidade da empresa tendo em conta o perfil de retorno histórico do seu negócio. Temos uma margem de segurança mínima de 20% para as empresas de maior qualidade. Quanto maior risco tiver um ativo, maior terá de ser a sua margem de segurança”, detalha Andreas Wosol.

Outra das características da carteira é o facto dos títulos que a compõem serem igualmente ponderados. “A carteira é construída de tal forma que cada ação representa uma parte igual do NAV do portefólio em qualquer momento. Com isto, não só beneficiamos da possibilidade de explorar mercados ineficientes, mas também evitamos a concentração da carteira em poucas ações de grande dimensão, resultando num portefólio mais equilibrado em termos de estrutura de tamanho”, explica o gestor. Por outro lado, acrescenta que esta característica “implica um reequilíbrio disciplinado da carteira que tem em conta a regressão à média dos retornos das ações”.

Sector financeiro

Dito isto, e voltando ao sector financeiro, o especialista acredita que este deve ser separado em três áreas distintas: bancos, seguros e diversified financials. Atualmente, detêm exposição a bancos, embora bastante cautelosa, e não têm qualquer exposição a diversified financials. “Este posicionamento resulta apenas de um processo de stock-picking assente nas nossas convicções fundamentais. Só investimos em modelos de negócio viáveis quando o seu preço de transação é barata quando comparada com o seu valor intrínseco”, ressalva. De facto, o contexto atual, com todas as alterações regulatórias, a disrupção e o ambiente económico que não favorece os bancos, devido ao aplanamento da curva de yields, por exemplo, não permite que estes transacionem como antigamente e torna difícil a análise da futura rentabilidade de um banco.

Tendo isto em conta, a preferência recai sobre modelos bancários de retalho e comerciais, em detrimento dos bancos de investimento. Assim, para este tipo de modelos de negócio definem um mínimo de 10% de return on equity ou de poder de lucros normalizado, bem como a margem de segurança, cujo mínimo é de 20%. “Se o banco corresponder a estes critérios, podemos considerar que é uma oportunidade atrativa. De momento, tendo em conta que os bancos têm vindo a registar performances baixas ao longo dos últimos anos, acreditamos que esta área proporciona algumas oportunidades de investimento, sendo que alguns nomes de bancos para os quais não olhávamos háà algum tempo estão agora a transacionar a níveis interessantes. Ainda assim, as regras são as mesmas: não pagar excessivamente por um ativo bancário”, explica Andreas Wosol.

Para Andreas Wosol, “a única forma de ultrapassar a incerteza nos mercados é levar a cabo um processo disciplinado, o que ajuda a produzir retornos ajustados ao risco para os unit-holders”. E isto é algo que, segundo o especialista, têm vindo a conseguir demonstrar ao longo dos dez anos de existência do fundo, mantendo-se fiéis àquilo que sabem fazer melhor: “analisar negócios, avaliá-los e utilizar a subvalorização”.