O renascer do Carmignac Patrimoine

Rose Ouahba e David Older
Cedida

Foram três exercícios muitos complicados para o Carmignac Patrimoine. O fundo bandeira da gestora parisiense fechou 2017 e 2018 no último quartil da sua categoria e 2019 em penúltimo. Neste contexto de rentabilidades dececionantes o fundador da empresa, Edouard Carmignac, passou o testemunho a Rose Ouahba, responsável de obrigações, e David Older, responsável de ações. Agora, após a renovação dos gestores, o fundo pode falar de renascer. Este ano gerou uma rentabilidade de 6,11%, o que o situa no primeiro percentil da categoria de mistos moderados.

O ponto-chave do bom ano foi uma abordagem equilibrada, segundo explicaram os gestores num recente encontro com meios de comunicação. Por um lado, as suas previsões de que estamos a entrar num período de baixo crescimento generalizado levou-os a focarem-se em empresas com boas perspetivas de crescimento secular. Mas, por outro lado, estão a ver oportunidades mais táticas em alguns valores cíclicos, em empresas que beneficiem de uma progressiva normalização da reabertura da economia como as linhas aéreas, as agências de viagens ou de venda de bilhetes online. E o toque final é uma pequena exposição ao ouro (3,8%), uma matéria-prima que, na opinião dos gestores, beneficiará por ser um “guardião do valor”.

Atualmente destacam quatro temáticas principais de longo prazo na carteira deste fundo da Carmignac com Selo FundsPeople 2020 pela sua classificação de Blockbuster:

  1. A digitalização representa 18,8% da carteira. Reúne os conceitos como o consumidor conectado, as fintech, e a inovação no campo médico. Reflete-se em nomes como Adyen, Jd.com ou ZFSW.
  2. As mudanças demográficas representam 13,7% do fundo. Referem-se ao envelhecimento da população, à desigualdade de ordenados e à urbanização. Estão refletidas em nomes como Sanofi, Hermés ou Constellation Brands.
  3. Os aceleradores tecnológicos representam 9%. Estão relacionados com a cloud, o big data ou a conectividade via empresas como a Salesforce, a Samsung ou a Kingsoft Cloud.
  4. As mudanças climáticas representam 0,9%. Esta temática mão só se refere à transição energética, mas também a empresas que capitalizem a mobilidade do futuro.

Na parte de obrigações influenciam duas máximas, segundo resume Ouahba. Por um lado, os bancos centrais estão a trabalhar para garantir a estabilidade. Por outro lado, também estão a trabalhar para comprimir a volatilidade. Isto gera um contexto curioso no qual o investidor conta com uma certa proteção, mas no qual também deve estar consciente que algumas yields serão artificiais.

Com estas duas ideias em mente, o fundo encontra valor na dívida periférica dos países europeus. “A cotação das obrigações de Itália está a comportar-se cada vez mais como a de um país core”, nota Ouahba. Na sua opinião, os periféricos oferecem a dupla vantagem de menos potencial de queda e uma yield positiva.

2020 CMVM

No espaço do crédito, pelo contrário, estão a ser mais seletivos. “Após meses a jogar com o beta chegou momento do bond picking”, conta a gestora. Como mencionámos anteriormente, os gestores não receiam mergulhar nos setores diretamente impactados pela COVID-19, emissores que a estes níveis têm margem para subir. “É importante agarrar esta oportunidade agora que as valorizações são sumarentas. Isto sem esquecer os fundamentais”, afirma.