O regresso de Draghi: esta é a razão pela qual os mercados e as gestoras estão otimistas

Dichiarazione del Prof Mario Draghi al termine del colloqui con il Presidente Sergio Mattarella,al Quirinale(foto di Francesco Ammendola - Ufficio per la Stampa e la Comunicazione della Presidenza della Repubblica)

Convocado há algum tempo, chega como a figura mais prestigiosa que pode liderar Itália. Voltar a pôr o país no mapa da Europa, antes que a dívida descontrolada asfixie a economia. O retorno de Mario Draghi parece ser um bom presságio pedido pelos mercados. O FTSE MIB era na quarta-feira o índice que mais subia na Europa. E o spread das obrigações italianas caiu para mínimos não vistos há anos: 105 pontos base.

O presidente da república, Sergio Mattarella, confia a Mario Draghi a tarefa de criar um novo governo institucional. Draghi aceita, mas, como disse na conferência de imprensa, confirmará o seu sim no fim das consultas. “É um momento difícil”, afirmou. “Dirijo-me ao Parlamento, expressão da vontade popular. Confio que do confronto com os partidos e grupos parlamentares surja a unidade e com ela a capacidade de dar uma resposta responsável e positiva”.

Euforia do mercado

Salvador da zona euro em duas ocasiões (quem recorda o seu famoso “custe o que custar”, mas também a imagem da bazuca de flexibilização quantitativa), o ex-presidente do BCE mostrou um grande respeito pelo parlamento europeu. Uma atitude que os especialistas consideram positiva.

“É mais provável que um governo técnico possa superar os desafios do próximo ano, no qual uma estreita coordenação com a UE e as reformas estruturais não só devem ajudar a recuperação económica, mas também deverão reduzir as tensões populistas que surgiram sob o governo de Monti”, comenta Kaspar Hense, gestor sénior da BlueBlay Asset Management. “Com o número de casos de COVID-19 a aumentar, e a complexa situação na frente das vacinas, que fez com que a UE tivesse problemas de entregas, será necessário o apoio do BCE por mais tempo para apoiar a recuperação".

Os mercados sem dúvida apreciam as perspetivas de um primeiro-ministro decididamente europeísta e experiente. A ideia de um governo institucional e, portanto, de uma maior estabilidade em Itália, empurra para baixo o spread. Também dá asas aos valores mais expostos aos acontecimentos políticos, os bancos em primeiro lugar.

As incógnitas

Não obstante, olhando para os números, a viabilidade de um governo Draghi não parece assim tão óbvio. No Senado, os votos a seu favor estarão abaixo da maioria absoluta. Será necessário ver como se vão mover as forças de centro e direita do MoVimento 5 Stelle (MoVimento 5 Estrelas) já fragmentado. Os indícios de Vito Crimi e até de Beppe Grillo são claros: nenhum apoio a um governo que não seja dirigido por Giuseppe Conte. Mas também há uma ala mais pró-Europa que provavelmente vai decidir o contrário.

“Justifica-se um pouco de cautela”, diz Flavio Carpenzano, estratega sénior de investimentos de obrigações da AllianceBernstein. “Para formar um governo, Draghi necessitará de apoio do MoVimento 5 stelle ou da Liga e de nenhuma maneira é seguro que isto aconteça. Mas além disso, coloca-se a pergunta do que poderá conseguir Draghi se formar um governo. A sua margem de manobra provavelmente será muito limitada, já que o parlamento italiano é algo diferente do conselho de governo do BCE. Então, se Draghi conseguir formar um governo, será um avanço positivo, mas o que realmente sucede é que as probabilidades de ambos os tailwinds tem aumentado”.

As incógnitas também estão sob o escrutínio dos especialistas da Vontobel AM. Para o economista chefe Reto Cueni, as possibilidades de que o SuperMario se converta no 132º presidente do governo dos últimos 160 anos são bastante elevadas, mas tudo dependerá do jogo político. “Muitos Deputados do MoVimento 5 Stelle lutarão para reconciliar um presidente do BCE designado para encabeçar a coligação do governo que lideram, com um eleitorado anti-sistema. Ainda para mais se se encontrar um novo parceiro de coligação no Forza Italia - o partido do ex primeiro ministro Berlusconi - a nova coligação necessitará do voto de pouco mais de metade dos deputados do M5S. Caso contrário, a segunda força no parlamento, a Liga Eurocética, teria que apoiar o governo. Mas inclusivamente este partido poderá evitar apoiar publicamente um governo de Draghi”, comenta.

As tarefas do SuperMario

Um governo de Draghi, no entanto, não significa necessariamente menos incerteza sobre o futuro a curto prazo. Tanto no que respeita ao uso do Fundo de Recuperação como ao desenvolvimento do plano de vacinação e, sobretudo, pelo impacto no crescimento do PIB. Incertezas que, no entanto, continuam a ser secundárias face à redução do risco político, como explica Adrian Hilton, diretor de taxas e divisas globais da Columbia Threadneedle Investments. “Mantivemos as nossas posições sobreponderadas em obrigações italianas BTP, com a crença de que as novas eleições eram e continuarão a ser pouco prováveis. Pode acabar por ser difícil encurtar ainda mais o spread, mas ainda existe um risco menor de uma ampliação significativa. Entretanto, os BTP continuam a oferecer um interessante carry na zona euro”. Ainda é difícil tirar conclusões, também porque o sentimento positivo do mercado tenderá a lidar com a inflação do PIB e os lucros das empresas.