O “search-for-yield generalizado” e a falta de liquidez como riscos prementes para o investidor institucional

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“O ambiente de taxas de juro historicamente reduzidas induziu o agravamento do endividamento das empresas não-financeiras em muitas economias, particularmente das empresas mais endividadas e em stress financeiro”. Este é um das conclusões que a CMVM retira sobre a evolução da economia mundial no passado exercício e comenta no Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários de 2019. A entidade reguladora dos mercados financeiros aponta, a título ilustrativo, que “48% da dívida de empresas norte-americanas era classificada de especulativa (high yield) e 36% era proveniente de empresas cujos resultados operacionais são insuficientes para cobrir o custo da dívida (interest rate coverage inferior a 100%). Entre a dívida classificada de investment grade, quase metade estava classificada no nível BBB ou BBB-, o que levanta preocupações relacionadas com a estabilidade financeira. De facto, uma inversão do ciclo económico poderá deteriorar a qualidade de crédito destas empresas e conduzir à revisão da sua notação decrédito para high-yield”, pode ler-se no relatório. Em tal contexto económico, a CMVM alerta que os “investidores institucionais sujeitos a regras impeditivas de tomadas de posições excessivas em dívida especulativa poderão ter que alienar essas posições, inclusivamente através de fire-sales”.

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Adicionalmente, salienta-se ao mesmo tempo“que as condições financeiras favoráveis alimentaram o preço dos ativos financeiros com risco, também cresceram os riscos de médio-prazo de ocorrência de eventos extremos”. Desta forma, a CMVM alerta que o contexto de baixas taxas de juro levou investidores institucionais, “como companhias de seguros e fundos de pensões, a procurar alternativas mais atrativas de investimento”, sendo que a “procura de retorno tornou-se mais evidente entre entidades que tinham objetivos de retornos nominais positivos, como fundos de pensões com benefício-definido”. Alerta assim que a conjuntura de política monetária atual poderá “ter um impacto negativo sobre a solvabilidade destas entidades no médio e longo prazo uma vez que as responsabilidades desses fundos têm tipicamente maior duração que os seus ativos, pelo que quedas de taxas de juro produzem maior impacto no valor presente das responsabilidades do que no dos ativos”.

Intitucionais em geral

Da CMVM comentam que os investidores institucionais reforçaram posições em “ativos de maior volatilidade (por exemplo, setores com maior risco de negócio e alavancados, ou dívida com maior duração e/ou risco de crédito) e de menor liquidez, no sentido de permanecerem competitivos. Contudo, esta alteração de política de investimento poderá ter facilitado o crescimento da dívida em empresas não financeiras mais vulneráveis do ponto de vista financeiro. O search-for-yield generalizado poderá também conduzir a um aumento das semelhanças das estratégias e perfis de investimento, amplificando os efeitos de movimentos adversos do mercado”. Por outro lado, o regulador alerta que o “investimento em ativos menos líquidos aumenta a pressão dos fundos em caso de resgates anormais dos participantes”.