O verdadeiro custo de aforrar em depósitos

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Créditos: Michael Longmire (Unsplash)

O assassino silencioso dos aforros é o custo de oportunidade. O medo de assumir a volatilidade no investimento financeiro afastou uma parte importante da população dos mercados. Mas a tranquilidade tem um preço. Concretamente, 70% de diferença entre estar investidos de forma diversificada a longo prazo ou guardar o dinheiro em depósitos. E não é apenas a rentabilidade perdida. Segundo revela uma análise recente da EFAMA, os depósitos fizeram perder poder de compra na última década.

Na Europa a participação das famílias nos mercados de capitais é mínima. A razão? Muitas pessoas receiam o risco e desconhecem os potenciais ganhos gerados pelo investimento em valores e fundos de investimento, segundo detetou um estudo prévio da EFAMA. Durante um tempo isto não representava um problema já que produtos com baixa sensibilidade ao risco eram capazes de oferecer uma rentabilidade positiva. Falamos de depósitos ou fundos garantidos. Mas com as taxas de juro em negativo, estes veículos desapareceram.

É um paradoxo. Ao tentarem proteger o seu dinheiro da volatilidade dos mercados perderam poder de compra. Observemos os números.

Na EFAMA calcularam a rentabilidade média dos fundos UCITS entre 2010 e 2019. Se descontarmos tanto a inflação como as comissões de produto obtemos a rentabilidade líquida. Assim, em média, a rentabilidade anual dos UCITS de ações, de obrigações e mistos foi de 7,6%, 2,3% e 3%, respetivamente. Estes resultados positivos contrastam com o 1% anual que se perdeu nos depósitos no mesmo período.

Os números anualizados talvez não nos mostrem tão claramente o verdadeiro preço que se paga por aforrar em depósitos. Imaginemos um investimento de 10.000 euros em 2010 em cinco produtos de investimento distintos. No gráfico está representado o valor ao longo de 10 anos em UCITS de ações, obrigações, mistos, uma carteira de fundos de classe retail (40% ações, 30% obrigações e 30% mistos) e em depósitos bancários. De novo, recordamos que são números líquidos de comissões e inflação neste período.

Em 10 anos, em fundos de ações os 10.000 euros valeriam 20.784. Em obrigações ou mistos, a rentabilidade seria menor, mas ainda assim positiva. E com os depósitos? Teriam-se perdido quase 1.000 euros em 10 anos. E apesar de destacarmos a cobrança de comissões quando falamos de fundos, às vezes o preço a pagar não é destacado por não ultrapassar a inflação em outros veículos.

“Precisamos de explicar que existe um custo de oportunidade ao manter uma quantidade excessiva de aforro em depósitos bancários que gerou rentabilidade negativa”, defendem na EFAMA. “Se queremos que os investidores particulares invistam nos mercados de capitais, devemos destacar o resultado de investir a longo prazo em vez de nos centrarmos na rentabilidade anual dos investimentos de um ano”, argumentam. Daí o foco do estudo.