A conclusão é do último Relatório Anual da CMVM sobre a Exposição do Mercado de Capitais ao Risco Climático, onde se indica ainda que as carteiras dos OIC nacionais têm intensidade carbónica de âmbitos 1 e 2 superior ao S&P500, mas inferior ao Stoxx Europe 600 e MSCI World ACWI.
A CMVM lançou, recentemente, o seu segundo Relatório Anual sobre a Exposição do Mercado de Capitais ao Risco Climático. Como descrito no documento, “este é um relatório exigido pela Lei de Base do Clima aos supervisores financeiros, em alinhamento com os objetivos da política do clima declarados na referida lei, em particular o da dinamização do financiamento sustentável e o da promoção da informação relativa aos riscos climáticos”. A iniciativa reflete o esforço da União Europeia, “que tem implementado medidas ecológicas abrangentes, exigindo novos relatórios, maior transparência e a divulgação de informações não financeiras por parte de empresas e entidades financeiras”.
O documento destaca que, apesar das tensões geopolíticas, a crise climática permanece central na agenda internacional, devido aos riscos de não alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris. Defende ainda a urgência de medidas de mitigação e adaptação climática, com prioridade para a promoção de energias renováveis, eficiência energética e outros valores de sustentabilidade ambiental e social. Segundo o regulador, são necessários grandes investimentos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e adaptar as estruturas físicas, económicas e sociais aos impactos das mudanças climáticas.
Intensidade carbónica dos OIC nacionais
O relatório analisou o desempenho ambiental das carteiras de investimento em Portugal, com foco na intensidade carbónica (emissões de GEE/receitas). De um modo geral, a intensidade carbónica dos constituintes dos OIC nacionais, medida em termos nominais, registou uma queda significativa ao longo dos últimos cinco anos, no total de 13,75%, ou seja, 2,9% ao ano.
Como se pode constatar na figura acima, as carteiras dos OIC nacionais, da Gestão Individual de Carteiras e dos OICVM estrangeiros apresentam intensidade carbónica (de âmbito 1 e 2) superior ao S&P500, mas, ainda assim, inferior ao Stoxx Europe 600 e MSCI World ACWI, resultado de um menor peso de setores com alta intensidade carbónica e de investimento em setores financeiros e tecnológicos de baixa emissão, especialmente nos Estados Unidos.
Indo mais ao detalhe, importa referir que dois terços das carteiras dos OIC nacionais investem em empresas com intensidade carbónica de âmbitos 1 e 2 abaixo da mediana do setor, enquanto 23% do investimento foi direcionado para empresas best-in-class. No entanto, ao incluir as emissões de âmbito 3, verifica-se que apenas 10% do investimento está alocado a empresas best-in-class, ao passo que 23% do portefólio está em empresas worst-in-class. Mais de 70% do investimento concentra-se em empresas comprometidas com reduções anuais de intensidade carbónica acima de 5%, e 67% está em emitentes que diminuíram emissões totais nos últimos três a cinco anos.
Setor financeiro em destaque

Decompondo os OIC nacionais por setores, o setor financeiro desponta como o mais representativo nessas carteiras, respondendo por 33,3% do valor sob gestão. Por oposição, apresenta uma intensidade carbónica significativamente baixa, de apenas quatro toneladas de GEE por milhão de euros de receitas, o que contribui positivamente para a performance ambiental global das carteiras.
Por outro lado, os setores de utilidade pública, materiais e energia, conhecidos por apresentarem uma mais alta intensidade carbónica, também estão presentes nos investimentos dos OIC nacionais, mas em proporções bem menores. Juntos, representam aproximadamente 10% do valor líquido global sob gestão. Esses setores exibem intensidades carbónicas elevadas, com 563, 509 e 230 toneladas de GEE por milhão de euros de receitas, respetivamente.
Em termos geográficos, os mercados norte-americanos lideram o destino dos investimentos, representando 37,5% do total dos montantes sob gestão pelos OIC nacionais. A intensidade carbónica das empresas desses mercados situa-se, em média, em torno das 52 toneladas de GEE por milhão de euros de receitas. O desempenho ambiental mais favorável é amplamente atribuído à predominância de investimentos no setor tecnológico, que tem um papel significativo na economia dos Estados Unidos e é reconhecido pela baixa intensidade carbónica em comparação a setores mais tradicionais e poluentes.