Oito temas chave para investir em 2014

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Imapix, Flickr, Creative Commons

Dezembro já começou, e com ele chegam também as primeiras perspetivas de investimento das gestoras de fundos para 2014. Uma das primeiras é a UBS Global AM, cuja equipa de investigação identificou oito temáticas de investimento para seguir de perto no próximo ano. “Os mercados financeiros continuam a ser fustigados por uma turbulenta mescla de forças cíclicas e estruturais”, explica Matthew Richards, editor do relatório Investing in 2014 publicado pela empresa. Estes oito temas de investimento identificam os riscos e as oportunidades em que a gestora suíça investe, “combinando considerações estratégicas com um foco no ano que vai começar”, afirma Richards. “Estes temas não só têm impacto sobre os mercados, como também têm entre os próprios mercados”, ressalva.

Evolução energética

Os avanços tecnológicos na extração de energia, que têm permitido a exploração de gás de xisto “podem mudar o jogo para as economias norte-americanas”, afirmam os especialistas da UBS Global AM, que sublinham que “décadas de dependência energética e elevados custos de transporte podem estar a chegar ao fim”. Na entidade apontam vários dados significativos sobre o que pode significar esta indústria para os Estados Unidos: graças ao “culminar do investimento, à inovação e ao compromisso público e político nos Estados Unidos”, a produção de gás natural aumentou mais de 26%, enquanto que a produção de gás xisto passou de 6% para 40% do total.

“A tecnologia e as infra-estruturas para recuperar e transportar o gás de xisto e a experiência de o produzir recai sobre os EUA e sobre as empresas e trabalhadores americanos”, explicam. Desta forma, asseguram que é bastante provável que os EUA entrem numa nova era dourada da indústria”.

Contudo, a gestora refere que esta independência energética também tem “importantes ramificações geopolíticas”. Existem reservas recuperáveis deste tipo de gás em todos os continentes, apesar de serem os EUA juntamente com o Canadá, os maiores exploradores. Há várias razões a este nível: “A China luta atualmente contra a densidade populacional e contra a carência de recursos aquáticos, enquanto a Europa encontra obstáculos que vão desde as rochas menos porosas a maior profundidade, até à preocupações sobre o impacto do gás fracking no meio ambiente e na saúde humana”.

Reequilíbrio global

Na UBS Global AM existe a consciência de que a relação entre os países desenvolvidos e os emergentes está a mudar, já que a estratégia dos países em vias de desenvolvimento de baixar o seu crescimento em exportações para o mundo desenvolvido “é um modelo insustentável a longo prazo”. “Apesar da recuperação continuar a aumentar em muitas partes do mundo, os investidores deveriam manter os olhos postos nas mudanças estruturais (competitividade, procura, demografia) em antecipação a uma eventual desaceleração nos mercados emergentes”, dizem, explicando que “o crescimento com dois dígitos nos mercados emergentes parece algo do passado, inclusive na China”.

“A procura e o consumo mudam mais dinamicamente quando se atravessa uma economia com fases de crescimento, e se transforma numa economia exportadora orientada para o consumo doméstico. É necessário fazer-se esta mudança em muitas economias emergentes, e o ritmo dessa mudança também é importante”, explicam os especialistas, que asseguram: “entender em detalhe as dinâmicas subjacentes será crítico para os investidores à medida que se reequilibra a economia global. As oportunidades podem surgir para os investidores de longo prazo que compram ativos que beneficiam da mudança na balança comercial, do ajuste do consumo e da procura de um mundo emergente mais saudável, e ainda das mudanças na competitividade criadas por novas indústrias ou pelas que são reerguidas nas economias mais avançadas”.

Desalavancagem  

A gestora vê “sinais claros” de desalavancagem nos Estados Unidos. Na Europa periférica, no entanto, este é um processo que acaba de começar. Por outro lado, observam que “os níveis de dívida estão a aumentar na Ásia emergente e em países relativamente pouco afetados pela crise financeira, como é o caso da Suécia, Canadá e Austrália”.

Entre os pontos que os especialistas da UBS Global AM recomendam vigiar de perto estão: por um lado, uma bolha nos mercados imobiliários do Canadá, Austrália e Suécia, assim como a possibilidade de um aumento das hipotecas no Reino Unido. Por outro lado, a expectativa de que se produza um grande progresso de desalavancagem no sector imobiliário na zona euro.

A crise na zona euro

Não cantar vitória antes de tempo. Esta é a conclusão que os gestores retiram da observação das políticas de ajuste realizadas nos últimos anos e as mais recentes orientadas para o crescimento, que podem resumir-se na seguinte frase: “dois passos à frente, um passo atrás”. A UBS Global AM refere-se à zona euro como “uma área monetária que não é a ideal”. Asseguram que o maior problema que a união enfrenta é “a sua própria existência”, e que está “encapotada” numa única medida, que é dívida em relação ao PIB. Factores estruturais como a população envelhecida, o excesso de regulação e o alto nível de desemprego também são apontados. 

De qualquer forma, afirmam que “apesar dos problemas estruturais que “encurralam” a zona euro, esperamos que a recuperação cíclica se enraíze a partir de 2014”. A não perder de vista dizem estar as eleições para o Parlamento Europeu (22-25 de maio), onde os partidos anti-sistema poderão aumentar o seu peso; um segundo resgate a Portugal (o atual termina em junho) e ainda o possível colapso do governo italiano ou a possibilidade de que o BCE intervenha nos mercados de crédito para apoiar a concessão de empréstimos ao sector privado.

Para entender o curso da economia vão continuar a ser chave os diferenciais da dívida italiana e espanhola, como indicadores de sentimento, juntamente com a publicação trimestral do questionário de empréstimo bancário do BCE. Importante também será o rácio da dívida sobre o PIB. “Se começar a cair, será um enorme ponto de inflexão”.

A ação dos bancos centrais

As políticas muito acomodatícias de estímulo da economia estão a chegar ao fim. Ou pelo menos é isso que se espera. “Os bancos centrais de todo o mundo terão que formular as suas estratégias de saída, muito cuidadosamente, dado que têm o potencial de causar volatilidade no mercado”. “O que pareceu ser um esforço coordenado da parte dos bancos centrais, está agora a mostrar sinais de divergência”, antecipam.        

Entre os momentos chave e os possíveis movimentos que podem realizar as autoridades monetárias nos próximos 12 meses, a UBS Global AM antecipa os seguintes: a tomada de posse da presidente da Reserva Federal, Janet Yellen em 2014; a inflação no Japão como consequência da expansão agressiva dos balanços do Banco do Japão e das reformas estruturais de Shinzo Abe com o programa Abenomics, “que poderiam agilizar as políticas do Banco do Japão”; os movimentos em direção a uma união bancária na zona euro, que seriam um passo decisivo dentro das reformas estruturais necessárias no continente; a recuperação dos preços das casas, “gerando ansiedade crescente por causa de um excesso de empréstimos hipotecários entre os bancos centrais”. Finalmente, que “a política monetária do BCE possa ser demasiada restritiva devido ao nível de austeridade em muitos países da zona euro”.

Crescimento e austeridade

Austeridade, crescimento, ou uma mistura de ambos – cada país implementa as suas políticas de acordo com uma destas tendências como resposta à crise financeira. No entanto, “parece que o crescimento atraiu melhores resultados do que a austeridade”, porque os investidores deveriam vigiar “as políticas à volta do globo para ver como essas mesmas políticas vão afetar as diferentes classes de investimento”. Especial atenção aos diferenciais espanhóis e italianos, às bolsas de países periféricos contra os do núcleo europeu, e em geral a bolsa europeia contra a americana. Nos emergentes, terá que se prestar atenção à bolsa e à divisa chinesas, à situação de países com “austeridade forçada”, como por exemplo a Índia.

Adicionalmente, a gestora recomenda atenção às taxas de desemprego, ao défice orçamental nos EUA e ao crescimento do seu PIB.

Inflação

É outra das chaves para 2014. “A inflação permaneceu sob controle apesar das políticas pouco convencionais no mundo. A previsão de crescimento muito lento e o aumento do fornecimento de matérias primas chave tornam altamente improvável um aumento da inflação”. As exceções estão em países emergentes, como a Índia.

A grande rotação

Este ano viram-se muitos investidores em obrigações a desfazerem-se dessas posições para começarem a entrar em ações, com vista à procura de rentabilidade. “Acreditamos que a rotação pode estar em progresso, mas não será tão drástica como parece ser”, afirmam os especialistas da gestora. Em qualquer caso, esta rotação virá acompanhada de taxas de juro normalizadas.