“Como o BCE já começou a reduzir as taxas, quanto mais o investidor esperar, mais dolorosa vai ser a queda de rentabilidade quando o momento do reinvestimento chegar”, alerta o especialista de Produto de Obrigações da DWS.
Há um desafio significativo que afeta a indústria de fundos a nível europeu: o investidor está demasiado investido em depósitos e fundos monetários. Após anos de taxas negativas, o regresso dos ativos livres de risco que dão uma rentabilidade positiva tem sido um oásis para os investidores mais cautelosos. Mas o risco no investimento em obrigações não representa apenas a possibilidade de incumprimento. A extrema cautela também esconde um custo de oportunidade. “Como o BCE já começou a reduzir as taxas, quando mais o investidor esperar, mais dolorosa vai ser a queda quando o momento do reinvestimento chegar”, alerta Olivier Albrecht, especialista de Produto de Obrigações da DWS.
Como assinala o especialista, podem ter conseguido captar a última vaga dos depósitos a yields muito atrativas no início de 2024, mas a realidade que lhes espera nos próximos meses é muito diferente. “O investidor em depósitos e monetários está sentado em cima de um iceberg”, insiste.
Assim, a conversa com o cliente sobre o conceito do risco tornou-se bastante complexa. “É difícil explicar ao investidor por que tem de assumir mais risco na sua carteira quando a rentabilidade do mercado monetário ainda está acima de 3%”, reconhece. E isso sem se ter em conta o custo de oportunidade de perder a recuperação das obrigações em geral. “O cliente está satisfeito com os seus 3,5% em monetários, mas não está plenamente consciente de que, com um foco mais amplo em obrigações, poderia ter conseguido 8%”, lamenta.
Alternativas aos depósitos e monetários
O problema é que se trata de um passo que, inevitavelmente, vai ter de ser dado. “Os fundos monetários têm mais hipóteses porque dependem do mercado de obrigações. Pelo contrário, no caso dos depósitos, os bancos ajustam a sua oferta antecipando-se às descidas de taxas, pelo que os cortes de rentabilidade far-se-ão sentir em breve”, relembra.
A leitura positiva que o especialista oferece é que, atualmente, o investidor em depósitos e monetários tem várias alternativas. Para os primeiros, que não procuram necessariamente depósitos pela liquidez, mas sim pela rentabilidade livre de risco, veem como uma boa opção os fundos de ultracurto prazo.
No caso dos investidores em monetários, o seguinte passo seria o crédito. E aqui, Olivier Albrecht está bem consciente das valorizações. Atualmente, vê melhores oportunidades em dívida investment grade do que em high yield. “Acreditamos que ainda há hipóteses de os spreads do investment grade estreitarem abaixo dos 100 pontos base face à dívida governamental. Mas vemos o contrário no high yield, apesar de as yields serem mais atrativas. Aqui, o risco é de um alargamento dos spreads, porque se encontram abaixo da sua média histórica”, explica.
"O que estamos a dizer aos nossos clientes é que este não é o melhor ponto de entrada para o high yield", afirma. Mas isso também significa que, se se der uma correção na classe de ativos nos próximos meses, tal poderá ser uma oportunidade para os mais atrasados para se desprenderem dos depósitos.
Afinar a exposição à duração
E, por último, Olivier Albrecht também defende que é necessário ser-se preciso com a duração assumida na carteira, sendo seletivo com o ativo. Por exemplo, na dívida governamental de países como Itália, onde a curva da sua dívida normalizou, o segmento de três a cinco anos é o mais atrativo para o especialista. No caso do Tesouro alemão, compensa mais uma parte mais curta, próxima de dois anos e não mais do que cinco anos. Por outro lado, em corporativas, o risco assumido até aos sete anos está a ser recompensado.