Eduardo Monteiro, responsável de carteiras de Gestão Discricionária de HNWI na BPI Gestão de Ativos, resume o ano de 2024, fala das surpresas positivas que podemos ter 2025 e conta quais as classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o ano.
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COLABORAÇÃO de Eduardo Monteiro, responsável de carteiras de Gestão Discricionária de HNWI na BPI Gestão de Ativos.
O ano de 2024 foi um dos melhores anos de sempre para os mercados acionistas, com o S&P 500 a ultrapassar os 6.000 pontos e a registar um aumento superior a 20%. Este desempenho excecional foi impulsionado por ações de alta tecnologia, especialmente no espaço da inteligência artificial, e pela trajetória benigna da inflação, que caiu para 2.4% em setembro.
A economia norte-americana foi um dos suportes dos mercados acionistas, tendo mostrado uma robustez notável, com um crescimento do PIB próximo dos 3%, apesar das taxas de juro continuarem historicamente em níveis elevados. O mercado de trabalho abrandou, mas manteve-se resiliente, com a taxa de desemprego a manter-se em níveis reduzidos e um crescimento salarial mais moderado.
A eleição de Donald Trump e a nomeação de Scott Bessent como secretário do Tesouro trouxeram expectativas de menores impostos e uma estratégia comercial menos confrontacional. Por outro lado, a nomeação de Elon Musk para controlar os gastos do estado faz antever uma despesa pública mais baixa e, assim, uma maior credibilidade das finanças públicas norte-americanas. Estes fatores, combinados com um mercado de trabalho robusto e uma inflação controlada, criaram um ambiente favorável para os mercados financeiros, resultando em ganhos significativos para os investidores.
A Europa voltou a realizar uma underperformance considerável face aos mercados norte-americanos. A recuperação económica na Europa foi mais lenta, após um período de quase estagnação em 2023. O crescimento do PIB na União Europeia foi de apenas 0.9%, enquanto na zona euro foi de 0.8%. Esta recuperação económica foi desigual, com países do sul da Europa, como Espanha, Portugal e Grécia, a liderarem o crescimento, enquanto economias tradicionalmente fortes, como a Alemanha, ficaram para trás. O Banco Central Europeu começou a reverter as subidas agressivas das taxas de juro em junho (3 meses mais cedo que a Fed), tendo reduzido as taxas de juro em cerca de 100 bps para os atuais 3%. No entanto, a incerteza económica e as tensões comerciais com os EUA e a fraca procura da China continuaram a representar desafios significativos para a região.
Perspetivas para 2025
À medida que entramos em 2025, os mercados financeiros enfrentam, como sempre, cenários de incerteza, apenas as causas são distintas. Iremos ter eleições na Alemanha, a França continua a ter uma situação política instável e a presidência de Trump poderá trazer surpresas. No entanto, este cenário acontece num ambiente de crescimento económico robusto nos EUA e em aceleração na Europa e na China, o que poderá atenuar os cenários de incerteza.
Adicionalmente, iremos ter certamente cortes de taxas de juro na Europa e nos EUA. A dúvida é a sua dimensão, a qual irá depender da evolução da trajetória atualmente benigna da inflação e da robustez do mercado de trabalho.
O principal aspeto negativo para 2025 são os elevados múltiplos de avaliação no mercado americano, nomeadamente a nível do índice ponderado por capitalização bolsista, que se encontra com a sua valuation extremada devido às grandes tecnológicas norte-americanas.
Perspetivas para a Europa
A Europa poderá enfrentar desafios significativos em 2025, devido ao crescimento económico mais lento e à dependência do comércio externo. A economia europeia é mais industrial e dependente do comércio. A instalação de novos terminais LNG no segundo semestre de 2024 deverá ter mitigado a debilidade energética europeia, mas a incerteza permanece elevada. Setores como energias renováveis e tecnologia poderão oferecer oportunidades de crescimento, ajudando a mitigar algumas das debilidades económicas.
Adicionalmente, as eleições na Alemanha poderão ajudar a performance dos ativos europeus caso seja adotada uma política mais expansionista e uma menor restrição a políticas europeias financiadas pelo orçamento europeu. Nesta eventualidade, o atual desconto dos ativos europeus decorrente da instabilidade política poderá reduzir-se e permitir finalmente uma outperformance face aos EUA.
Em termos setoriais, a liderança europeia nas energias renováveis, que penalizou os índices europeus desde 2023, poderá ser benéfica. A intensidade de capital deste setor poderá sair beneficiada dos mais de quatro cortes de taxas de 25 pontos base previstos para o BCE e uma taxa em torno dos 2%.
A nível de múltiplos de avaliação, a Europa encontra-se mais protegida que os EUA, com um PER para 2025 de cerca de 13x.
Perspetivas para os EUA
Os EUA deverão continuar a beneficiar de um ambiente económico robusto em 2025, impulsionado por setores como tecnologia e saúde. A eleição de Donald Trump e a nomeação de Scott Bessent como secretário do Tesouro deverão trazer menores impostos e uma estratégia comercial mais negocial. A Reserva Federal poderá manter uma abordagem cautelosa, caso a atual estagnação do progresso na inflação supercore nos EUA (serviços excluindo energia e habitação) permaneça.
Apesar desta possibilidade, os últimos dados sobre o contributo da habitação para a inflação têm diminuído e as perspetivas são animadoras de que esta componente ajude a aproximar a inflação dos 2%.
A principal debilidade nos EUA prende-se com os múltiplos de avaliação, uma vez que mesmo com um crescimento estimado dos resultados de cerca de 15%, o S&P 500 apresenta um PER superior a 22x. A versão equal-weight do índice norte-americano apresenta um PER mais baixo de cerca de 17x, mesmo assim está consideravelmente acima das demais geografias.
Perspetivas para a China
A economia chinesa poderá acelerar a sua recuperação em 2025, com políticas de estímulo económico e reformas estruturais. Desde setembro, o comité central chinês tem dado mostras de preocupação com o crescimento económico, tendo iniciado políticas de estímulo ao mercado imobiliário e ao financiamento dos governos locais. Em dezembro de 2024, esta tendência foi reforçada com a decisão de mudar a política monetária para moderadamente expansionista, e aumento do défice fiscal para financiar o sistema de proteção social e apoio aos mais desfavorecidos.
Este processo pode ser essencial para os emergentes inverterem o ciclo de underperformance que já dura desde 2018. Para 2025, esta geografia transaciona a um PER de cerca de 12x. A melhoria do crescimento económico na China poderá ser igualmente importante para o mercado europeu.
Perspetivas para o Japão
O Japão poderá continuar a beneficiar das reformas corporativas e do aumento dos retornos sobre o capital em 2025. Após décadas com problemas deflacionistas, o Japão ainda mantém uma política monetária bastante acomodatícia, com as taxas de juro de referência ainda próximas de zero. Os governantes japoneses estão a tentar aumentar os salários para derrotar estruturalmente o fantasma da deflação e reganhar o dinamismo do mercado interno. Se estas tendências se mantiverem e o iene não valorizar significativamente, as ações japonesas poderão inverter igualmente a underperformance recente que data desde 2018 e que coloca o Japão a transacionar a um múltiplo de lucros (PER) de apenas 14x.
Classes de ativos melhores posicionadas para 2025
Ações: Em 2025, as ações poderão continuar a beneficiar de um ambiente económico relativamente robusto, especialmente nos setores de tecnologia, saúde e de pequenas capitalizações. O estilo valor poderá igualmente reverter a underperformance dos últimos anos, a qual atingiu valores extremos em termos históricos. Caso não existam surpresas negativas a nível de crescimento e inflação, serão naturalmente as classes beneficiadas em 2025 pela sua maior volatilidade.
Obrigações: As obrigações já se encontravam atrativas em 2024 e, neste ano, esta atratividade sai reforçada devido à subida de taxas de juros nos prazos mais longos, nomeadamente nos EUA. Com uma taxa de juro a 10 anos de cerca de 4.5%, as obrigações norte-americanas poderão oferecer um retorno atrativo num contexto de taxas de juro de curto prazo mais baixas, ao mesmo tempo que permitindo amortecer quedas no mercado acionista. Com as taxas de juro governamentais mais elevadas do que a média dos últimos 15 anos, é possível construir carteiras com uma rentabilidade esperada positiva, sem demasiado risco de taxa de juro. As obrigações ESG deverão continuar a crescer em importância, impulsionadas pela procura dos investidores e pelos compromissos climáticos.
Recomendações para gestão de portefólios em 2025
Para 2025, recomenda-se, como sempre, uma abordagem diversificada e flexível na gestão de portefólios. A classe obrigacionista, especialmente as entidades de melhor qualidade de crédito, quer governamental quer de empresas poderão oferecer um retorno esperado interessante pelas atuais elevadas taxas de juros em termos históricos como referido anteriormente.
No entanto, caso o cenário central de abrandamento suave da economia se concretize, os ativos de maior risco deverão concentrar a maioria dos ganhos.
A diversificação entre diferentes classes de ativos, adequada à situação do cliente e ao seu perfil, será essencial para lidar com as incertezas económicas e maximizar os retornos ajustados ao risco.
Riscos a monitorizar em 2025
Os principais riscos a monitorizar em 2025 são similares aos de 2024 e concentram-se na evolução da inflação, na moderação do ritmo de subida salarial e na atitude dos bancos centrais face a estas dinâmicas. A evolução do mercado de trabalho nos EUA será crucial para a performance dos ativos norte-americanos.
Na Europa, o crescimento económico será o fator determinante para a performance dos ativos europeus. Eventos geopolíticos, como as guerras na Rússia/Ucrânia e Israel/Hamas, e as eleições na Alemanha poderão causar variações significativas nos ativos financeiros, mas tendem a esbater-se no médio/longo prazo. No entanto, em 2025, poderemos ter surpresas positivas caso as atuais guerras sejam terminadas e caso o novo governo alemão e o governo chinês venham a reforçar os estímulos fiscais ao longo do ano.
Além disso, a volatilidade dos mercados financeiros e as mudanças nas políticas económicas globais poderão impactar os retornos dos investimentos. A monitorização contínua destes riscos e a adaptação das estratégias de investimento serão essenciais para navegar o ambiente económico dinâmico de 2025.