Para André Themudo, responsável pelo mercado ibérico, a idade de ouro define-se pela capacidade de gerir ativamente carteiras de obrigações globais que utilizam segmentos de alta qualidade para gerar retornos de forma consistente. Comentário patrocinado pela BlackRock.
TRIBUNA de André Themudo, responsável pelo mercado ibérico, BlackRock. Comentário patrocinado pela BlackRock.
Num contexto de início de ano volátil, com incerteza política e oscilações na política monetária, alguns especialistas continuam a falar de uma idade de ouro para o rendimento fixo.
Para muitos investidores, esta designação pode parecer contraditória. Tal deve-se, em parte, à mudança do papel das obrigações nas carteiras. Durante o prolongado ciclo de subida de 1981 a 2021, com taxas de juro e inflação em queda, a duração era uma ferramenta eficaz e as obrigações funcionavam como contrapeso às ações graças à sua correlação negativa.
Nos últimos três anos, esta cobertura perdeu eficácia: a volatilidade das taxas de juro aumentou e os riscos passaram a ser bidirecionais. A duração, longe de amortecer, amplificou o risco.
Dispersão, divergência, oportunidade
Com vista a 2025, as divergências macroeconómicas, fiscais e políticas entre regiões vão gerar resultados muito distintos consoante o país, o setor e o emitente. Neste contexto, a gestão ativa permite tirar partido da volatilidade e selecionar crédito de forma criteriosa.
As taxas absolutas continuam elevadas e, embora a inflação se mantenha persistente, apresenta sinais de moderação. Isto traduz-se em rentabilidades reais atrativas e fluxos de retorno capazes de estabilizar carteiras.
A verdadeira idade de ouro define-se pela capacidade de gerir ativamente carteiras de rendimento fixo global, que abrangem múltiplos setores, regiões e divisas, e que utilizam segmentos de alta qualidade para gerar retornos de forma consistente.
O atual enquadramento está a redefinir a forma como os retornos são gerados. Durante anos, para alcançar rentabilidade era necessário aumentar a duração ou assumir mais risco de crédito. Hoje já não é assim: os níveis elevados das taxas livres de risco permitem obter retornos atrativos sem assumir um risco excessivo. A análise histórica confirma que a maior parte da rentabilidade provém do cupão.
Visão global
As diferenças entre as políticas dos bancos centrais são fundamentais. Diferentes condições económicas em cada país justificam a necessidade de cada banco central adaptar a sua política monetária de forma independente. Estas diferentes dinâmicas geram oportunidades para estratégias de valor relativo entre regiões.
No que diz respeito a setores, vemos valor nos financeiros e oportunidades idiossincráticas nas empresas de serviços públicos, impulsionadas pela transição energética e pelo aumento do investimento em capital (capex) em infraestruturas. Na Europa, o mercado de titularização de alta qualidade oferece boas oportunidades ajustadas ao risco. Além disso, os fundamentais de crédito mantêm-se sólidos, com taxas de incumprimento baixas e resultados empresariais positivos.
Para o investidor de longo prazo, este contexto é ideal para estratégias orientadas para os lucros: agarrar-se aos cupões e construir rentabilidade a partir do cash flow. A valorização de capital também pode contribuir, desde que as disfunções de mercado sejam geridas ativamente.
A idade de ouro não significa ausência de risco — implica sim um contexto em que a gestão ativa pode desbloquear valor, gerar retorno e enfrentar um novo ciclo marcado pela dispersão, pela divergência e pelo fim do paradigma dos estímulos massivos.