Francisco Falcão Castro, responsável de Investimentos da Hawkclaw Capital Advisors, aborda o tratamento dos AT1 em comparação com as ações na compra do Credit Suisse.
TRIBUNA de Francisco Falcão Castro, responsável de Investimentos da Hawkclaw Capital Advisors.
O UBS vai adquirir o seu rival Credit Suisse, tal como o J.P. Morgan fez em 2008 com o Bear Stearns e o Bank of America fez com o Merrill Lynch. Mas as circunstâncias agora são diferentes. O banco estava a ser prejudicado por uma crise de confiança que levou, na semana passada, a uma fuga dos bancos, forçando as autoridades a agir. No entanto, a solução das autoridades suíças levanta várias questões e desafios. Por exemplo, embora os acionistas retenham algum valor, alguns detentores de obrigações serão forçados a aceitar uma perda. Porquê?
Simples, após a grande crise financeira em 2008, a regulação bancária tornou-se mais rigorosa e o nível de capital exigido é agora maior. Esta dinâmica foi parcialmente alcançada devido à emissão dos novos instrumentos AT1, com o objetivo de absorver choques quando os bancos começam a cair e de fornecer capital adicional evitando resgates financiados pelos contribuintes. O conceito padrão é que os AT1 (additional tier 1) só sejam impactados depois de todos os acionistas e instrumentos de capital serem eliminados.
No entanto, não foi isto que aconteceu com a saga UBS/Credit Suisse. Os instrumentos AT1 do Credit Suisse foram sujeitos a um write-down apesar dos acionistas estarem a salvo. Este facto desencadeou uma grande dinâmica negativa no mercado AT1 e a confiança foi quebrada no que diz respeito à hierarquia das securities. Várias autoridades prestaram esclarecimentos e agora foi a vez da FINMA.
O regulador suíço esclareceu que os instrumentos AT1 na Suíça estão concebidos de uma forma que lhes permite serem sujeitos a imparidades, ou convertidos, como Common Equity Tier 1 capital antes do capital social do banco em questão ser completamente usado ou impactado.
Além disso, os instrumentos AT1 emitidos pelo Credit Suisse estipulam contratualmente que serão completamente sujeitos a um write down num Viability Event, particularmente se for concedido apoio extraordinário do governo. Uma vez que o Credit Suisse recebeu empréstimos extraordinários de assistência à liquidez garantido por uma garantia federal de incumprimento a 19 de março de 2023, estas condições contratuais foram cumpridas pelos instrumentos AT1 emitidas pelo banco.
A explicação é concisa, mas tenho de admitir que fazer parte do mundo da gestão de investimentos durante os últimos 18 anos não facilita a compreensão de que os detentores de AT1 são afetados e os acionistas são salvos. Na minha opinião, ambos os stakeholders deveriam ter sido impactados e o banco deveria ter sido assumido pelo Governo Suíço, dividido em pequenos negócios e vendido, preservando a marca do Credit Suisse e do Swiss Retail Bank. A economia suíça e os contribuintes estariam muito provavelmente numa posição melhor com esta solução e a credibilidade e os riscos de concentração poderiam ter sido evitados.