Adérito Oliveira (BPI GA): “Comunicar sustentabilidade ou ESG com os clientes é um grande desafio”

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Adérito Oliveira. Créditos: Vitor Duarte

TRIBUNA de Adérito João Oliveira, responsável de Negócio e Sustentabilidade, BPI Gestão de Ativos.

Na BPI Gestão de Ativos entendemos que os temas do ESG, do investimento responsável e das matérias de sustentabilidade em geral devem estar disseminados e, portanto, serem uma responsabilidade de toda a organização. Cada área da gestora, como a gestão de carteiras, o risco ou o compliance irá abordar o ESG de diferentes ângulos e com um objetivo que se enquadre na natureza da sua função.

Mesmo tendo este princípio da disseminação em mente, a importância estratégica do tema ESG para o grupo, a sua rápida evolução e o crescimento da sua complexidade, vieram determinar que viéssemos a ter recursos com dedicação exclusiva a estas matérias.

Em 2019, ano em que a BPI GA aderiu ao UN-PRI, foi criada uma Área de Investimento Sustentável e Responsável (ISR), inicialmente com dois FTE. Esta área veio definir e ajudar a implementar um modelo de governance em ISR, dotar a gestora de ferramentas e funcionou como um verdadeiro impulsionador para toda a organização adotar mais e melhores práticas ESG.

Em 2022, as áreas de ISR e desenvolvimento de negócio passaram a ser uma só área, que abrange o desenvolvimento de negócio e a sustentabilidade. A sustentabilidade continua a ter dois FTE em dedicação exclusiva, mas beneficia agora de estar numa equipa mais alargada e com responsabilidades ao nível do desenvolvimento de produto. Esta reorganização foi especialmente oportuna dado que uma das áreas de foco da gestora, no âmbito da sustentabilidade, no período mais recente foi precisamente a oferta e o desenho de produtos. O facto de os temas de desenvolvimento de negócio e sustentabilidade estarem na mesma equipa foi, sem dúvida, facilitador dos esforços de reformulação da oferta, adaptando-a à SFDR, bem como no lançamento dos primeiros fundos sustentáveis geridos por uma gestora em Portugal – a nossa gama BPI Impacto Clima.

Reconhecemos também que, além de ter uma equipa dedicada, os avanços no ESG e no investimento sustentável e responsável beneficiaram do envolvimento com o grupo BPI-Caixabank, quer ao nível de partilha de conhecimento e de práticas, quer ao nível do modelo de governance, na criação de um comité específico e ainda na definição de políticas em matérias de sustentabilidade. O apoio de várias áreas e empresas de todo o grupo, além do recurso a consultores e fornecedores de serviços especializados foi chave para que implementássemos com êxito os vários requisitos da regulação e a transformação da oferta.

Finalmente, fomentámos a criação e participação em grupos de trabalho dedicados à sustentabilidade, que alavancou diferentes forças e contributos das várias equipas; promovemos o envolvimento com universidades que tem possibilitado a dedicação de mais recursos e o aumento da capacidade investigativa; e reforçámos competências com a certificação em ESG da maioria da equipa e de quase todos os gestores.

A função de responsável ESG

Penso que a forma com devemos exercer a função de desenvolvimento de negócio é integrando o ESG também nas decisões, de gestão da oferta, de desenho de produto, na comunicação com os clientes e em todas as dimensões desta atividade.

Ainda que, como responsável da área de desenvolvimento de negócio e sustentabilidade, me tenha que dedicar a temas de desenvolvimento de negócio que possam não ter uma relação direta com o ESG, a verdade é que em 2022 houve poucas iniciativas de negócio a que me tivesse dedicado que não tivessem também uma forte componente de sustentabilidade. E acho que futuramente o ESG vai estar ainda mais presente em temas de business development, não menos.

As dificuldades

As dificuldades são de várias ordens. Em primeiro, o ESG é um domínio relativamente novo no mundo dos investimentos. E há uma grande curva de aprendizagem associada não só à novidade, mas também à complexidade deste espaço. Surgiu e continua a surgir a um ritmo elevado muita regulação nova, e standards técnicos extensos e difíceis de implementar.

Outra dificuldade são os custos elevados. A necessidade de integrar o ESG nas decisões de investimento veio elevar os custos com informação da sociedade gestora, pela necessidade de contratar vários serviços de informação especializados para poder analisar, gerir, e reportar baseado em informação ESG.

Comunicar sustentabilidade ou ESG com os clientes é também um grande desafio. É difícil tornar inteligível a informação que se presta, por exemplo agora nos anexos com informação de sustentabilidade dos prospetos, no formato exigido pelos RTS. É necessário haver um esforço de formação e aumentar a literacia ESG dos Clientes. Como sociedade gestora temos que avaliar que papel podemos desempenhar neste domínio.

Por fim, existem as dificuldades associadas a um típico processo de change management. As questões não-financeiras, não estavam no passado tão presentes no dia a dia das equipas e, ainda que já se tenham feito grandes melhorias. As questões ESG ainda não são tão naturais como as financeiras. Este será sempre um processo gradual que a área tem a responsabilidade de promover e desenvolver.

As vantagens

Ter uma área com recursos em dedicação exclusiva aos temas da sustentabilidade e do ESG tem sido uma prática da generalidade das gestoras a nível internacional (significa que a generalidade das gestoras veem vantagens na sua criação). Do nosso ponto de vista tem enormes vantagens.

A área que tem a responsabilidade da sustentabilidade deve funcionar como impulsionador do tema ESG para as restantes áreas. Com dedicação exclusiva, é uma atividade permanente que não permite que se deixe esquecer o tema, e que se promova a discussão regular de matérias de sustentabilidade nas reuniões de direção, bem como outros fóruns onde pessoas dedicadas à sustentabilidade marcam presença.

Havendo uma disseminação das responsabilidades em ESG, a existência de uma área com a responsabilidade específica do tema leva a que esta se incumba da gestão de projetos ESG, promovendo a articulação das diversas áreas, e tendo o ownership de iniciativas ligadas ao ESG.