Apesar da baixa remuneração, os depósitos continuam a crescer!

Carlos Bastardo
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

É impressionante que o valor dos depósitos nos bancos continue a aumentar, mesmo que os bancos nacionais sejam dos que menos remuneram os depósitos a prazo na Europa.

Existem melhores alternativas aos depósitos a prazo atendendo ao risco e à liquidez, como, por exemplo, os certificados de aforro, indexados à Euribor a três meses que em janeiro proporcionam uma taxa de juro bruta de 3,088%, os juros vencem-se de três em três meses e são capitalizados.

Existiam à data de 30/11/2022 cerca de 182,3 mil milhões de euros em depósitos no sistema bancário, mais 200 milhões de euros que em 31/10/2022 e mais 5,8% face ao mês homólogo de 2021.

É de facto impressionante o imobilismo de uma importante parte dos portugueses em manterem aplicações com uma rendibilidade abaixo do que seria justo no atual ciclo de taxas de juro (em alguns casos, perto de 0%). Os bancos agradecem! 

É por este e por outros fatores que o nível de literacia financeira neste país tem de melhorar. 

Os portugueses com condições para poupar, têm de diversificar / segmentar as suas aplicações em função da margem necessária para despesas extraordinárias que possam ocorrer no futuro; dos diferentes horizontes temporais de investimento; e do risco que percebem e/ou que estão dispostos a assumir.

Mesmo com a subida rápida da Euribor e de acordo com os dados do Banco de Portugal, o valor dos empréstimos à habitação foi de 100,2 mil milhões de euros em 30/11/2022, mais 100 milhões de euros que no mês anterior. O crescimento mensal está a desacelerar nos últimos meses. Mesmo assim, o valor em 30/11/2022 representa um aumento de cerca de 4% face ao mês homólogo de 2021.

Relativamente ao crédito ao consumo, o valor em 30/11/2022 era de 20,7 mil milhões de euros, cerca de 5,8% acima do verificado um ano antes. O valor não registou alteração face ao mês anterior.

O crédito às empresas estava em 30/11/2022 nos 75,9 mil milhões de euros, menos cerca de 200 milhões de euros que no mês anterior e cerca de 0,8% acima do valor um ano antes.

Ou seja, o crédito às famílias continua a registar um maior crescimento que o crédito às empresas, quando o desejável seria o contrário.

Aliás, a taxa de poupança das famílias desceu significativamente e está em mínimos históricos. Era de 7,75% em setembro de 2021 e baixou para 0,24% em setembro de 2022 (13,4% na zona euro). Esta quebra da taxa de poupança das famílias portuguesas está diretamente relacionada com o recurso e utilização da mesma para fazer face à subida do custo de dívida.

Esta evolução da poupança das famílias em cenário de desaceleração económica ou mesmo recessão é bastante preocupante. 

A previsão de crescimento do número de falências de empresas este ano é de 20% a 30% segundo alguns analistas. As causas desta evolução são: a subida dos encargos financeiros das empresas motivados pela subida das taxas de juro e dos spreads de crédito; uma menor procura de bens e serviços e um aumento do nível de incobrabilidade relativo a dívidas de clientes.